Elden Ring

Elden Ring – Análise

A minha história com os Soulslike da FromSoftware é muito forte. Elden Ring é o continuar deste meu percurso.

Não sou um jogador que jogue competitivamente ou seja particularmente bom em alguns tipos de jogos. Gosto de jogar aventuras e mesmo assim tem de me cair no goto. Em 2009 quando saiu o Demon’s Souls original, foi lançado primeiro nos Estados Unidos e foi muito bem recebido pela critica. Importei o jogo porque me atraiu bastante, mas quando o tive nas mãos não passava do primeiro nível. Ainda joguei bastante, mas com pouco sucesso em perceber tudo o que me rodeava. Ao sair Dark Souls, terminei o jogo em 4 meses, o trabalho não deixava para mais. Resolvi então recomeçar Demon’s Souls de novo e finalmente terminei-o com um sentimento enorme de dever cumprido, sentimento esse que só esta série me traz mesmo morrendo vezes sem conta.

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Tinha achado aqui algo que nunca tinha sentido com os videojogos e um novo género preferido.

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Elden Ring oferece das melhores sensações de grandeza que já experienciei ao explorar um mundo aberto num videojogo. A sua escala e sentido de liberdade contrasta com os horrores que encontramos nas suas planícies desoladas.

A FromSoftware apresenta aqui uma evolução robusta das mecânicas da fórmula Soulsborne e oferece um nível inigualável de diversidade do nosso personagem, permitindo-nos atacar o jogo da maneira que nós quisermos. Até podemos começar com uma classe especifica, mas podemos ir modificando o nosso estilo de jogo ao longo do tempo. Elden Ring também sofre com algumas ideias já repetidas, mas tem resultado com os outros jogos Souls e aqui não é exceção.

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O mundo aberto de Elden Ring parece oferecer a tranquilidade da natureza, o espetáculo visual de quem está no topo de uma montanha a admirar a vista, mas não nos podemos fiar nisso. Existe sempre uma sensação de familiaridade com o mundo, mas também de inquietação lúgubre principalmente quando entramos numa zona pela primeira vez. num momento específico por exemplo, dei-me conta a atravessar um lago cheio de esporos envenenados quando um dragão enorme desce dos ares e liquida um grupo de inimigos que rodeia uma fogueira. Ele pousa, e quando vejo uma barra de vida no fundo do ecrã, sei que do nada tenho de me preparar para uma batalha épica e tremo por dentro.

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Quando vejo uma área ao longe começo logo a contemplar o que posso fazer e como chegar lá, é esse poder que este tipo de aventura me traz, exploração de um mapa extenso e interessante e tentar absorver todo o lore. E num jogo da FromSoftware isso quer dizer que ninguém nos dá nada de mão beijada, temos de suar muito, ler muito e ir juntando as peças uma por uma. Foi o primeiro jogo em muito tempo que usei um bloco de notas para seguir quests e apontar pequenos pormenores da história. Os jogos Soulsborne sempre nos surpreenderam com enormes castelos e monumentos espetaculares, mas muitas vezes eram apenas cenário, em Elden Ring quase tudo o que é visível pode ser visitado.

Ao atravessas estas planícies podemos facilmente encontrar ao acaso áreas que geralmente identificamos imediatamente com um título da FromSoftware. Vemos algo interessante e pensamos, acho que consigo chegar lá. Estes momentos são uma grande parte do que faz Elden Ring especial, dá-nos oportunidade e esperança de descobrir segredos, criando as situações mais memoráveis do jogo.

Atmosfera como nenhuma outra

The Lands Between, o mundo de Elden Ring como está estruturado em mundo aberto, torna o jogo mais acessível que os outros jogos. Estes ambientes estão cheios de fauna e flora e áreas coloridas e vibrantes, seja nas florestas mais verdejantes, aos solos pútridos de Caelid que carregam um vermelho sangue e tudo queimado como se de uma área desolada e esquecida se tratasse.

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A liberdade que temos significa que se estivermos a sofrer com um boss, podemos evitá-los completamente, continuar a explorar e descobrir sites of grace, os checkpoints que substituem as bonfires nos jogos Souls. Elden Ring é tem um mapa gigante e precisamos de todos os checkpoints descobertos para poder fazer fast travel a nosso belo prazer. Logo no início damos de caras com o Tree Sentinel, um boss demasiado poderoso para o nosso estado inicial. O desafio é real e podemos tentar eliminá-lo, mas é óbvio que não estamos ao nível desejado.

A FromSoftware diz-nos desta forma que temos de explorar e aplicar as runas que apanhamos a aumentar o nosso nível, melhorar equipamentos, armas e feitiços. Esta acessibilidade começa com o mapa, podendo marcar pontos de interesse e examinar com mais exatidão os pormenores em The Lands Between. E por vezes são os pormenores que ditam a nossa progressão.

O sentimento claustrofóbico de Dark Souls raramente é sentido em Elden Ring. Este mundo é libertador e a FromSoftware trocou a opressão da linearidade pela liberdade do mundo aberto, um passo chave para a série.

