O PlayLink é um conceito interessante que vai precisar de ser bem trabalhado

Por muito básico que um jogo possa ser, colocar um comando de uma consola de videojogos nas mãos de algumas pessoas é como dar-lhes uma bomba relógio que vai explodir a qualquer momento. O facto de terem à sua disposição mais de uma dezena de botões, mesmo que não sejam todos necessários, facilmente provoca confusão em quem não está habituado a estes sistemas de jogo.

Por isso é que é interessante uma ideia de jogo que praticamente dispensa o uso do comando da consola. É isso que a Sony propõe com o PlayLink, um conceito de gaming social no qual o smartphone é o controlador principal.

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Sabendo que o smartphone é neste momento um dos utensílios mais enraizados na sociedade moderna, é como se todos andassem com um comando no bolso e já estivessem familiarizado com ele. Melhor: nem sequer têm um grande número de botões para provocar o pânico caso seja necessário iniciar um jogo.

A Sony Interactive Entertainment faz bem em explorar esta situação, acima de tudo porque representa um conceito de jogabilidade diferente. A Nintendo, que é conhecida por ser a rainha dos jogos para partilhar com a família e os amigos, já apresentou soluções também interessantes – como a utilização do comando-tablet da Wii U para criar uma mesa de jogo virtual.

Mas a solução escolhida pela Sony para o PlayLink é mais flexível, mais ubíqua e representa uma curva de aprendizagem muito baixa para potenciais não-jogadores.

O primeiro jogo a chegar à PlayStation 4 com suporte para o PlayLink é És Tu!, um quizz que foge ao típico conceito de questões de cultura geral e que aposta antes no conhecimento que os jogadores têm ou não têm uns dos outros.

Os jogadores são desafiados a percorrer uma grande variedade de cenários onde são confrontados com questões sobre os outros jogadores e vão ter também desafios mais interativos, que implicam tirar selfies ou fazer desenhos. O grafismo dos cenários é interessante, mas mais interessante é a arte escolhida para dar vida às diferentes secções do jogo – existe um estilo retro muito peculiar, que faz lembrar os filmes das décadas de 1960 e 1970.

Para jogar é necessário emparelhar os smartphones com a PlayStation 4, um processo bastante simples de executar: basta garantir que todos os equipamentos estão ligados à mesma rede Wi-Fi. Para o caso de não existir Wi-Fi no momento em que quer jogar, o utilizador pode tornar a PlayStation 4 num hotspot, o que vai permitir uma ligação por Wi-Fi Direct.

Depois os controlos são básicos e semelhantes aos de qualquer outra aplicação: só terá de tocar no ecrã para selecionar cartas, deslizar para validar a sua escolha ou desenhar no ecrã do equipamento sempre que esse for o desafio. A aplicação És Tu! está localizada em português e está disponível para iOS e Android.

A título pessoal não fiquei fã do jogo És Tu!. Lendo todas as descrições pensei que ia ser uma experiência muito mais divertida e dinâmica. O jogo decorre a um ritmo lento e ao fim de algumas sessões tende a tornar-se repetitivo, sobretudo se jogarem apenas duas pessoas. Admito que muitos jogadores não concordarão e vão dizer que És Tu! é uma boa experiência social e é bastante divertido.

Podem jogar ao mesmo tempo dois a seis jogadores

Na parte da experiência social concordo, mesmo tendo em conta que estão todos a olhar para o smartphone. Já a parte do bastante divertido não questiono, ainda que também não me renda por completo a essa ideia.

Enquanto jogava PlayLink não conseguia deixar de pensar no famoso jogo de tabuleiro Party & Company. Fiquei com a sensação de que o jogo da PlayStation tenta replicar a mesma fórmula, ainda que num formato mais digital. És Tu! leva vantagem pelo facto de permitir que várias pessoas joguem online, não havendo por isso a necessidade de estarem todas no mesmo local.

Mas perde claramente no dinamismo que podia ter sido explorado, sobretudo quando estão todos a jogar lado a lado: por exemplo, seria interessante mandar um jogador imitar fisicamente uma celebridade ou trautear uma canção – os restantes jogadores podiam classificar o desempenho com uma a cinco estrelas.

O objetivo é tentar conseguir o maior número de pontos possíveis, algo que acontece adivinhando a resposta às questões que são colocadas. Por exemplo: ‘Alguém adormece no ombro do jogador A durante uma viagem de comboio, o que é que ele faz?’. O jogador A dá a sua resposta e todos os outros têm de tentar adivinhar qual será essa resposta. Se o nível de confiança na resposta for elevado, pode usar jokers para duplicar essa pontuação.

És Tu! é este mês uma oferta do serviço PlayStation Plus, o que acaba por ser uma boa estratégia da Sony para colocar o jogo na mão de um grande número de jogadores. Quando for necessário pagar 20 euros para ter acesso a esta experiência, talvez seja mais difícil atrair novos jogadores para o conceito de PlayLink.

Mesmo não tendo ficado fã de És Tu!, fiquei ainda com mais vontade de conhecer um outro jogo que utiliza o sistema PlayLink: chama-se Hidden Agenda e vai ser lançado no decorrer de 2017.

Por ser um jogo com um maior foco na narrativa, por ser um jogo de mistério e por ser um jogo que tanto exige esforço colaborativo como astúcia pessoal, Hidden Agenda parece ter todos os ingredientes para criar uma experiência PlayLink de sucesso.

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Uma vez mais, o conceito do PlayLink em si tem ingredientes interessantes, pois permite rapidamente juntar um grupo de seis pessoas em torno do televisor sem que para isso seja necessário ter seis comandos. Mas a Sony Interactive Entertainment terá de alimentar bem este seu novo ecossistema de jogos sociais.

Fazendo aqui um paralelismo com a situação da realidade virtual: a tecnologia faz sentido, apenas precisa de jogos que tirem um grande proveito da experiência única que o sistema proporciona. Isso é válido tanto para os PlayStation VR como para o PlayLink.

No caso de És Tu! a experiência de jogo é diferenciadora, o jogo em si é que não foi tão entusiasmante. Se a Sony conseguir criar um título apelativo dentro desta dinâmica de jogabilidade, então pode ter encontrado aqui um novo nicho de mercado.

Numa época de jogos com histórias densas, com níveis consideráveis de violência ou com uma forte componente de competição, é bom saber que está a ser criado um ecossistema de jogos sociais mais descontraído e que pode ser inclusivo, pois facilmente é apelativo para gamers e não gamers.

As consolas de videojogos ocupam muitas vezes um lugar central nas salas de estar e é um pecado que não se aproveite mais a sua capacidade de ligação social.

PlayLink, estamos de olho em ti  👀

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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