Resident Evil VII Biohazard: Este jogo não é para os fracos de coração

Chegaram alguns segundos para o medo se apoderar de mim. “Ai“, “Ui“, “Ahhhhh“, “@^&*?/`~“… Foi mais ou menos isto que saiu da boca para fora durante os primeiros momentos de jogo.

Ainda sem os PlayStation VR, o jogo pareceu bastante detalhado, mas sem fugir muito ao traço dos anteriores Resident Evil. Se chegaram a jogar a primeira demo deste título, o início de Resident Evil VII: Biohazard vai parecer-vos bastante familiar. Mas o melhor vem depois.

Vou falar sobre o jogo, principalmente sobre a utilização dos PSVR no novo título da CAPCOM, sem qualquer spoiler. Não quero estragar a surpresa a quem ainda está para jogar.

Antes de entrar em pormenores importa referir que Resident Evil VII pode ser jogado na sua totalidade usando apenas os PSVR. As únicas partes do jogo que não estão disponíveis em modo 360º são os momentos cinematográficos que ajudam a conectar a história entre si.

ATENÇÃO: O vídeo abaixo contém imagens que podem ferir a susceptibilidade dos leitores

Em Resident Evil VII estamos na pele de Ethan, um cidadão comum sem grandes aptidões para o confronto fisico, ao contrário do que acontecia nos anteriores títulos de Resident Evil. Ethan viaja até ao estado do Louisiana na esperança de encontrar a sua companheira, Mia, desaparecida há três anos.

No destino, Ethan encontra a mansão habitada pela família Baker. Os Baker são bastante amigáveis, tirando o facto de querem matar o nosso protagonista e como se isto não bastasse ainda tentam dar-lhe vermes para o jantar.

É importante referir que a ação passa-se em 2017, pouco mais de 4 anos depois de Resident Evil 6, e embora no decorrer do jogo existam alguns factos que ajudam a contextualizar este Resident Evil com o último título da franquia, é possível jogar Resident Evil VII sem nunca ter jogado os anteriores títulos. Não se vai sentir perdido.

Combates de cortar a respiração e sustos capazes de fazer tremer os mais preparados ajudam a que Resident Evil VII seja um dos mais assustadores da franquia, estando lado a lado com Resident Evil 3: Nemesis, lançado  em 1999 ainda para a primeira consola Playstation.

Com qualidade suficiente para ser um dos melhores

Como em todas as experiências de realidade virtual, quando as comparamos com os títulos jogados num ecrã convencional, é notório o declínio na qualidade gráfica do jogo. Os ambientes ficam menos definidos e remete-nos para a mesma experiência gráfica que tínhamos em máquinas como a PlayStation3.

Deixando as diferenças de lado, é possível dizer que este Resident Evil VII: Biohazard foi a experiência que, até à data, melhor impressão deixou, mesmo tendo em conta que é um título compatível com VR e não um título feito de raiz para o novo hardware da Sony Interactive Entertainment. Tudo à nossa volta está focado e os detalhes estão lá, mas sendo a tecnologia bastante recente não podemos pedir milagres.

Durante a experiência de jogo tivemos alguns confrontos com os ‘maus da fita’ e quer fosse a levar com uma pá ou a sofrer cortes com uma motosserra os movimentos foram sempre bastante fluídos e definidos. A narrativa deste título acontece dentro de um ambiente muito escuro, o que pode ajudar a que mesmo em VR a diferença no grafismo não seja tão notória como em títulos como DriveClub VR.

Cuidado… eles andam aí

A título de experiência, desligue as luzes da divisão em que está – isto se estiver em casa; se não, guarde este artigo e volte a ele mais tarde. Feche os olhos. Concentre-se nos sons. Imagine que, atrás da porta, está um ser possuído, de quem vai querer escapar com vida a todo o custo. A sua mente começa a imaginar os sons. A sua pele vai ficar arrepiada. Já está naquele ponto em que questiona cada passo que dá? Está nervoso? Ótimo. Porque é assim que se vai sentir durante todo o jogo, principalmente se estiver a jogar com os PlayStation VR.

O grau de imersão está num nível muito bom, desde o simples andar pelos corredores com medo de cada canto ao abrir uma porta sem saber o que esta na próxima divisão. Como referido antes, a qualidade gráfica pode não ser a melhor, mas a verdade é que mesmo assim funciona muito bem. Posso dizer com vigor que se jogar com uns bons headphones e num local sem ruídos, vai sentir-se mesmo ‘dentro’ do universo de Resident Evil VII. Existem segmentos da narrativa que não são jogáveis. Nestes momentos, quando disponíveis em 360º, só o aproximar de uma faca ou de qualquer outra arma é suficiente para deixá-lo com a pele arrepiada.

