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Será o Dash melhor do que o Bitcoin?

As últimas semanas têm sido intensas para o segmento das criptomoedas, muito à boleia da situação do Bitcoin. A divisa digital está imparável e quebrou recentemente a barreira dos onze mil dólares de valor por cada unidade. Uns falam no maior esquema piramidal de sempre, outros falam numa verdadeira revolução que vai matar a banca, outros só estão preocupados com a influência que o blockchain vai ter no mundo do futuro.

Já aqui vimos que criptomoeda não é necessariamente sinónimo de Bitcoin. Há vários projetos que pelo seu potencial têm atraído o interesse de programadores, investidores e meros entusiastas das divisas digitais, casos do Ethereum e do Ripple.

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Entre as principais criptomoedas dos últimos anos também tem figurado o Dash, um projeto que nasceu com o intuito de ser uma alternativa muito mais válida do que o Bitcoin enquanto sistema totalmente digital de transações financeiras. À medida que o Bitcoin aumenta de valor, mais pessoas começam a pensar nas restrições da tecnologia inerente – e à medida que mais pessoas fazem isso, mais pessoas começam a perceber o potencial do Dash.

Não é por isso de espantar que ontem, 30 de novembro, a moeda tenha atingido o seu valor mais alto de sempre: chegou a valer 826 dólares por unidade. Se o gráfico de evolução do valor do Bitcoin é vertiginoso, o gráfico do Dash começa a ganhar contornos semelhantes.

Dash gráfico evolução

À hora de publicação deste artigo todo o mercado de Dash valia 5,99 mil milhões de dólares, fazendo desta criptomoeda a quinta mais valiosa em termos globais. Nas últimas 24 horas foram transacionados 342 milhões de dólares em Dash, pelo que definitivamente não estamos a falar de um projeto de ‘tostões’.

Mas afinal o que é o Dash? Por que razão é a nova estrela cintilante entre as criptomoedas? Em que sentido o Dash é melhor do que o Bitcoin?

Um passado atribulado

Quando nasceu em janeiro de 2014, o Dash ainda não era Dash. O projeto nasceu primeiro com o nome Xcoin, nome que foi alterado para Darkcoin logo no mês seguinte. Foi sob a definição de Darkcoin que o conceito começou a ganhar a atenção da comunidade de criptomoedas e também da imprensa.

O Darkcoin prometia ser uma alternativa muito mais privada do que o Bitcoin. Este argumento por si só foi suficiente para que no espaço de três meses o valor de cada unidade da moeda passasse de 70 cêntimos para sete dólares. Enquanto no caso do Bitcoin o registo de transações é público, mesmo que não haja uma identidade associada aos endereços, com o Darkcoin isso não acontecia.

“Uma grande parte da comunidade acredita que a forma como o blockchain do Bitcoin está desenhado é um problema”, disse o criador da Darkcoin, Evan Duffield, em entrevista à Wired em 2014. O especialista na altura já estava convencido que o seu projeto acabaria por ser recebido como uma forma de pagamento muito melhor do que o Bitcoin, bastando apenas que existisse uma maior validação do mercado em si.

“Apenas estamos à espera disso. Quando acontecer, vai levar a todo um novo nível de apreciação”.

As previsões de Evan Duffield estavam corretas. A moeda começou de facto a ganhar maior tração e o seu valor foi conhecendo uma evolução positiva ao longo dos meses. Sim, a moeda também sofreu os seus crashes pelo caminho, mas à semelhança do que acontece com o Bitcoin, não são essas quebras de valor que afastam os crentes no potencial do projeto.

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Se Darkcoin era sinónimo de anonimato, Darkcoin também passava a mensagem de algo com uma conotação negativa, provavelmente associada a atividades ilícitas.

“Recentemente ficou claro que a marca Darkcoin era uma barreira no nosso caminho, então para concretizarmos a nossa grande missão, decidimos que uma alteração de marca era necessário. Efetivo a partir de hoje [25 de março de 2015], o Darkcoin passa a ser Dash, que é um sinónimo de Digital Cash (dinheiro digital em tradução livre)”, pode ler-se no blogue do projeto.

Com uma marca muito mais comercial, muito mais neutra, o Dash estava pronto a captar o interesse de muitas mais pessoas. Para isso o projeto esperava contar com a ajuda de outras características únicas além da questão do anonimato: transferências instantâneas, sistema mais equilibrado de incentivo relativamente à distribuição de moedas e operar o Dash como uma verdadeira organização descentralizada.

Democracia descentralizada

Enquanto o Bitcoin tem uma camada de descentralização, que é garantida por todos os mineiros que através dos seus sistemas de processamento ajudam a validar as transações que são feitas naquela rede, o Dash apresenta duas camadas de descentralização.

Além dos tradicionais mineiros, também existem os chamados MasterNodes (Nós-mestre em tradução livre). Estes nós, na prática, são servidores que estão a trabalhar para a rede e que ajudam a responder ao desafio da escalabilidade – quantos mais nós existirem, mais robusta será a rede e à medida que o Dash vai ficando mais valioso, mais pessoas vão querer ser um Master Node nesta rede. São também os nós que garantem as transferências anónimas (PrivateSend) e as transferências instantâneas (InstantSend), duas das principais funcionalidades do Dash.

