Gran Turismo 7 – Análise

Uma sala cheia de amigos, que, na verdade, era família, Gran Turismo 5 e uma PlayStation 3 ligada durante dias a fio. Tudo para conseguir completar as 24 horas de Le Mans na altura em que ir às boxes e gravar o progresso a meio da corrida era impossível. Muitos anos, quilómetros e horas após ter começado a minha viagem com Gran Turismo estou aqui para vos falar da experiência com o mais recente título da série, Gran Turismo 7. Desta vez ao volante de um Fanatec GT DD Pro.

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A verdade é que a minha experiência continuou em GT Sport. Um jogo que saiu pequeno, mas que com o passar do tempo foi crescendo e ficando cada vez melhor. De facto, chegou a um ponto onde deixei de o ver como um Gran Turismo unicamente dedicado aos Esports e passei a olhar para o jogo da PlayStation 4 como uma espécie de Prologue para o que, um dia, estaria para chegar com Gran Turismo 7. Quase 40 horas após ter começado GT7 concordo ainda mais com essa ideia.

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Entrar em Gran Turismo 7 foi de uma satisfação enorme, foi como voltar ao passado, voltar aquelas alturas em que estava na sala com os amigos para conseguir conquistar os desafios mais complicadas. O trailer de abertura tem cada um dos frames pensados ao pormenor e a primeira experiência com GT7 acaba por ser tão satisfatória para os amantes de condução como para os amantes de música. Falo do Rali Musical.

Música lado a lado com a condução

A primeira experiência que nos é dada é a do Rali Musical, um mini-jogo que junta, o divertimento que é conduzir alguns clássicos ao prazer que é ouvir uma banda sonora que encaixa perfeição a cada uma das pistas deste mini-jogo que, embora funcione como introdução, podemos voltar a qualquer altura. Digo-vos mais, espero sinceramente que outras músicas sejam adicionadas para poder voltar ao pequeno momento arcade que Gran Turismo 7 consegue proporcionar com este pedaço de jogo.

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Claro que a música em Gran Turismo 7 não se fica por aqui, pelo contrário: está presente em quase todo o jogo. É-nos possível continuar a ouvir a banda-sonora do jogo durante todos os quilómetros conduzidos. No entanto, como o que procuro principalmente em GT7 é a possibilidade de ter um simulador na consola a primeira coisa que faço é desligar o som na banda-sonora e manter apenas os barulhos dos carros, ouvir o motor a pedir uma mudança mais alta, os pneus a subir um corretor ou simplesmente um toque no carro que estamos a tentar passar numa curva mais larga… isso sim é música para os meus ouvidos.

É muito por isto que gostava de ver mais pistas e mais músicas adicionadas ao Rali Musical… simplesmente porque naquele pequeno modo de jogo, ainda fora do mundo de GT7, sabe-me bem conduzir de rádio ligado.

O DualSense trouxe inovação, mas por aqui o campeão foi outro

Tal como na tecnologia de consumo existem produtos que têm áreas mais desenvolvidas que outras, sendo o maior exemplo o dos smartphones onde os ecrãs, as câmaras, os processadores ou até as colunas evoluíram muito mais depressa que as baterias, fazendo com que os equipamentos acabem por sofrer às mãos das mesmas pela fraca autonomia que têm quando comparado com gerações passadas. Nos videojogos, principalmente em simuladores como Gran Turismo isso também acontece. O calcanhar de Aquiles está na forma em como os jogos conseguem transmitir as sensações para as mãos dos jogadores , principalmente os que jogam de comando.

Com a chegada da nova geração de consolas PlayStation chegou também um novo comando que vem, em muito, ajudar Gran Turismo 7 a passar essas mesmas sensações de forma muito mais exata, mais imersiva, para as mãos dos jogadores que consigam pegar no novo simulador através de uma PlayStation 5.

Com o DualSense é agora possível sentir, até um certo ponto, os comportamentos do carro na estrada. Sobem um corretor do lado direito e a vibração fica mais intensa, diferente até, ao virarem a alta velocidade para a direita também, para além de ouvirem os pneus a fazer o seu barulho característico, conseguem também sentir a vibração do comando a ficar mais intensa no lado esquerdo. Mas não é apenas intensidade, é a forma como a vibração muda e viaja do lado direito para o esquerdo do comando, das nossas mãos, fazendo com que nos consigamos sentir um pouco mais dentro do jogo… ao ponto de sentir uma leve, mas precisa, vibração quando mudamos de mudança.

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Também os botões L2 e R2 ajudam à festa com a sua capacidade de se adaptarem, de fazerem mais força dependendo da situação. É agora possível, também até um certo ponto, sentir a força do carro e do ABS numa travagem mais forte, fazendo com que seja também mais fácil perceber a intensidade que temos que aplicar em cada travagem ou até mesmo conduzir sem controlo de tração, pois os triggers do DualSense são muito mais precisos do que os presentes no DualShock 4.

