Game Builder Garage – Análise

Comecemos com um pequeno momento de introspecção: quem nunca, a jogar um título particularmente divertido e atraente, pensou “quem me dera conseguir fazer uma coisa destas”? Bem, impossível não é, certamente; desde que se possua o skillset necessário. Porém, se forem uma pessoa como eu, que muito dificilmente saberia por onde começar, as hipóteses de tal sonho se tornar realidade são, vá, aproximadas a nulas. 

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A pensar em pessoas com o quociente de inteligência aproximado ao de uma sola de sapato como eu, a Nintendo respondeu às preces de várias famílias (vá, se calhar, foi só à minha) e trouxe-nos Game Builder Garage: um jogo que não é um jogo, mas sim um software (que acaba por ser um jogo) que nos dá as ferramentas essenciais para aprender os básicos de game design e visual programming através de lições que nos ensinam, passo-a-passo, a construir o jogo que está preso no lobo frontal do nosso cérebro. 

Já não é a primeira vez que a marca japonesa nos presenteia com um amuse bouche neste estilo (um bom exemplo disso, é o Super Mario Maker, lançado em 2015), permitindo-nos, desde modo, a passar as nossas ideias para papel — ou para ecrã, se preferirem — sem ter que entrar por caminhos mais estreitos; como o domínio da programação necessário para construir o mais singelo indie.

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Em Gamer Builder Garage, temos a oportunidade de criar aquele jogo que a Nintendo nunca teve a coragem de tentar criar; podemos, até, pensando alto, criar o novo GOTY (pronto, se calhar exagerei; mas pode ser o GOTY do nosso coração). A idea aqui é que todo e qualquer tipo de jogo pode ser pensado e executado: seja ele plataformas, corridas, está tudo nas vossas mãos (e na vossa criatividade). O objetivo de Game Builder Garage é exatamente esse: passar-nos a faca e o queijo para mão, deixando completamente tudo a nosso critério, incitando, deste modo, a nossa inspiração a levar-nos a outros níveis. 

Os Nodon são nossos amigos

Tudo o que acontece no vosso jogo depende de um Nodon. E o que é um Nodon? São quatro na verdade; e, cada um deles, com uma personalidade completamente distinta. Eles estão lá para ajudar (a par e passo com as lições disponibilizadas), e ficará a cargo de toda e qualquer acção que pretendam que aconteçam dentro do vosso protótipo. Felizmente, existe também, à nossa disposição a Nodopedia, que nos ajuda a conhecer melhor estes pequenos e entusiásticos seres. Quanto melhor os compreendermos, mais fácil se tornará o desafio de criar jogos mais complexos.

Por vezes. podemos achar que determinada alteração é, à partida, fácil; e depois lá aparecem os nossos pequenos Nodons, que nos fazem chegar à conclusão que para arrastar um simples bloco de forma automática, precisaremos da ajuda de Nodons de, pelo menos, categorias diferentes. Mas, atenção, não desanimem: pode soar complicado, mas o próprio software está convosco a cada passo que tomem, para que o processo não seja moroso e repetitivo (ao ponto de querem largar a Switch no meio da garagem e nunca mais lhe pegar).

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Naturalmente, não é possível criar um Triple A através pequeno endeavour da Nintendo, uma vez que apesar de o potencial ser, efetivamente, ilimitado, a execução e a criação em si serão limitadas pelos mais variadíssimos motivos; sejam estes o facto de ser algo complicado criar um ambiente apelativo (apesar de existir um Nodon dedicado somente à criação de pixel art, com o auxílio de um stylus ou de um rato, para melhores resultados), mas também pelo facto de não existir, por exemplo, a opção de partilha dos jogos criados através da Nintendo Online.  

A imaginação, por vezes, tem os seus limites

Na realidade, há uma coisa que Game Builder Garage faz de uma forma irrepreensível: a de dar o devido valor a quem dedica o seu tempo e paixão a criar os videojogos que tanto nos entretêm. Não será equiparável a um jogo como Dreams, mas é, certamente, muito menos intimidante. Infelizmente (ou felizmente, para alguns), a grande maioria dos jogos que se podem criar em Game Builder Garage são bastante similares aos lançados para plataformas móveis. Se serão daqueles que parecem todos bastante suspeitos ou cheios de malware, bem, isso vai partir do que conseguirem fazer.

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Game Builder Garage é um óptimo ponto de partida para quem quer mergulhar o pé na água da criação de videojogos e nunca teve qualquer tipo de experiência, mas é importante manter as expectativas baixas. A probabilidade de criar um jogo perfeito na plataforma em si não é alta, mas poderá ser o suficiente para acender a chama e tornar o sonho de game developer para muita gente uma realidade. No entanto, nada como experimentar a demo.


+ Construção de níveis intuitiva
+ Várias lições para iniciantes disponíveis dentro do software
+ Liberdade criativa dentro da construção de um jogo

– Pouca diversidade de jogos passíveis de ser criados
– Não existir a possibilidade de partilhar conteúdo na rede Nintendo Online
– A execução de determinados objetivos pode ser complicado ou até impossível

N.R.: A análise a Gamer Builder Garage foi realizada numa Nintendo Switch com acesso a uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Nintendo Portugal

Ana Costa: Designer armada em redatora de videojogos, viciada em café e JRPGs. Destruiu o site uma vez.
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