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Análise Superliminal

Porque é que sonhamos? E se calhar mais importante do que isso: o que significam? Estas e outras perguntas são feitas a toda a hora, desde o início dos tempos. Não há quem não se interrogue pelo mistério que envolvem os pequenos filmes que passam pela nossa cabeça enquanto dormimos. Terão eles influência no nosso futuro? Serão apenas reflexos de outras vidas vividas ou imaginadas? Ou será apenas a nossa máquina craniana a pregar-nos partidas? Superliminal vai onde poucos jogos foram e tem apenas um propósito bem simples: baralhar-nos, brincar com a nossa perceção das coisas e mostrar-nos sempre um outro lado que se esconde por trás de ideias preconcebidas.

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Deixem o café de lado, vão buscar os carneirinhos que precisem e mergulhem nesta experiência em forma de videojogo que promete tornar alguns sonhos em pesadelos! Superliminal chegou…

A mente sente o que os olhos não veem

No Pierce Insitute, o jogador encontra-se envolvido num inovador programa de terapia de sono chamado de “Somnasculpt”. Mas tudo o que se sabe é que o jogador está perdido no seu próprio subconsciente e ninguém responsável faz ideia de como o retirar do sono profundo que ameaça tornar-se eterno. Daqui partimos para uma curta, mas intensa experiência de jogo em Superliminal. O jogador anda em diferentes andares que se assemelham a diferentes fases de sono, cada uma com os seus elementos diferenciadores, mas onde a forma de progredir até chegarmos ao elevador que nos fará ascender até ao desejado acordar é composto de inúmeros puzzles que brincam com a nossa perceção daquilo que pensamos estar a ver. Há objetos de tamanhos e  a distâncias diferentes que vamos moldando quando lhes pegamos e que pomos ao nosso serviço para nos ajudar na progressão. Em Subliminal, tudo o que parece não é. Existem vários conceitos que nos fazem ver algo que não é real, ilusões de ótica que temos de desbloquear para podermos continuar a explorar os diferentes níveis de consciência.

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É um jogo que pode perfeitamente ser ultrapassado em pouco mais de três horas, mas isso não lhe retira interesse, pois somos compelidos a avançar sempre um pouco mais, devido ao nível de satisfação que retiramos sempre que conseguimos desbloquear a rasteira visual que prepararam para nós. Não há grande valor na repetibilidade do jogo, a não ser que se esteja mesmo interessado em alcançar diferentes achievements. Subliminal é para ser apreciado quase de um só fôlego e depois quase largado. E não há nada de errado com isso.

Paradoxo sonoro

Aquilo que ouvimos também tem um papel preponderante na experiência que Superliminal nos proporciona. As tiradas duma voz feminina robótica que parece em eterno conflito com o médido condutor do estudo de sono em que nos encontramos e de onde não conseguimos sair, saem em momentos avulsos e são um dos momentos altos do jogo, fazendo de meras frases robotizadas em tiradas carregadas de ironias e sarcasmos.. Como toda a experiência de jogo é totalmente desconcertante, esperamos sempre que alguma informação útil seja providenciada, como se aquela voz nos pudesse guiar no meio de todo este caos em forma de sonho ou pesadelo. Mas o que acontece é exatamente o inverso: todas as tiradas deste robot servem apenas para reforçar que todos os que conduzem o estudo se encontram tão perdidos quanto o jogador e isso é transmitido através de algumas tiradas hilariantes. Sente-se uma forte influência de GlaDOS de Portal, bebendo daqui inspiração. As próprias mensagens gravadas pelo médico responsável do Pierce Institute estão cheias de inutilidades galantes ou apenas de pensamentos desconexos que nada ajudam o jogador, mas que os tornam certamente mais ricos e cheios de pequenos apontamentos humorísticos.

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A música que está quase sempre presente também não desilude. Resulta duma espécie de cruzamento entre aquilo que normalmente ouvimos num elevador, mas com a dose de classe que um bom piano pode providenciar. Toda a sua introdução pode parecer algo incongruente com tudo o que se passa à nossa volta, mas resulta em mais um elemento que dá aquela sensação de imersão que só um programa de estudos sobre sonhos pode ter. Não é dominante, mas tem força suficiente para se destacar por entre mais um puzzle desafiante.

Considerações finais

Superliminal é sem dúvida diferente. É uma experiência única e quase antagónica do que aquilo que estamos habituados a ver e viver na pequena portátil da Nintendo. É também algo que merece ser mais falado do que realmente é, mas recomenda-se apenas que se fale com quem já a tenha experienciado. É como se fosse um livro em que a história não se conta, aberto a diferentes interpretações, e onde as folhas se encontram dobradas se não olharmos da forma certa. E a forma como as desdobramos, abre-nos os olhos para aquilo que querem que realmente vejamos, mesmo que por vezes esteja mesmo ali à nossa frente.

Ótimos puzzles em que a perspetiva é tudo, visuais imaculadamente neutros e por vezes vazios que fazem lembrar The Stanley Parable e com curtos, mas geniais pedaços de diálogo que trazem memórias de intervenientes de Portal… Não há como errar!

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Superliminal transporta-nos para um mundo sonhado que tem mais ligações com a realidade do que parece. Desafiante e atrevido, brinca com a nossa mente e faz pensar. E nunca fez tanto sentido como neste ano.

+ Divertimento com mensagem

+ Desafia sem frustar

+ Música e diálogos

– Gráficos fraquinhos nalguns cenários

– Alguns glitches

– Experiência muito curta e quase irrepetível

N.R.: A análise a Superliminal foi realizada numa Nintendo Switch com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Evolve PR.