Digo que tudo isto, todas estas sensações, são possíveis até um certo ponto porque tudo mudou quando larguei o comando e me fiz à estrada com o Fanatec GT DD Pro, o volante criado por uma das mais conceituadas marcas de periféricos para simulação em conjunto com a Polyphony Digital, pensado ao pormenor para GT7.

O volante foi pensado para Gran Turismo, e isso vê-se na forma como temos, por exemplo, 4 botões que são usados especificamente para alterar coisas como o controlo de tração ou o modo de motor, algo que ajuda bastante porque não precisamos de andar a navegar no HUD nas retas para conseguir mudar o modo de motor ou o controlo de tração, fica tudo mais intuitivo, mais fácil de usar e pode ser a diferença entre perder tempo numa reta ou não.

Passei recentemente de um Logitech G29 para este Fanatec GT DD Pro, um volante que conta com a base CSL DD da Fanatec, e a diferença é abismal. É com volante que Gran Turismo 7 realmente brilha, pegamos no volante e é preciso esquecer que estamos num jogo, é preciso olhar para GT7 e para o volante como se estivéssemos dentro do carro, prontos a participar na corrida das nossas vidas. O volante passa a ser uma verdadeira extensão do nosso corpo: o tempo de resposta no jogo é quase imediato, tornando mais preciso, mais fácil e principalmente mais divertido de controlar o carro.

Sentir o carro a fugir e esperar para bater no muro, como me aconteceu em GT Sport inúmeras vezes, é coisa do passado. O excelente tempo de resposta de GT7 (a reconhecer o input) em conjunto com um volante com Direct Drive (explico melhor isto na análise ao Fanatec GT DD Pro) fazem com seja mais intuitivo controlar um carro dentro do novo simulador PlayStation.

Progressão bem alinhada, mas demasiado café

O sistema de progressão de Gran Turismo 7 foi das coisas que mais gostei no jogo, ao mesmo tempo que a forma como o jogo nos apresenta essa progressão foi das coisas que mais me chateou.

Conseguir cada uma das cartas, começando nos carros com cilindrada mais baixa, ganhar habituação ao jogo e ao tipo de condução e depois então passar para carros mais rápidos, mais desafiantes, mas também mais complicados de controlar ajuda-nos a entrar com o ritmo certo em GT7. Ao mesmo tempo que fui concluindo cada uma das cartas foram-me também apresentados os primeiros desafios, fáceis ao início onde conseguia utilizar os carros que tinha na garagem sem qualquer tipo de modificação, mas com o desbloquear de mais partes do mundo de Gran Turismo 7 (incluindo a oficina) também os desafios foram crescendo na dificuldade e alterar partes dos carros passou a ser necessário.

Ao alterar estas partes conseguimos aumentar o PP [Performance Points] de cada um dos carros, e assim ser mais competitivos quando os adversários já estão equipados com máquinas de categoria superior. Ah e digo-vos mais, se o vosso primeiro GT foi o Sport, preparem-se porque com a oficina a estar de volta há que ter cuidado com o motor do carro, mudar o óleo e tratar da manutenção… caso tratem mal do motor do carro podem preparar-se para gastar alguns créditos para equipar a vossa máquina com uma unidade nova.

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Mas bem, estou a divagar. Voltando à progressão: existe algo novo no mundo de GT7, o café. O café funciona como um hub aonde vamos para conhecer um pouco mais sobre a história do carro que estamos a conduzir, mas também para receber as novas missões através de Menus.

Estes menus são nada mais nada menos que missões especificas, como colecionar carros de um determinado grupo ou experimentar um novo modo de jogo que acabou de abrir. Fazemos isto a troco de rewards que podem vir em forma de novos circuitos ou até de bilhetes para roletas onde podemos ganhar créditos in-game, peças para os carros ou os próprios carros. Existem ainda vários níveis de “roletas”, quanto mais alto o nível melhor são os prémios.

Até aqui está tudo bem, o simulador fez com que me ambientasse bem a uma classe de carros antes de me “obrigar” a ir para outra. Mesmo nas “missões” as mesmas vão desbloqueando à medida que vamos subindo de nível, algo que faz todo o sentido para que tal como aconteceu comigo, todos os jogadores, mesmo os menos experientes consigam crescer ao seu próprio ritmo. O problema é o café e o facto de ser obrigado a visitar o mesmo vezes sem conta caso queira progredir.

É mais ou menos assim: Café -> Fazer missão -> Missão completa -> Café -> Nova missão -> Repetir passos anteriores.

Isto vezes sem conta e sem forma de viajar de forma rápida para o café ou para as missões, sendo necessário passar sempre pelo mundo (menu principal) para passar entre local das missões e o café para receber os rewards e o novo menu (missão). Toda esta repetição que fui obrigado a fazer tornou-se cansativa, ter uma forma mais simples de viajar entre pontos do menu para completar missões tornava um sistema de progressão muito bom em algo incrível.

