Análise Gran Turismo Sport: O nível de exigência está a aumentar

A história de Gran Turismo começa em 1997 com o lançamento do primeiro título da franquia, na altura para a Playstation original, sobre a alçada do estúdio Polys Entertainment que um ano mais tarde, em 1998, teria o seu nome alterado para aquele que ainda ostenta atualmente, Polyphony Digital.

Mas a minha ligação a Gran Turismo começou apenas em 2005 quando me aventurei ao ‘volante’ da Playstation 2 e tentei controlar aquele que à data era o mais realista dos videojogos ligados ao desporto automóvel – Gran Turismo 4. Já em 2013 juntei alguns amigos na sala lá de casa e assistimos pela primeira vez ao vídeo de abertura de Gran Turismo 6, amigos esses que nos últimos anos tinham estado comigo a desfrutar os prazeres da condução em Gran Turismo.

Este ano não juntei amigos na sala, mas podemo-nos juntar todos aqui para desfrutarmos do vídeo de abertura de Gran Turismo Sport, o mais novo título da franquia criada por Kazunori Yamauchi.

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A fórmula de sempre e um piscar de olho aos eSports

Quatro anos passados do último título da franquia esperávamos uma grande evolução para este GT Sport, mas rapidamente percebemos que os criadores de Gran Turismo apostaram naquela velha máxima de ‘em equipa que ganha não se mexe’. Como em jogos anteriores temos o modo Escola de Condução, que nos permite aperfeiçoar a forma como manuseamos cada um dos carros em diferentes pistas e ambientes, e permite-nos também acumular alguns créditos e carros novos para adicionar à nossa garagem.

Outra forma de acumular créditos, experiência e mais carros é o modo de Desafios, onde somos postos à prova em diferentes situações de corrida, com diferentes modelos de carros e em diferentes dificuldades. É neste modo que começa a ser desenhada a principal arma de Gran Turismo Sport, o modo online. Embora este modo esteja disponível na campanha, existe um Friend-Ranking que nos permite comparar os nosso tempos com os dos nossos amigos na rede PSN. Este modo tem tudo para garantir competitividade e muita emoção.

Temos ainda o modo Circuito no qual podemos aventurar-nos nos melhores e mais desafiantes circuitos mundiais – se já é um mestre atrás do volante [leia-se comando], este é o modo ideal para si. Aventuramo-nos, por exemplo, em Nurburgring Nordschleife ao volante de um BMW M6 a conduzir no modo de dificuldade intermédio – a cada curva é possível sentir o carro a agarrar a estrada, ao sair de uma curva demasiado rápido é possível sentir o carro a fugir e os balanços da traseira enquanto volta à sua rota normal.

Crédito - Polyphony Digital / SIE
Gran Turismo™SPORT

Sofremos alguns percalços pelo caminho e ao entrar de volta na estrada, dado que estamos ao volante de um carro com um poder de arranque bastante forte, foi necessário fazê-lo com calma e sem carregar muito no acelerador.  A reta antes da última curva do percurso foi de um nível adrenalina que não esperava, quase que era possível sentir a velocidade a que o carro seguia. O sistema de vibração do comando DualShock 4 está muito bem interligado com Gran Turismo Sport e ajuda-nos a sentir cada curva, cada lomba… Cada momento de estrada. Descrição demasiado realista? Agradeça ao jogo.

Ainda no modo de campanha temos a opção ‘Etiqueta de corrida’ [Racing Etiquettes]. Aqui vamos aprender o ABC de um piloto profissional, desde o que significa cada uma das bandeiras até aos protocolos do Safety Car. Neste sentido o jogo cumpre o seu papel de simulador de condução ao mais alto nível, pois chega a fazer-nos sentir preparados para assumir um carro e uma pista a sério.

Todos os modos de jogo já referidos necessitam de ligação à internet para conseguir gravar o progresso no jogo, mas o serviço PS Plus apenas é necessário para as funcionalidades multijogador.

Esta é uma das novas armas, talvez a mais importante, de GT Sport: as competições multijogador onlineOs eSports têm crescido cada vez mais e os criadores de Gran Turismo Sport não são indiferentes a esta tendência. Se no passado tivemos os melhores de Gran Turismo 6 a treinar para conduzirem ao volante de um Nissan GT-R, agora é tempo de ter a primeira competição de e-racing certificada pela FIA.

O jogo, no modo Sport, vai contar com duas competições oficiais, a Nations Cup e a Manufacturer Cup. Qualquer pessoa pode participar e os vencedores serão apurados para finais que terão transmissão online. Se se considera um génio atrás do volante, pode tentar a sua sorte já a partir de 18 de outubro, data em que o jogo fica disponível.

