ASSASSIN’S CREED SHADOWS

Assassin’s Creed Shadows – Análise

Tenho uma relação conturbada com a série Assassin’s Creed. Por “culpa” da Ubisoft, “culpa” minha, mas principalmente pelas expetativas que tenho a cada jogo que é lançado.

Lembro-me do primeiro como se fosse hoje, um jogo totalmente diferente do que se fazia até então e as suas sequelas diretas foram excelentes. Assassin’s Creed 2 e Brotherhood foram um sucesso e jogos que me fizeram acreditar na Ubisoft e no que podiam fazer com todas as épocas da humanidade. Depois destas obras primas, só senti prazer de voltar a jogar um bom Assassin’s Creed com Origins, o início de uma nova era na série, onde muita coisa foi alterada mantendo o espírito da série. A partir daí joguei Odyssey durante 85 horas (e parece que não tinha progredido quase nada) e Valhalla (aborreceu-me, mas um dia quero voltar porque gosto da época que se insere) mas não cheguei a terminar.

Agora com Assassin’s Creed Shadows, a Ubisoft finalmente entregou o que os fãs pediam há bem mais de dez anos, que a série tivesse um episódio no Japão, porque as suas mecânicas chave encaixavam perfeitamente no que esperávamos em personagens desta época. Assassinatos Ninja? É para já!

Poucos jogos são lançados com a bagagem que Shadows traz. Esta expetativa, criada pela demora em trazer os jogos para o Japão feudal, alguns tiros nos pés dados pela Ubisoft e o adiamento do lançamento poderia trazer algum receio aos fãs, mas o que queremos é apenas um jogo funcional, coeso, imersivo na cultura japonesa e que traga também coisas novas.

Agora, com dois protagonistas, um mapa enorme e acertos nas suas mecânicas, esta nova entrada na série é uma lufada de ar fresco, mesmo que tenha a repetição normal de um jogo Ubisoft e infelizmente há um jogo no mercado há anos que faz quase tudo melhor e pergunto-me como seria se Assassin’s Creed Shadows tivesse saído há anos atrás.

Guerra no Japão Feudal

Durante o século 16, lá para o fim do período Sengoku, o Japão estava envolto numa guerra civil. A contínua batalha pelo poder entre shoguns (comandantes do exército japonês) e daimyos (os magnatas, lordes feudais) junta o destino dos nossos dois protagonistas, Naoe (a shinobi) e Yasuke (o samurai) e as suas tragédias pessoais às mãos dos Shinbakfu, os templários que assassinam o pai da shinobi no início do jogo e onde a nossa aventura começa unindo na vingança os nossos protagonistas.

Neste tumultuoso período da história japonesa, Shadows foca-se mais em políticas internas e também no estado geral do mundo que em qualquer Assassin’s Creed, enquanto tenta contar uma história séria, e é refrescante ver uma abordagem diferente neste tipo de jogo, onde a cultura do Japão feudal é bem representada.

Apesar de começar forte, a história eventualmente se separa em diversos enredos que não sentimos muito ligados ao conflito principal (mesmo que fortaleça o lore do jogo) culminando numa conclusão que achei apressada e fiquei a pensar se tinha falhado alguma coisa, mesmo que tivesse feito tudo em termos de missões e passando mais de 85 horas no jogo.

Mesmo assim, Shadows agarrou a minha atenção em alguns pontos de história já que alguns personagens e os seus dramas são bastante interessantes.

De notar que relativamente a toda a história de Assassin’s Creed, não há quase nenhuma referência ao estado atual do Animus nem da história presente da série, excetuando uma variedade de missões, mas nem sequer são obrigatórias.


O melhor de dois mundos

A fórmula dos jogos mais recentes tem sido simples, entre a furtividade necessária a atravessar telhados e entre arbustos, e combate frenético quando a primeira abordagem não resulta. Em Shadows, cada personagem encarna um estilo próprio. Naoe é melhor nas ações furtivas e Yasuke é um tanque de combate, não querendo dizer que essas ações são exclusivas de cada um, mas claramente há um estilo em cada um que podemos usar preferencialmente e para cada situação que nos apareça.

A naturalidade de Naoe em se esgueirar pelas sombras, subir a telhados e assassinar inimigos com a sua lâmina escondida (bem ao estilo de Ezio) é perfeita para quem gosta de fazer as coisas pela calada, muito diferente de Yasuke. Ao contrário de Naoe, Yasuke absorve muito dano e os seus ataques e armas bastante fortes podem dizimar grandes grupos, até porque temos à escolha golpes que podem varrer áreas. É mais lento e menos ágil, mas poder escolher o personagem que podemos jogar, abre bastante as possibilidades em como abordar o vasto mapa de Shadows.

