Scarlet Nexus – Análise

Dos estúdios da Bandai-Namco e pela mão da Tose, chega-nos Scarlet Nexus: um JRPG de acção nascido das mentes de Kenji Anabuki (veterano da série Tales of) e Keita Iizuka (produtor de Code Vein). Este título leva-nos até um futuro distópico muito distante, através das histórias dos dois protagonistas – Yuito Sumeragi e Kasane Randall.

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A little less conversation…

Enquanto JRPG de acção, Scarlet Nexus não perde tempo nenhum em lançar-nos diretamente para a frente de acção. Somos colocados numa missão de tutorial que serve, narrativa e mecanicamente, para nos apresentar a base do combate. Tanto Kasane como Yuito possuem a mesma habilidade psíquica – a telekinese – que lhes permite arremessar objectos no cenário, ao combaterem contra os vários inimigos que lhe surgem pelo caminho.

A diferença nas duas personagens surge nas armas de preferência. Enquanto que Yuito equipa uma espada e está dependente de combos mais próximos dos inimigos, Kasane utiliza um set de facas que lhe conferem maior agilidade e, ao mesmo tempo, maior capacidade de distância entre inimigos.

A complexidade do combate é incremental: significa isto que, à medida que desbloqueamos mais árvores de progressão da nossa personagem, ganhamos acesso a novas ferramentas, como o Brain Drive, um estado temporário onde ganhamos maior velocidade de movimentos e dano, e Brain Field, um género de Limit Break que cria uma dimensão dentro da nossa mente, através da qual ganhamos poderes mais intensos de telekinese, também temporários.

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Scarlet Nexus convida-nos a, literalmente, mergulhar neste grupo de habilidades, juntando-lhes ainda alguns elementos tradicionais dos JRPGs através dos nossos colegas de equipa. Através de shortcuts de botões, podemos accionar as habilidades das restantes personagens para nos dar uma vertente estratégica extra.

Contra inimigos que utilizem Oil, podemos utilizar a habilidade de pirokinese para os colocar, literalmente, em chamas. Já contra inimigos que utilizam água, podemos utilizar electrokinese para os… bem, electrocutar. O jogo introduz-nos estas variantes estratégicas de forma gradual, pelo que não vão precisar de ter um bloco de notas ao lado para decorar o efeito de cada uma: a lógica é bem aplicada e, na maioria das vezes, terão sempre as personagens ideais para vos dar as ferramentas necessárias para responder aos desafios.

A little more action, baby…

Com um combate tão estimulante e repleto de complexidade, seria de esperar que Scarlet Nexus nos apresentasse este elemento da sua experiência como o prato principal. No entanto, é importante baixarem um pouco as expectativas: a narrativa do jogo ocupará muito da vossa experiência.

O que, quando bem concretizada, é um aspecto positivo. Infelizmente, não é o caso de Scarlet Nexus. O arco narrativo central foca o conflito entre os humanos, com habilidades psiónicas melhoradas através do avanço científico e recrutados sem opção de escolha para a OSF, a força de elite do universo do jogo, contra os Others, mutantes disformes que grassam o planeta e que dizimaram a maior parte da civilização.

Dentro desta premissa, somos levados a acompanhar Yuito e Kasane por um conjunto de cenários que os leva de cadetes a peças centrais numa revolução que levará, por fim, a um momento-chave de resolução. O problema é a forma como Scarlet Nexus nos apresenta este universo, com temáticas secundárias como a extrema militarização, a perda de liberdades para um governo autoritário e até o preconceito num sistema classicista, de forma tão… juvenil.

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À boa imagem de um Shounen Anime, somos bombardeados com a história de vida das personagens em textos longos, expositivos através de cutscenes que podem durar, no máximo, até 10 minutos. A escrita, infelizmente, deixa muito a desejar e, ultrapassando alguns erros de localização e gralhas textuais, é difícil não ficarmos desapontados com a fraca qualidade dos diálogos.

Há personagens que decidem, aleatoriamente, discorrer sobre um acontecimento nosso no passado apenas para nos informar que o mesmo ocorreu. Os twists são previstos a quilómetros e o worldbuilding é apenas expositório e nunca nos é comunicado através da acção, do ambiente que nos rodeia – é sempre uma torrente de texto.