Este é o corpo e alma de GT Sport, mas se a única coisa que quer é fazer umas corridas contra os seus amigos também o pode fazer online no modo Lobby, onde pode criar salas privadas para desfrutar do prazer da condução digital com os seus amigos ou mesmo offline. O modo Arcade é o único que será jogável sem ligação à internet e é aqui que pode encontrar modos de jogo para multiplayer local.

Passado presente

Gran Turismo 4 foi lançado no Japão em Dezembro de 2004 e chegou ao mercado europeu apenas alguns meses depois, em Março de 2005.  Os objetivos foram cumpridos e o jogo tornou-se num dos maiores marcos na evolução de simuladores de condução, mas faltava algo… Os carros eram indestrutíveis ao contrário do que o que se passava, por exemplo, em Burnout 3: Takedown, lançado um ano antes – ainda que não se apresentasse na mesma categoria de jogo, o cenário de destruição automóvel era avassalador. Os anos passaram e em 2013 o mesmo aconteceu, Gran Turismo 6 apareceu e os carros continuaram a bater em muros a velocidades de 300 km/h e acabar as corridas apenas com uns ‘arranhões’.

Posso dizer que não fui surpreendido, mas era dos elementos que mais curiosidade tinha em experimentar. Mal o jogo abriu, fui direto a modo Arcade, escolhi o bólide e lá fui eu ao volante de um Audi R8 numa pista de NASCAR, sem fazer qualquer curva. Depois da primeira volta os arranhões estavam lá e até algumas amolgadelas, mas o pára-choques estava no sítio e nem um espelho tinha perdido.

Vivemos numa época em que os consumidores são cada vez mais exigentes e têm um forte apetite por experiências realistas. Posto isto desta forma: Gran Turismo; Sony; Polyphony Digital e Kazunori Yamauchi, talvez estivesse na hora de nos deixar destruir os carros, nem que fosse num modo próprio, como se estivéssemos de facto numa corrida NASCAR? Ainda para mais tendo títulos como Project Cars 2 a fazer concorrência direta ou mesmo Forza 7? Num simulador como Gran Turismo não é o mais importante, mas seria algo bem-vindo. 

A indústria  do gaming está numa fase em que precisa de ouvir os seus consumidores e por vezes ceder para que as vendas acompanhem as expectativas. A concorrência pelos jogos de corridas está mais forte do que nunca, portanto cada elemento diferenciador pode ser crucial para a boa receção de um jogo.

Detalhes do dano causado – Gran Turismo™SPORT

Renault Clio ≠ Audi R8

A experiência de condução é a imagem de marca de GT Sport. É aqui que nos apercebemos do verdadeiro potencial do título, diríamos até que é mais que um jogo… é uma ferramenta de aprendizagem. Numa altura em que temos um mercado sobrelotado de ofertas, algumas ao mesmo nível ou até um pouco superiores a GT Sport, o título exclusivo para a Playstation 4 continua a ter na condução difícil, mas realista, o seu ponto forte.

A fórmula encontrada para esta diferenciação, claramente necessária, foi o nível de detalhe na condução e é aqui que a nova física presente no jogo se faz sentir. Toda a experiência dentro do cockpit está a um nível elevadíssimo, desde o som, passando pelo controlo do carro, diferenças que se sentem de veículo para veículo. O nível de som dentro do carro é de um detalhe assinalável, é possível perceber quando o carro muda de mudança, quando estamos a utilizar o turbo ou mesmo se estamos a travar de forma mais agressiva.

Gran Turismo™SPORT – Detalhes

Este som só é estragado pela música eletrónica que se vai fazendo ouvir, mas para ser sincero quem é que quer estar ao volante de um supercarro e ouvir música? Passadas três voltas e desligamos o rádio – agora sim, estávamos a disfrutar de tudo o que GT Sport tem para nos oferecer.

Na condução comece por um Ford Focus ST ou um Renault Clio Sport, para se habituar ao asfalto. Caso se aventure, sem experiência, ao volante de um bólide como um Audi R8 ou um Ferrari 458 Italia a adrenalina até pode ser outra, mas o número de peões dados ao tentar fazer uma curva mais apertada também.

A nossa escolha recaiu num Audi R8 e meu dito, meu feito,a primeira curva foi uma primeira saída de estrada. Tentar arrancar, outro pião. Depois de alguns ‘Tente Novamente’ lá conseguimos uma volta digna de ser partilhada convosco. Acreditamos que uma das melhores formas de perceber se um jogo é digno de investimento ou não é ao ver o que esse jogo tem para dar. Aqui fica uma das nossas voltas ao volante do Audi R8.