Suportar um nó tem custos, pois implica um IP dedicado e uma máquina que esteja operacional 24 horas por dia. Qual a vantagem de ser um nó? As unidades de Dash que são produzidas fruto dos processos de validação de transações, são depois distribuídas da seguinte forma: 45% vão para os mineiros, 45% vão para os MasterNodes e os restantes 10% são guardados para posterior investimento no sistema.

O diretor jurídico do Dash, Fernando Gutierrez, passou por Lisboa há algumas semanas a propósito da Blockspot Conference e disse que ao valor de então, a rondar os 450 dólares, cada MasterNode estava a gerar 300 dólares por mês de lucro para os seus donos.

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Qualquer um pode criar um MasterNode, mas tem de fazer um investimento: tem de ter mil ou mais Dash numa carteira digital. Este dinheiro pode ser gasto, mas se em algum momento baixar dos mil Dash, então esse utilizador perde o estatuto de MasterNode. Isto significa que atualmente, se alguém novo quisesse ser um Master Node, teria de investir perto de 800 mil dólares.

O valor parece ridículo, mas faz parte de um sistema equilibrado de democracia. Isto porque além de assegurarem a estrutura e as funcionalidades básicas da rede, os MasterNodes têm alguns privilégios. São os MasterNodes que decidem quais as novas implementações tecnológicas que são feitas na tecnologia do Dash.

Sempre que há uma votação, é criado o chamado Quorum MasterNode. Este quórum é constituído por nós-mestres que são selecionados de forma aleatória dentro do número total de nós-mestre que existe naquele momento, sendo que é a esses nós-mestre que cabe a decisão de voto. A proposta que tiver mais votos é aquela que avança.

Fernando Gutierrez assegurou que dada a quantidade de MasterNodes que existem atualmente – cerca de 4.700 espalhados por todo o mundo -, é praticamente impossível alguém conseguir ter aleatoriamente selecionados cinco dos seus MasterNodes por exemplo, o que condicionaria a votação.

Depois o sistema também é democrático na medida em que qualquer utilizador do Dash pode submeter uma proposta para ser avaliada – a única condicionante é pagar 5 Dash na submissão dessa proposta, dinheiro que é devolvido se for aprovada. Este mecanismo foi criado para incentivar apenas contributos positivos e evitar tentativas de golpe na rede, pois mesmo que alguém submeta a proposta, esta ainda tem de ser votada pelos MasterNodes.

Durante a sua passagem por Portugal, Fernando Gutierrez disse que existiam cerca de três milhões de dólares num fundo financeiro para atribuir aos melhores projetos que ajudem a evoluir a tecnologia do Dash. Este dinheiro tem origem nos tais 10% que são colocados de parte sempre que um novo Dash é gerado e estão alocados ao desenvolvimento tecnológico do projeto. O dinheiro também serve para pagar à equipa de desenvolvimento do Dash, que atualmente concentra cerca de 50 pessoas.

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Este investimento contínuo já permite que atualmente cada bloco de informação da rede do Dash tenha dois megabytes do tamanho, o que é o dobro daquilo que a rede de Bitcoin permite atualmente. Além disso, o Dash foi projetado para poder crescer até blocos de 400MB a cada dois minutos e meio, o que deverá ser suficiente para assegurar um serviço de pagamentos baseado em criptomoedas tão eficiente como aqueles que são garantidos pela Visa e Mastercard relativamente ao dinheiro mais ‘tradicional’.

Além de garantir transações quase instantâneas e de assegurar uma rede muito menos congestionada, tudo isto significa que os custos por transação também podem manter-se mais baixos, algo que vai aumentar sucessivamente no Bitcoin se não houver melhorias tecnológicas.

Pelo que até aqui foi dito, a tecnologia que sustenta o Dash ganha em vários aspetos à tecnologia que sustenta o Bitcoin. Mas a verdade é que em termos de criptomoedas o valor também conta bastante e nesse nível de análise o Bitcoin leva uma grande vantagem, fruto de ter sido pioneiro e de ter cinco anos de mercado de avanço para o Dash.

A questão é que o Bitcoin foi desenhado para ser um sistema descentralizado de pagamento e apesar de cumprir a sua tarefa, parece não ter condições para cumpri-la quando esta necessitar de uma escala muito maior. Em certa medida, a questão do grande valor do Bitcoin também começa a ser um problema para a moeda, pois existem cada vez mais grupos de interesse – daí a existência recente de duas bifurcações no Bitcoin que deram origem a duas novas moedas.

Como foi salientado recentemente pela publicação Brave New Coin, o Bitcoin enquanto garantia de valor está a tornar-se mais importante do que o Bitcoin enquanto ferramenta de transação. É esta mudança de paradigma que pode ajudar o Dash, não a destronar o Bitcoin, mas a fazer-lhe frente como o rival mais competente.

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