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Existem dois modos para jogar online, o modo sport e o modo online. O primeiro é onde vamos para competir, temos que nos inscrever e participar em provas que nos são dadas a nível regional para progredir no ranking. O segundo é o modo online onde podemos competir com pessoas de todo o mundo, criar salas próprias para jogar com amigos ou criar uma liga amadora para entusiastas de Gran Turismo, tal e qual como era possível fazer em GT Sport, pelo que mantenho a minha ideia: GT Sport funcionou como um prologue deste Gran Turismo 7 que agora chega mais completo, tal como os anteriores títulos, mas com uma ligeira inclinação para o mundo dos Esports… algo que já é normal em GT, mas que ganhou um design muito característico em GT Sport e que agora se mantém.

Gran Turismo 7 GT7

Motor bem afinado

Se há coisa que não falha em Gran Turismo 7 é o desempenho na PlayStation 5. Com mais de 40 horas de jogo em cima não tive qualquer problema de desempenho, sempre com corridas fluidas e com input lag inexistente. Existem dois modos: um que dá prioridade ao Ray Tracing e outro que dá essa prioridade ao Frame Rate, se ficaram a ponderar qual escolher podem parar. A escolha certa é uma: Dar prioridade ao Ray Tracing [RT]. Porquê?

Porque ao darem prioridade ao RT conseguem toda a fidelidade gráfica com que o jogo foi pensado e não comprometem o Frame Rate. Isto porque Gran Turismo 7 desliga automaticamente o RT nos momentos em que o Frame Rate é necessário (ou seja, quando estão em corrida). Assim conseguem ter melhor luz e melhores sombras, por exemplo, sem nunca sentir problemas de desempenho ou sem se aperceberem que a taxa de atualização ficou baixa sem aviso prévio.

O que também aparece sem aviso é a imprevisibilidade de conduzir à chuva ou em pista molhada. O som da chuva a bater de lado no carro, possível de perceber onde está devido ao áudio 3D, e o barulho ao passar por cima de uma poça de água, momentos antes de perder o controlo do carro. As diferenças entre conduzir com piso seco ou molhado são tantas que é preciso voltar ao momento de adaptação onde estudam o carro e a pista a primeira vez que apanham estas condições. Fazer uma corrida ao início da noite, ao nascer do dia, é impressionante… a forma como o sol nos bate nos olhos ou nos apercebemos do cair da noite curva após curva é algo especial. As condições meteorológicas, bem como as diferenças entre o dia e a noite, são uma clara evolução quando comparado com o agora datado GT Sport.

Com desempenho constante e de topo, uma fidelidade gráfica impressionante, com pistas e modelos de carros reproduzidos ao pormenor há algo que não podia faltar em GT7, um bom modo de fotografia. E ele está presente, nas repetições da corrida podemos apreciar a banda-sonora até ao momento em que carregamos no botão de pausa e tiramos a DSLR do bolso. Depois deste momento é fazer de tudo um pouco, com três técnicas de fotografia diferentes que proporcionam resultados também eles diferentes, GT7 e o seu modo de fotografia permitem duas coisas: aprender sobre como fotografar determinadas situações simplesmente ao explorar tudo o que o jogo tem para oferecer, ou então, caso tenham noções de fotografia, colocar no jogo tudo aquilo que já aprenderam na vida real.

Existe ainda o modo Scapes, que tal como em GT Sport permite colorem o vosso carro em fotografias escolhidas pela equipa que desenvolveu Gran Turismo. Embora as fotografias escolhidas sejam fantásticas e os modelos dos carros estejam melhores que nunca, há sempre qualquer coisa que faz com que o resultado seja pouco real. Preferi, sem sombra para dúvidas, o modo fotografia em corrida… principalmente pela maior liberdade que temos.

Considerações Finais

Existe muito mais para escrever sobre Gran Turismo 7, todo o mercado de usados que nos permite achar relíquias, os convites especiais para comprar carros únicos ou até os momentos de verdadeira história automobilista que o jogo consegue proporcionar. O simulador podia-se se ter apresentado de forma diferente, com menus mais práticos de navegar, mas a verdade é que tudo isto são escolhas de design feitas pela Polyphony… e embora algumas não me agradem, GT7 faz tudo aquilo que pretende fazer de forma exemplar.

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Temos de loading rápidos, uma qualidade e precisão de condução impressionantes e desempenho sempre constante. Gran Turismo 7 é uma clara evolução da série naquilo que mais importa – a simulação.

+ Desempenho sem falhas, mesmo no modo que dá prioridade ao Ray Tracing

+ Banda sonora escolhida a dedo e para apreciar no modo “Rali Musical”  

+ Experiência de condução é uma clara evolução na série

+ Progressão justa, tanto no jogo como em pista

 

– Menus nada práticos de usar

– Café é uma boa adição, mas acaba por cansar tanta vez que lá temos que entrar

N.R.: A análise a Gran Turismo 7 foi realizada numa PlayStation 5 com acesso a uma cópia do jogo disponibilizada pela PlayStation Portugal.

André Oliveira Santos: Licenciado em comunicação, a trabalhar em fotografia. Sempre tive um gosto especial e uma grande paixão por gadgets, videojogos e novas tecnologias no geral.
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