Poucos, mas bons

Embora o número de carros em GT Sport seja inferior ao de títulos anteriores, isto é simples de explicar. Como o nome indica, GT Sport só apresenta carros de competição ou modelos desportivos de carros de estrada. Embora isto o possa afastar de Gran Turismo Sport é preciso ter em conta que também não é qualquer carro que vai participar num rally ou numa outra prova do desporto automóvel. São precisos carros refinados, com atenção dada a todos os detalhes e é isto que acontece com o novo Gran Turismo.

Não há muito a dizer, pelo menos que seja surpresa, sobre o nível de detalhe dos carros em Gran Turismo Sport. O nível de detalhe dos carros é extraordinário, tanto no interior como no exterior dos mesmos. É possível perceber as diferentes texturas do cockpit e todos os detalhes estão representados. As nossas ações no comando são exatamente correspondidas pelo piloto digital no carro. O jogo corre a 60 frames por segundo, tirando proveito máximo das definições da PlayStation Pro, os detalhes são mais que suficientes para valer a pena experimentar este título.

Para além da falta de ‘destruição’ nos carros que referimos anteriormente, o único elemento que podemos apontar como negativo no grafismo do jogo são as paisagens. Numa consola como a PS4 Pro [é importante referir que a nossa análise foi feita numa PlayStation 4 Pro com acesso a um ecrã 4K], com o nível de detalhe que já nos consegue apresentar, estávamos à espera de algo bastante superior. Enquanto conduzimos as paisagens naturais parecem retiradas de um livro de colorir quando se deviam apresentar mais perto do nível de uma fotografia em HDR.

Embora, como referido, a verdadeira experiência de Gran Turismo esteja presente no realismo da sua condução e no detalhe dos carros voltamos a fazer a mesma pergunta: quatro anos depois não dava para evoluir um pouco mais?

Dentro do jogo existe um modo do qual ainda não falamos, chamado Scapes. Este modo é uma autêntica máquina fotográfica profissional que lhe permite fotografar os carros presentes na sua garagem virtual em várias localizações espalhadas pelo globo. Entre as várias localizações que podemos escolher neste modo temos países como Itália ou o Japão, cidades como Paris ou o estado do Arizona nos Estados Unidos da América.

Quando dizemos que podemos fotografar o nosso carro, é disso mesmo que se trata. Escolhemos um cenário e um ou mais carros, posicionamos o carro onde queremos e ligamos ou desligamos os faróis. Adicionamos um condutor ou deixamos o carro vazio, dependendo dos nossos gostos. Depois, o que o jogo faz é sobrepor o carro escolhido na posição que pretender a uma fotografia real do cenário escolhido. Depois de alterar a exposição, velocidade de disparo ou até o ponto de focagem basta carregar no botão de disparo et voilà, tem a sua imagem que pode partilhar com os seus amigos ou guardar apenas para si.

Para ficar deslumbrado com o modo Scapes, veja a nossa galeria de imagens. Qualquer paisagem familiar é pura coincidência.

Paris
Faro
Torre de Belem
Lisboa
Lisboa
Porto

Considerações finais

Gran Turismo Sport não é o jogo perfeito, até porque quatro anos depois esperávamos mais tendo em conta que o tempo de lançamento entre jogos de automobilismo é relativamente baixo. Basta para isso ver a franquia de Project Cars onde o primeiro título foi lançado em 2015 e dois anos depois temos um segundo título com diferenças notórias.

Mas é Gran Turismo Sport o título que mais se aproxima do patamar de simulador, deixando os ‘simples’ jogos numa liga diferente. Esta afirmação é forte, mas não foi à toa que GT Sport foi escolhido pela FIA para apresentar ao mundo a primeira competição oficial de e-racing. No que se trata a reproduzir numa consola o realismo da condução de alta competição e a voracidade dos carros, nesse campeonato o exclusivo da Sony ainda tem a pole position.

Caso este seja um dos jogos no seu carrinho de compras, aumente o volume e acelere sem nunca esquecer das normas de segurança, porque sim as penalizações e desclassificações existem e GT Sport usa-as na medida certa. Caso seja desclassificado não se chateie, faça uma pausa e passe por  aqui também para nos deixar a sua opinião.

N.R.: Gran  Turismo Sport foi analisado com uma cópia do jogo disponibilizada pela Sony Interactive Entertainment Portugal antes do lançamento final do título.

Gran Turismo Sport
Reader Rating13 Votes
8.6
Graficos de elevado nivel em todos os carros
Sons realistas
Competições oficiais FIA
Paisagens naturais pouco detalhadas
Pouca escolha de pistas
Carros praticamente indestrutiveis
8.5
EM 10
André Oliveira Santos: Licenciado em comunicação, a trabalhar em fotografia. Sempre tive um gosto especial e uma grande paixão por gadgets, videojogos e novas tecnologias no geral.
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