Muito arroz para pouca carne

Este desequilíbrio narrativo piora com o pouco tempo que Scarlet Nexus nos dá para criarmos intimidade com as personagens. À semelhança de Persona, temos a possibilidade de ter momentos de ligação com várias personagens, que nos permitem melhorar o nosso Brain Link com elas e, assim, ganhar novas habilidades de combate. O problema da escrita preguiçosa é que retira qualquer capacidade de empatia com as personagens – a dada altura, somos convidados a passear com a típica personagem estoica a locais mais trendy, para a ajudar a sair da sua zona de conforto.

Todo o diálogo retratado nesse elemento, ao invés de representar uma conversa natural, acaba por ser reflexo dos piores tiques dos JRPGs dos anos 90: blocos de texto onde a emoção não está no subtexto nem no contexto, está descrita de forma muito clara para não deixar dúvidas sobre como a personagem se sentiu.

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Tudo isto, e a gigantesca maioria das cutscenes, leia-se, são passadas em blocos de texto estático, com duas faces a movimentar a boca ao som da locução. Acabamos por ficar demasiado tempo a suspirar de cada vez que a acção é interrompida para mais um trecho de exposição, que aliada à rapidez com que poderão terminar o jogo, vos retira o impacto emocional de acontecimentos futuros do jogo.

Algures durante a narrativa, acontece um evento traumático a uma das personagens que, à partida, nos levaria a sentir algo. Contudo, fruto do pouco tempo que o jogo nos dá para criar laços ou sequer para perceber a ligação entre o protagonista e aquele momento, torna-se apenas vazio. É uma pena.

Scarlet Nexus oferece-nos, ainda, uma componente de crafting diretamente ligada ao sistema de sidequests que, em linha com a fraca qualidade da narrativa, decide não nos oferecer maior contexto sobre as personagens importantes da história, do universo que cria ou da sociedade onde nos insere, mas sim lançar-nos em eternas fetch quests ou combat quests.

Para melhorar as vossas armas, terão que recolher alguns dos materiais dentro destas sidequests, mas o incentivo não existe, a menos que se enquadrem na vertente mais completionist dos jogadores.

Considerações Finais

A banda-sonora e o setting são muito, muito interessantes: ao passo que o design das personagens principais está muito em linha com o que poderíamos esperar dum título nipónico com inspiração mais shounen, a música electrónica com elementos vaporwave e industrial casa com perfeição neste mundo cibernético.

É, no entanto, com muita pena que constatamos que Scarlet Nexus não nos deixa criar maior intimidade com o mundo e, sobretudo, com o combate soberbo e complexo que criou. Os designs dos Others, os inimigos principais, variam dos inspirados a preguiçosos, embora alguns bosses surpreendam pela positiva. E quando podemos de facto colocar mãos à obra e combater, conseguimos momentos de puro bailado: há poucas experiências em JRPGs de acção tão gratificantes como a combinação perfeita entre ataque, golpe de telekinese, ataque, habilidade especial, ataque e golpe de telekinese, para derrotar um inimigo de uma assentada só.

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Dá a sensação que Scarlet Nexus não sabe o que quer ser. É um excelente título de acção, que decidiu ser uma história complexa. E o problema, neste caso, é termos recebido um prato repleto de arroz, insípido e insonso, a soterrar um pedaço de carne suculento, delicioso e sumarento.


+ Combate dinâmico e complexo
+ Setting interessante
+ Banda-sonora com grande qualidade, algo que fica no ouvido

– Narrativa básica e fraca
– Desequilibrio entre narrativa e acção
– Escrita preguiçosa

N.R.: A análise a Scarlet Nexus foi realizada numa Xbox Series X com acesso a uma cópia do jogo gentilmente disponibilizada pela Gro Agency.

Carlos Duarte: Adulto de 30 e poucos anos que guarda, dentro de si, o garoto que se apaixonou por videojogos e por um ouriço azul. Escriba profissional de assuntos diversos, jogador dedicado da 1ª à 9º geração de videojogos.
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