Análise Mortal Shell

Pensem numa pequena equipa de quinze pessoas, um estúdio indie de seu nome Cold Symmetry, que resolve produzir um RPG de ação ao bom estilo Souls. O estilo Souls naceu para este nome quando a From Software criou Demon Souls e continuou com este estilo nos jogos Dark Souls, alterando um pouco a fórmula em Bloodborne, mas nunca perdendo a qualidade de um grande RPG e conhecido pela sua extrema dificuldade. Esta equipa tratou de arregaçar as mangas e conseguiu o que parecia impossível, estruturar da cabeça aos pés, um bom jogo do género, com ideias novas e que resultam, não tendo nenhuma afiliação com quem criou este estilo. Não faz tudo bem, é verdade, mas o que faz é brilhante para um estúdio tão pequeno e sem grande orçamento.

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Desde as mecânicas básicas até ao aspeto dos menus e separadores de carregamento de níveis, sabemos logo qual a influência que os jogos Souls trouxeram para Mortal Shell e é como se este jogo fosse uma carta de amor para a From Software. Os jogadores deste estilo irão imediatamente gostar de Mortal Shell, mas poderá ser mais acessível a novos jogadores que os jogos de Miyazaki. Assim que passamos a excelente cinemática introdutória (que parece saída de um filme de ficção cientifica), entramos neste mundo… prontos para o pior.

A nossa personagem, um ser um pouco macabro que não parece ser homem ou mulher (e que não podemos customizar) pode habitar uma de quatro shells (entenda-se carapaças, que aqui são mais semelhantes a um tipo de parasita que ocupa um corpo), e entramos num ambiente inóspito cheio de inimigos que vão desde pequenos rufias a enormes monstros fantásticos. Sem saber o que somos, onde estamos e o que estamos ali a fazer, temos de reunir a escassa informação que o jogo nos dá e progredir explorando o mapa, a mecânica principal deste tipo de RPG de ação. Só aí, encontramos NPC’s que nos dão alguma luz no que fazer e nem sempre nos dando uma direção a ir, mas sim um objetivo a cumprir. Mas para variar, sempre tudo muito vago.

Firme e hirto como uma pedra

A mecânica chave neste titulo, não é nenhuma habilidade especial ou o combate, mas sim na defesa. Com um toque num botão, o nosso personagem transforma-se em pedra mesmo se estivermos num movimento, como atacar com a nossa arma. Esta pequena grande diferença altera tudo o que sabemos em como abordar este estilo de jogos. Geralmente defendemos, esquivámo-nos e rolamos para fora do alcance do inimigo, mas aqui, e não podemos usar esta mecânica sempre porque tem um tempo de cooldown no seu uso, mas dá-nos mais um elemento de estratégia em combate. Sair de um harden (nome que usam no jogo) e no seguimento fazer parry a um adversário, dá um gozo tremendo. Este movimento só pode ser usado após encontrarmos um artefacto mágico. Semelhante a outro título da From Software, a sua execução é quase como a de Bloodborne com a sua arma. No momento exato defletimos o ataque contrário, o inimigo fica parado e desferimos um golpe que desconta muito mais que os golpes normais.

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No capítulo de armamento, temos uma espada no início, mas podemos encontrar novas armas na nossa exploração, mas não tantas como noutros títulos do género. Mortal Shell obriga-nos, tal como as armaduras que encontramos que são apenas quatro, a definir logo desde cedo o nosso melhor estilo de luta entre a shell que ocupamos e a arma que definimos ser a melhor para nós. Podemos melhorar ambos com loot que vamos encontrar pelo caminho, bem como o tar (a “moeda” do jogo) e glimpses (que nos dão experiência).

Os primeiros combates em Mortal Shell são difíceis, mesmo depois de termos encontrado a nossa primeira shell. Temos uma bela armadura e uma espada enorme, mas somos ainda muito lentos para os grupos de inimigos que vamos encontrar inicialmente. Toda esta dinâmica obriga-nos a explorar, memorizar padrões, tanto do meio que nos rodeia como prever e contra-atacar os das criaturas que vêm no nosso encalço. Ocasionalmente, Mortal Shell parece menos polido que a série que tenta “imitar”, mas o que tenta alterar acrescenta à série e não é mais uma imitação pura e dura.

Ambiente tenso e localizações misteriosas

Logo no início, arrastamos o nosso corpo disforme por um estreito túnel (que vamos encontrar bastantes na nossa exploração), que desemboca na primeira área, zona de pântano e floresta, mas sentimos logo que algo não está bem, é familiar, mas, ao mesmo tempo, extraterrestre. O simbolismo parece o do nascimento do nosso personagem, que é obrigado a singrar neste mundo, carregado de tensão e que nos sentimos desorientados por podermos escolher tantos caminhos e ao mesmo tempo sermos ainda muito vulneráveis. O desenho dos mapas e diferentes localizações, mesmo algumas não sendo muito originais, apresentam algo de diferente para nos fazer sentir em apuros.

Considerações finais

A comparação entre Mortal Shell e os jogos da From Software é inevitável, mas não olhamos para tal como algo mau, é algo que complementa o género de jogo, numa maneira diferente de o fazer. Enquanto Bloodborne capitaliza na falta de informação e em que tudo é um pouco obtuso e que nos entrega ao inimigo, Dark Souls é tudo isto e com magia, Mortal Shell dá-nos narrativa aos poucos, tem um lore muito interessante para explorar e a mecânica de harden muda por completo a abordagem ao combate.

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Pode não ter os inimigos e bosses mais originais que já vimos, mas tem tudo uma razão de ser. Só nos dá vontade de entregar um saco de dinheiro a esta equipa que, com poucos recursos, nos deu um jogo digno de todos os amantes de RPG’s de ação e aventura. A Cold Symmetry tem aqui uma pérola que, ao apostarem nela, fará com que o estúdio possa continuar a trazer bons jogos para o mercado.

Clica na imagem para mais informação sobre as nossas classificações

+ Premissa das shells

+ Mecânicas de combate

+ Ambiente e tensão durante todo o jogo

– Por vezes há lag no combate

– A banda sonora podia ser melhor, para um jogo épico destes

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