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Análise SuperEpic: The Entertainment War

Sempre olhei para os jogos como mais que apenas divertimento puro. Talvez me envolvesse demasiado e por vezes acabava por dar demasiado valor à experiência, por mais bacoco que fosse o jogo, tentando sempre chegar ao lado de lá, o dos developers, pensando se haveria alguma espécie de mensagem que deveria ser apreendida por nós ao jogarmos o seu produto.

Desde pequeno que me debati, embora de forma simplista, com as consequências para mim, para o mundo, para as pessoas, se nos fosse dado a ver o outro lado, do que acontece a quem vive nos mundos criados pelos videojogos da minha infância. O que aconteceria às terras desbravadas pela velocidade estonteante do Sonic, ou pelos ataques desferidos em qualquer jogo de Dragon Ball? O que seria de todos aqueles NPC’s dos JPRG’s da minha juventude, depois de lhes ter roubado todo o dinheiro acumulado em armários e cofres?

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Sim, eu era uma criança estranha. E curiosamente, à medida que cresci, fui aproveitando mais os jogos como pura diversão. E eis que nos aparece SuperEpic: The Entertainment War, que diz ao que vem: há uma guerra a decorrer no mundo dos videojogos, e nós jogadores estamos a perder. Será este jogo divertido e cheio de gags parvos, ou haverá aqui uma mensagem?

No futuro presente

O século XXI está prestes a terminar, e o mundo dos videojogos está dado como morto. Existe apenas uma mega empresa chamada RegnanCorp, constituída por porcos gananciosos, que apenas produzem mobile games aos magotes, tentando extorquir quem os joga com as (mal)afamadas microtransações. O seu plano final? Retirar todo o prazer de jogar, fazendo tudo ao seu alcance para que jogar seja apenas uma adição, faturando no processo.

Obviamente, precisamos dum herói, que é convocado para esta luta através duma mensagem recebida na sua consola retro enviada por uma organização secreta que o vai ajudando ao longo dos corredores do enorme e variado edifício da RegnantCorp…

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O herói é Tan Tan, um guaxinim com um verdadeiro amor pela alma dos videojogos agora corrompida. E ao seu lado (bem, por baixo dele, para sermos mais exatos) está Ola, um lama que serve de sua montada em modo silent sidekick. Dupla improvável? Sim. Mas ao jogarmos, ficamos a perceber que faz ainda menos sentido. E resulta! Esta é talvez a primeira das improbabilidades que acabam por funcionar num jogo e história estranhos, mas com muito conteúdo.

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Metroidvania, mas em bom

Nos vários níveis (andares) do edifício RegnantCorp somos obrigados a pensar e a utilizar uma grande panóplia de ataques e de combos utilizando os botões X, Y e B, que quando são bem executados, são destruidores e satisfazem o mais exigente dos jogadores.

Os inimigos, além de diferenciados, apresentam padrões diversos de ataque que temos de respeitar, correndo o risco de nos levarem boa parte da barra de energia, principalmente se se encontrarem numa nova zona que vamos começar a explorar e para a qual podemos não estar ainda preparados. Há que fazer um pouco de grinding, há muitos consumíveis para comprar e há muita observação de inimigos para fazer, se queremos ajudar Tan Tan e Ola na sua missão. Mas todos estes ataques, e alguns especiais que podemos ir adquirindo, consomem as barras de energia e rage, por isso é preciso moderar a sua utilização.

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E claro, como um bom metroidvania que se preze, existe, num recanto escondido de cada um dos andares desta malograda corporação, um boss que faz por testar a nossa atenção e reflexos. Os últimos inimigos de cada andar estão muito bem representados, e mais uma vez, criticam várias das posições empresariais que aprendemos a odiar nesta indústria: temos o Vampiro da monetização, que nos suga energia e dinheiro, o Game Designer que roubou todas as ideias originais de videojogos para os poder transformar em títulos mobile. É apenas mais um pormenor que diverte e nos dá uma visão bem pessoal do que a editora Undercoders pensa sobre o estado da indústria em que trabalham.

Existem também ocasionais puzzles, que vão dos mais simples (partir uma parede) aos mais complexos (encestar uma bola de basquetebol para que o marcador assinale um número de código). Em alguns destes desafios está mais uma vez demonstrado aquela parte “estranha” que nos faz sorrir neste jogo.2

Sprites = NeoGeo

A reação é imediata: a partir do momento em que este jogo entrou na consola, somos assoberbados pelo cheiro pesado e pelo barulho intenso das antigas salas de arcade. O seu estilo retro, com sprites lindos de morrer, melhoram a experiencia ainda mais. O jogo não aperta muito, graficamente, com a consola, e isso faz com que o jogo se torne incrivelmente rápido, sem grandes falhas e sem deslizamentos de imagens com qualquer tipo de paragens, mesmo com resmas de inimigos para derrotar no ecrã.

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Cada um dos andares tem visuais personalizados, bem como inimigos dedicados a esse nível. Houve um cuidado enorme para honrar o Neogeo, e isso transparece em tudo o que nos é dado a conhecer nesta obra.

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Cross-Platforming – da Switch para o telemóvel!

A ligação entre a nossa consola e o mundo do mobile gaming, bem como a crítica presente ao longo de todo o jogo ao tais títulos para smartphone, tem um twist que não nos lembramos de ter visto em qualquer outro jogo. Algum do loot não está disponível ao jogador através de simples puzzles, precisamos do nosso telemóvel. Como? Em algumas das paredes de certos níveis, podemos encontrar alguns códigos QR que ao fazermos a sua leitura com o auxílio do telemóvel, somos levados para uma página web onde somos confrontados com alguns daqueles jogos mobile que SuperEpic desdenha. E ao jogarmos esses títulos, são-nos desbloqueados certos itens, bem como in-game currency.

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É super divertida e inteligente esta ligação, que nos leva mesmo a experimentar este tipo de jogos que profanam o nosso mundo. E a Undercoders professa o seu “ódio” de forma literal, ao fazer o jogador passar por esta experiência, de forma muito inteligente.

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Considerações finais

SuperEpic: The Entertainment War é, no fundo, uma homenagem ao mundo dos jogos de antigamente cheia de armas super inventivas, ambientes cheios de variedade, bebendo inspiração em Sonic ou Castlevania e música variada, que mostra o amor pelos jogos clássicos. Remete-nos para outros tempos em que se dava valor à repetição, em que cada jogo era tratado com respeito, seja por parte de quem comprava, mas principalmente por quem os fazia, não sucumbindo aos interesses puramente económicos do negócio.

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Tal como os seus antecessores de décadas passadas, dá-se ao respeito pela sua dificuldade, respeita o jogador ao dar-lhe um verdadeiro desafio, com aqueles corredores pejados de inimigos, cada um com os seus padrões de ataque, ao mesmo tempo que providencia um olhar assustador sobre aquilo em que a indústria se está a transformar. Mas com muita graça e cheio de pequenos easter eggs, como os verdadeiros jogadores sempre gostaram.

N.R.: A análise a SuperEpic: The Entertainment War foi realizada numa Nintendo Switch com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Numskull Games

SuperEpic: The Entertainment War - Jogo super divertido e lindo de morrer
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Paródia mordaz ao mundo dos mobile games
Variedade dos bosses
Visuais e escrita bem conseguidos
Morrer e voltar a morrer pode desmotivar
É fácil perdermo-nos nos corredores da RegnantCorp
Sem autosave
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