Paper Mario: The Origami King

Análise Paper Mario: The Origami King

Toda a saga Paper Mario sempre teve uma missão complicada. Os puristas dos videojogos, aqueles que afirmam tudo saber sobre eles e que pensam ter legitimidade para tudo criticar e por em causa nunca foram fãs. Jogos anteriores que acabaram por atingir estatuto de ícones como o orginal Paper Mario para a Nintendo 64 ou o venerado Paper Mario: The Thousand-Year Door para a Gamecube são ainda obras que marcam a infância de muitos, sendo a base do carinho que cresce pelos Role-Playing Games.

A série teve uma transformação aquando das suas interações na pequena Nintendo 3DS, criando jogos claramente mais acessíveis, mantendo o charme que a empresa nipónica sabe dar ao seu amigo canalizador mais lucrativo.

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E é neste ponto de dúvida que chegamos a Paper Mario: The Origami King, primeiro jogo de inspiração nos já referidos anteriormente e que serve definitivamente para desequilibrar a balança entre aqueles que defendem o purismo de um RPG verdadeiro e os que pensam que a saga Paper Mario pode ser mais que isso, agradando a mais do que essea franja de jogadores.

Para onde tombará este duelo? Será apenas Paper Mario: The Origami King mais um papel amarrotado que pertence ao cesto azul da reciclagem ou será que estas inovações poderão através dumas dobras adicionais transformar esta minhoca esquecida e ostracizada numa linda borboleta de papel-maché que merece o nosso respeito, tempo e dinheiro?

Tantos anos depois, o papel amarrotou?

Por estranho que pareça, o origami era a evolução natural para Paper Mario: The Origami King, numa série de títulos que começava a ficar com os seus cantos amarelados pela repetição e pela falta de novidade. Mas as novidades não começam na origem de tudo. A história começa por mais um rapto da princesa mais raptada de sempre pelo autointitulado rei Olly, que transforma também todas as criaturas deste universo em versões dobradas deles mesmos. O castelo de Peach acaba por desaparecer também, sendo descoberto rapidamente que está envolto em fitas de diversas cores, cada uma correspondente a um mundo dominado por Olly, sendo Mario e a sua fiel assistente e irmã de Olly, Olivia, os nossos obreiros para os libertar de todo este mal em forma de dobras adoráveis. Inovação? Talvez não seja por aqui, mas há claramente uma tentativa de mudar e tornar estes mundos muito desejados de exploração. A temática origami domina e atribui uma beleza a todos os pequenos pormenores. Parece tudo igual a jogos anteriores, mas não o é realmente.

Alegria dobrada que se vê e ouve

A estética de Paper Mario: The Origami King é um regalo para os olhos ávidos de cores e de pequenos segredos para descobrir por toda a parte, seja uma pequena flor que depois de levar um toque à marretada se transforma num útil Toad, buracos que se enchem com confettis premiando o jogador, blocos com o icónico ponto de interrogação que escondem por todo o lado, inimigos de sempre a lutarem com Mario contra um inimigo comum… Cada área deve ser bem explorada, pois há sempre dezenas de pequenos segredos deste tipo que acabam por homenagear, de uma forma ou outra, a saga Mario. Há inúmeros Toads por descobrir e há sempre mais um ponto de interrogação num sítio que parece inacessível e que impele o jogador a procurar uma forma de lá chegar, sem que se sinta forçado a fazê-lo. As recompensas para a exploração são úteis, pois podem ser armas melhoradas, melhorias da saúde da personagem e ainda alguns itens que podem facilitar a progressão no jogo, que só se usam se os ativarmos num dos menus completos que nos são apresentados com todo o tipo de informação.

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Paper Mario: The Origami King é bonito, convida à exploração e, apesar dos seus visuais agradarem certamente mais a uma franja jovem da população, é claramente um jogo de que todos podem usufruir numa bela e divertida experiência.

Paper Mario: The Origami King

O senhor dos anéis

Os fatores que mais acabam por dividir os jogadores na sua opinião generalizada em relação a toda a experiência que Paper Mario: The Origami King representa são claramente a ausência de mecânicas que nos habituámos a ver neste RPG-light e o modelo de combate que vai contra tudo o que foi feito nesta série. Abordemos ambos.

A falta de elementos RPG pode ser encarada como uma desilusão ou uma benção. Depende do quanto se está investido em verdadeiros RPG’s de renome, esses sim, os verdadeiros consumidores de mentes e de horas. É entendível que, com a ausência de estatísticas de evolução, todas as batalhas que possam ser evitadas, em todo o jogo, representam tempo que se poupa, porque há uma certa desvirtuação do género: se não há a possibilidade de evoluir as personagens ou alcançar melhores formas de derrotar os inimigos através das batalhas, qual a necessidade de as travar? Mas é aqui que a dúvida se lança: quando alguém adquire Paper Mario: The Origami King está genuinamente interessado nas suas ligeiras tendências RPG que marcaram jogos anteriores? O que não faltam são opções mais sólidas e consistentes no mercado para debelar esta falta de jogos desse tipo, que se incluem nessa categoria. Claramente uma crítica desnecessária.