Adeus motion sickness, olá medo

Explorar a mansão dentro do mundo VR torna-se bastante fácil e nada agressivo para o corpo humano, por isso sim, arrisco-me a dizer que pode esquecer a sensação de enjoo ou desorientação por movimento. Ao contrário de outros jogos, Resident Evil VII tem um sistema muito bom para que esta sensação seja bastante reduzida. Pode andar para a frente e para trás, correr, e virar para a esquerda e para a direita.

É neste virar que esta o segredo, o virar do corpo não é fluido como o andar para trás e para a frente. Cada vez que vira, seja para a esquerda ou para a direita, vai ter um único movimento de 30º em vez de um movimento repentino que certamente acabaria por deixá-lo com uma má disposição. Movimentos mais lentos e definidos podem não ajudar quando está numa luta corpo a corpo em que tem que enfrentar uma motosserra nas mãos de um indivíduo pouco amigável, mas ajudam certamente a aguentar o jogo por mais de 15 minutos, e depois de se habituar a este tipo de movimentos acaba por nem notar diferença durante as tais partes de luta.

Uma das primeiras armas que vai encontrar – espero que o consiga fazer! – é uma pistola, e com isto aparece uma das partes interessantes que vai ajudar certamente a escapar a alguns – sim, só a alguns – inimigos. Quando joga a versão normal do jogo usa os analógicos para fazer mira, com os PSVR basta virar a cabeça para o inimigo para apontar para o mesmo. Melhor que isto só mesmo uma tecnologia que permita apontar para o inimigo apenas com o olhar – o que poderá não estar assim tão distante.

Deixo um aviso: é possível que sofra alguns golpes enquanto se habitua a este modo de jogo e é certo que vai desviar o corpo para evitar golpes em vez de carregar no botão certo.

Knock knock…

Um dos aspectos que ajuda em muito o grau de imersão do novo titulo da franquia Resident Evil é o som envolvente: o ranger da madeira quando caminha pelos corredores gastos da mansão; o abrir de portas; vento a entrar por uma das muitas janelas; criaturas a caminharem no andar de cima; barulhos que o vão fazer olhar para trás, mas que ao mesmo tempo vão fazer com que não queira olhar para trás.

Não há música, nem é preciso, só ia estragar o ambiente aterrorizante que o jogo nos traz. É totalmente perceptível se um dos muitos ruídos que existem vem da esquerda ou da direita, do andar de cima ou de baixo, se está próximo ou mais distante, sendo talvez este o elemento do jogo que nos faz ter mais medo ou pelo menos mais receio.

O som, conjugado com o ambiente fantasmagórico da mansão dos Baker e com a nova forma de jogar em primeira pessoa ajudam a criar um dos melhores jogos de terror dos últimos anos, daqueles que nos vão fazer estar agarrados à consola horas a fio.

Quem ja jogou The Evil Within sabe o quão importantes os sons podem ser num titulo de terror psicológico, embora Resident Evil VII se passe em grande parte dentro de uma casa, a mecânica continua a ser a mesma, fugir dos inimigos e ter cuidado com a utilização das armas pois as balas são escassas. Em ambos os jogos quanto menos nas vistas der, melhor.

Aposta ganha

A CAPCOM recebeu algumas críticas antecipadas e menos positivas de fãs, que estavam pouco entusiasmados com o facto do novo Resident Evil ser passado na primeira pessoa, ao contrário do que aconteceu com todos os principais títulos da franquia. Acredito que a aposta foi ganha: títulos em primeira pessoa conferem outro grau de proximidade entre o jogador e toda a ação que está à sua volta, algo que resulta muito bem em todo o enredo de Resident Evil VII.

Resident Evil VII : Biohazard é um jogo de terror que cumpre o seu objectivo: aterrorizar. Depois de enfrentar uma motosserra nas mãos de um ser a quem uma simples bala parece não afetar, o meu batimento cardíaco passou de 72 bpm para 118 bpm. É caso para dizer que Resident Evil VII : Biohazard é um jogo impróprio para cardíacos.

Resident Evil VII : Biohazard
Jogo envolvente
Som com grande qualidade
Sistema de jogo que reduz o "Motion Sickness"
Qualidade gráfica inferior no modo VR
Puzzles pouco complexos
Falta de controlos Playstation Move
8.4
EM 10
André Oliveira Santos: Licenciado em comunicação, a trabalhar em fotografia. Sempre tive um gosto especial e uma grande paixão por gadgets, videojogos e novas tecnologias no geral.
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