Freedom Planet 2 – Análise

Freedom Planet 2 é o Sonic dos tempos modernos. Talvez seja um pouco exagerada esta comparação, mas não totalmente descabida. Sabemos bem que as sequelas são sempre complicadas, ainda por cima quando as separam quase oito anos. Duas situações paradoxais poderiam levar ao fracasso: ou seria apenas mais do mesmo, sem grandes inovações, em nada justificando este hiato temporal, ou poderíamos ter uma aventura desgarrada, cheia de pedaços que todos juntos não formariam uma obra coesa e que fizesse jus ao original. Ainda bem que nenhuma das situações anteriores acontece.

Assim sendo, Freedom Planet 2 é um jogo de plataformas tal como o original, que deve ser jogado o mais rápido possível. Contudo, ao contrário do ouriço azul que apenas saltava na era 16-bits, aqui temos controlos que exigem alguma habituação e paciência. É fácil sentirmo-nos desencorajados inicialmente, pois são muitas mecânicas para algo que se quer jogado a alta velocidade. A curva de aprendizagem é acentuada, mas justa e recompensadora.

Todas as etapas de mundos variados demoram inicialmente entre oito a dez minutos a serem percorridas, mas a obra pede-te que as repitas e esse tempo vai ser certamente reduzido para metade.

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Com quatro personagens jogáveis, Neera, Lilac, Milla e Carol, todas com as suas vantagens e fraquezas e que precisam de prática, repetição e erro para as conseguir dominar, todas pedem tempo investido. Aliás, há certas locais de cada nível que só podem ser acedidos com aquela personagem específica. Temos as personagens-tanque, umas mais móveis e rápidas, umas têm um poder de salto impressionante, mas infligem pouco dano nos inimigos, outras ainda têm muita capacidade de absorver os ataques, mas precisam de golpear/disparar quase à queima-roupa para destruírem quem se lhes mete no caminho.

No que diz respeito ao enredo, que talvez seja o aspeto menos bem conseguido, fala sobre colonização e as agruras de quem a vive e é surpreendentemente complexo. Poderia limitá-lo aqui numa frase, mas este é um caso do “segredo ser a alma do negócio”. Apesar da estória ser algo básica, a melhor forma de saber mais sobre a mesma é mesmo tentar colecionar o máximo de cápsulas de tempo, porque o lore é muito interessante. Aliás, supera em muito a premissa principal de Freedom Planet 2.

Tentar, morrer, repetir e ver as vistas

Este jogo de ação com combates e plataformas a mil à hora permite que diferentes estilos permitam repetir cada área com desafios e até atalhos diferentes. Por exemplo, é possível congelar inimigos numa certa ordem para que sirvam de escadas para uma área até aí inacessível. Ou até conseguir com uma personagem dar um pequeno impulso extra num salto usando projéteis dos inimigos. A experimentação é muitas vezes recompensada.

Vou com pelo menos treze horas, o que por si já justifica bem o preço desta obra. Agora podemos multiplicar este tempo por quatro personagens, com mecânicas e movimentações diferenciadas. Mais: existem imensos segredos bem escondidos que fazem valer a pena a quem os procura ou simplesmente para dar dores de cabeça ao complecionista dentro de nós. Mais desafios? Ora bem, a procura incessante em cada nível do rank S, que exige nada menos do que a perfeição. Assim sendo, o que não falta por aqui são desafios à medida de cada perfil de jogador.

Para além das suas mecânicas e das formas de jogar distintas, as quatro personagens têm cutscenes específicas em certos momentos da estória, o que demonstra bem o trabalho feito por esta equipa reduzida que produziu o jogo, acrescentando a si valor em cada pormenor.

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Mas o que realmente motiva a jogar não é a procura da perfeição. Freedom Planet 2 é muito, muito bonito! A arte pixelizada não fica atrás das outras estrelas 16-bits do nosso passado e presente. As quatro personagens principais são muito expressivas, bem como os inimigos e todos os NPC’s que vamos encontrando ao longo do caminho. Há imensa variedade nos mundos, com imensos detalhes. Como é um jogo que motiva à rapidez, é fácil perdermos esses pormenores que se apreciam mais depois daquela primeira exploração desenfreada de cada área. Há que apreciar as diferentes obras de arte que o jogo nos proporciona com a calma que merecem.

O som é outro aspeto que brilha em Freedom Planet 2. Todas as faixas variadas que encaixam na perfeição em cada mundo, os efeitos sonoros de cada ataque, de cada inimigo e cada salto são muito bem conseguidos. O próprio voice-acting das personagens é super competente, dando uma voz às personagens já elas cheias de personalidade. Destaca-se neste aspeto a caracterização sonora do antagonista máximo do jogo, denotando alguns laivos de loucura!

Considerações finais

Freedom Planet 2 será certamente uma das melhores experiências Nintendo Switch deste ano para quem aprecie jogos de plataformas com ação e que sejam desafiantes. A pequena consola nipónica parece ser a plataforma perfeita para usufruir ao máximo de um jogo desafiante e que mimetiza outras experiências de outras décadas, mas que acrescenta valor a essas mesmas, seja com o lore, com as diferenças entre as personagens utilizadas, com a beleza visual e sonora que emana ou ainda com a possibilidade de se tornar um queridinho da comunidade de speedrunning.

Bem-vindo a casa, Freedom Planet 2!

Freedom Planet 2 é tudo o que o Sonic pensa alguma vez ser, mas não diz a ninguém.


+ Mundo e pixels lindos
+ Velocidade e combate unidos
+ Lore por descobrir interessante

– Trama simplista
– Curva de aprendizagem bem inclinada

N.R.: A análise a Freedom Planet 2 foi realizada numa Nintendo Switch com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela DECIBEL PR.

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
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