Ao início fiquei preocupado que esta divisão não resultasse, mas nada se fecha perante esta escolha, só determinadas missões de cada personagem, e não são muitas. Se os personagens fossem muito iguais, mas não o são, e como muitas das mecânicas foram melhoradas, deu mais prazer em jogar envolvendo as nossas escolhas.

Mesmo que tenha encontrado novamente satisfação em jogar um Assassin’s Creed (em muitos anos), a repetição habitual começou a instalar-se ao fim de umas dezenas de horas, mas confesso que bem mais tarde que o normal. Falta de variedade de inimigos e pouca criatividade no que diz respeito a objetivos secundários começou-me a cansar aos poucos e só a minha vontade de terminar por completo o jogo me fez continuar.

Combate bastante dinâmico

A distinção entre shinobi e samurai que separa Naoe e Yasuke estende-se à jogabilidade e se à partida não parece, ao fim de umas horas é notório que as diferenças são enormes entre os nossos personagens.

Naoe é a “clássica” protagonista de um Assassin’s Creed, excelente na ação furtiva, consegue usar uma variedade de armas/acessórios como as kunai, shuriken, bombas de fumo e até pequenos sinos que servem para distrair os inimigos. É capaz de lutar frente a frente, mas a arte do seu combate é defletir ataques e esquivar-se dos mesmos, mesmo com uma variedade de ataques especiais que enfatizam a sua velocidade e mobilidade.

Por sua vez, Yasuke é um monstro de combate. Como samurai é profícuo com a sua lâmina, a katana, cortando tudo e todos, bem como as suas armas secundárias, naginata (uma espécie de lança), kanabo (um cilindro pesado), teppo (espingarda) e um arco. Ele consegue rebentar com portas e barricadas ao correr contra elas e quebrar a postura dos inimigos com os seus fortes golpes. O que lhe falta em furtividade (que mesmo assim consegue esconder-se em arbustos e outros), compensa em ser a escolha certa em cenários que o confronto é inevitável.

Cada um tem os seus pontos fortes e fracos, mas o jogo compensa-nos com a decisão certa na altura certa.

O combate em si é muito mais fluido que os seus antecessores e como é muito focado em armas brancas, o enfase na mecânica parry é bem maior neste jogo.

Geralmente lutamos contra um inimigo ou grupos deles, golpeando um a um enquanto pensamos nas nossas ações defensivas. A maioria dos oponentes vem de espada em punho e a nossa ação mais comum será esperar pelo seu ataque e bloquear com o parry, abrindo uma janela para uma combinação nossa. Existem parries azuis e vermelhos. Os azuis avisam para ataques consecutivos dos inimigos e os vermelhos para ataques indefensáveis e nestes últimos, enquanto Yasuke pode envergar uma armadura especial para o efeito, Naoe não tem escolha senão esquivar-se e se esta ação for efetuada no limite, o oponente fica totalmente vulnerável a um contra-ataque devastador.

Estes avisos em esquema de cores dão o mote para um combate fluido e bastante satisfatório que, com observação e atenção aos pormenores conseguimos derreter grupos de oponentes com ataques viscerais deixando um rasto de morte por onde passamos.

Considerações finais

Depois de 85 horas e terminar todos os objetivos, posso dizer que Assassin’s Creed Shadows é um excelente regresso da série. É um dos jogos mais bonitos dos últimos anos e até a versão analisada, numa Xbox Series S é bonita e sem grandes problemas técnicos, que costumam pejar os jogos da Ubisoft.

O jogo tem bastantes micro transações e até um battle pass, mas nem me foquei nesse aspeto da análise para não lhe dar muita atenção, em minha opinião estas tentativas de lucrar mais com equipamentos (que trazem novas habilidades passivas), não servem para um jogo deste género.

Assassin’s Creed Shadows não é perfeito, nem perto disso porque ainda tem demasiadas coisas que não servem sequer para a história e só lá estão para adicionar horas ao jogo e só os mais hardcore vão querer limpar todos os objetivos do mapa, mesmo não adicionando nada à experiência.

nota 4

+ Um grande regresso da série
+ O combate com ambos protagonistas
+ Dos jogos mais bonitos do ano

– Micro transações (pay to win)
– Demasiado grande