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A Intelligent Systems trouxe mais uma inovação para Paper Mario: The Origami King, que envolve o sistema de batalhas. As arenas onde acabamos por combater contra os inimigos dobrados estão agora colocados em grelhas circulares e nós no centro dessa grelha, onde vamos ter que os posicionar num número limitado de movimentos para que possamos depois atacá-los, tudo isto com um tempo também ele diminuto. E esta inovação em forma de puzzle nas batalhas traz uma nova vida que já se justificava a um modelo batido de saltar no tempo certo para retirar mais pontos de vida aos inimigos. A temática do timing permanece, mas só depois de tentarmos colocar todos os inimigos nas melhores posições na tal grelha circular, para que possamos atacá-los com mais força. Esta forma de combate começa simples, mas avança para formas mais complexas, que compelem o jogador a querer sempre procurar a posição perfeita dos inimigos, mas vai-se tornando mais complicado, apesar de podermos contar com a ajuda dos Toads que vamos salvando de dobragens por todo o mundo do jogo, com o custo de algumas moedas, claro…

E tudo volta a mudar nas lutas com os bosses, quando são acrescentadas algumas variantes nos retângulos das grelhas, como HP, armadilhas, ativação de golpes especiais… Todas as lutas com bosses exigem estratégias diferentes, pois cada um deles é único. São claramente as mais desafiantes e as mais divertidas, embora se possam preparar para algumas serem bastante longas se a estratégia utilizada não for a correta. Mas tudo bem, a Olivia está lá para ajudar. O nível de dificuldade somos nós que o definimos; as ajudas estão lá nas diferentes batalhas, agora se o jogador as quer usar… Preparem-se para combates épicos contra material escolar!

De piadas secas está o reino cheio

O diálogo e a construção de narrativa na saga Paper Mario sempre foi divertida, apesar de estar cheia de lugares comuns. Paper Mario: The Origami King não foge à regra, mas não há mal nenhum nisso. O dia que não houver uma linda Princesa adorada para salvar será o dia que este tipo de RPG leves deixa de existir. Os diálogos continuam a ser do melhor que podemos encontrar no jogo. Cheio de piadas secas, de pequenos segmentos de história que se adquirem sobre alguns companheiros de aventura que se vão cruzando com Mario, e alguns deles tornam-se até emocionantes e de enternecer, com pequenos pedaços de diálogo que acabam por fazer refletir. Isto sim é algo que não estamos habituados a ver por aqui. Todo este mérito da escrita é dada, claro, ao feito original pela Nintendo, mas de referir e dignificar a ótima tradução para a língua inglesa, que tudo faz para manter a fluência da narrativa engraçada e cheia de astúcia. Claramente tem-se uma narrativa que tem como alvo aquele de riso e choro fácil em iguais medidas.

Considerações finais

Paper Mario: The Origami King não vai agradar a todos, é certo. Mas pensemos: qual é o jogo que consegue essa unanimidade de perfeição? As críticas feitas têm o seu sentido, como a retirada de todos os elementos RPG que sempre pertenceram à saga Paper Mario, bem como o por vezes complexo e frustrante novo sistema de combate, que faz com que o jogador tenha que pensar um pouco mais do que costumava fazer no último par de jogos; o rudimentar clicar no botão certo na altura certa ainda lá continua, mas é antecedido da melhor inovação que este jogo podia trazer nesta altura: desafio e fazer pensar.

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A beleza estética, que é já uma marca positiva do franchisado, bem como a sua liberdade, a introdução de certas masmorras com exploração tipo Zelda, o humor e linguagem sempre presentes, de efeitos sonoros e música que agradarão a todos, A interação diversificada em tudo o que encontra neste enorme mundo dobrado e colorido é um prazer daqueles que ninguém se pode envergonhar, mesmo que pareça alegre e infantil demais.

Esta é a marca definitiva da Nintendo para Mario e comparsas. O que não faltarão serão opções para RPG’s interessantes e detalhados. Deixemos este divertido e adorável jogo seguir o seu caminho, e quem conseguir ultrapassar as suas infindáveis expectativas vai ser surpreendido e vai adorar este pequeno grande mundo de origami.

nota 4

Apesar das críticas, Paper Mario: The Origami King é um deleite para quem esperava por mais uma aventura de papel do canalizador favorito na Switch. Perfeito nas suas imperfeições, como um bom origami que tem sempre mais uma surpresa com que nos brinda. Incrível

+ Sistema de combate inovativo, principalmente nos bosses

+ Beleza musical e de cenários que vale a pena desdobrar

+ Escrita e personagens cheios de piada(s)

– Falta de elementos RPG

– Pouco desafiante

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N.R.: A análise a Paper Mario: The Origami King foi realizada numa Nintendo Switch com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente disponibilizada pela Nintendo Portugal.