As masmorras continuam… imaginativas

Mesmo com esta liberdade que falamos, não se pense que é um passeio no parque. Ainda temos as masmorras que estamos habituados nestes jogos e que costumam ser uma dor de cabeça. O que a adição de um mundo aberto fez em Elden Ring é que estas masmorras estão contextualizadas num mapa. Antigamente como havia linearidade nos caminhos dos jogos Souls, uma localização ou outra parecia não encaixar muito bem.

Aqui, encontramo-las ou vemo-las ao longe e sabemos que as podemos explorar de alguma maneira. E esta tensão ainda existe. Desde encontrar um elevador que nos leva a um mundo subterrâneo enorme que me deixou perplexo, a subir a uma simples torre, abrir um cofre e ser teleportado para um lugar longe de onde estamos rodeados de inimigos com nível altíssimo.

A FromSoftware é mestre do ambiente num videojogo, ao entrar numa localização sentimos que o tom está estabelecido. Que nível de desafio nos aguarda. Estas áreas mais clássicas são excelentes e nunca vou esquecer os primeiros passos que dei para Stormveil Castle. Batalhar um inimigo terrível numa ponte que é o caminho para um castelo colossal enquanto uma música orquestrada ecoa nos meus phones, carrega a tensão toda para cima de mim e temos de lidar com isso. É isto que são os Soulslike, é isto que espero nestes mundos de fantasia negra criados por Miyazaki e a sua equipa.

Nestas masmorras “principais”, as Legacy Dungeons vemos o design imaculado aplicado ao pormenor no jogo. Existem caminhos secretos e áreas para explorar e fazemo-lo de maneira não linear. Como agora até temos um botão para saltar, podemos fazê-lo para telhados e até escalar pequenos muros e estruturas descobrindo itens secretos. Só temos uma certeza, que começamos numa entrada e no fim temos um boss, tudo o que fazemos dentro destas áreas é à nossa maneira.

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Arte é sublime, o som é aterrador

Num título de fantasia negra, duas coisas são obrigatórias para criar o ambiente. A arte gráfica e a banda sonora em conjunto com os sons do mundo e das criaturas. E que nível de excelência encontramos em Elden Ring. A qualidade gráfica pode ser debatível, não está no mesmo patamar que outros jogos desta geração, mas a arte e a imaginação que a FromSoftware criou aqui é trabalho de autor. É impressionante que ao fim de tantos jogos nesta temática, ainda conseguem tirar da cartola os designs mais impressionantes para bosses que já vi. Para não falar de todas as animações para centenas de modelos. É realmente de excelência, tanto que fiquei de boca aberta a pensar se havia de lutar ou de olhar para alguns dos bosses que me passaram à frente.

A nível sonoro é irrepreensível. Músicas clássicas com coros líricos fantásticos e de uma magnitude que nos põem ainda mais tensão na hora da batalha. No mundo aberto e quando a cavalo no Torrent a música ambiente começa quando nos aproximamos de perigo, avisando-nos para algum percalço que esteja no caminho.

Todos os sons de criaturas são aterradores, que aqui é uma coisa boa o que nos faz entrar ainda mais no mundo criado por Miyazaki.

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Novas maneiras de lutar

Existem novos sistemas que expandem o combate como o conhecemos desde Dark Souls 3 por exemplo. As Ashes of War embebem as armas com habilidades especiais e ao mesmo tempo podemos alterar a afinidade da mesma. Se por ventura quisermos fazer reset às stats do nosso personagem podemos rapidamente alterar as afinidades das armas. Como exemplo, se a nossa arma tiver a afinidade Keen, ela fica melhor com a stat Dexterity e existem várias afinidades, tornando assim mais fácil a personalização de uma build. É só descansar num ponto de grace e alterar sem custos nas nossas preciosas runas. As Ashes of War funcionam com armas mais comuns, as armas especiais já têm habilidades inerentes e não podemos alterar as suas afinidades. As habilidades especiais que vos falo podem ser de defesa e de ataque, existe uma, a Storm Wall que cria uma rajada de vento ao manusear o escudo, impedindo projeteis como setas de nos atingir, e há uma habilidade semelhante que repele magia.

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 Existem Ashes of War para todas as classes de armas e podemos ter várias armas em rotação já artilhadas com estas habilidades, como loadouts. Desde machados que que me permitem pisar o chão e é criada uma onda de gelo, uma rapier que canaliza pontos de vida num corte devastador e duas espadas que podemos embeber com magia holy.

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Temos novos movimentos não só a nível defensivo, mas na progressão e abordagem aos inimigos. O rolar, desviar, defender com o escudo e o parry, podemos agora saltar (temos um botão só para isso ao contrário dos outros jogos Souls) influenciado por Sekiro com certeza, faz com que a exploração e combate ganhem nova dinâmica.

Fiquei espantado por ter agora a posição de agachado e inclusive podemos esconder em vegetação para além de surpreender os inimigos. Outra novidade inspirada por Sekiro certamente e que faz sentido em Elden Ring.

Se o mundo nos dá recursos, fabricamos itens

Outra coisa que não esperava que é uma novidade é que Elden Ring introduz crafting e faz muito sentido nesta nova fórmula em mundo aberto. A pé ou no Torrent (o nosso fiel animal, chamar cavalo é redutor) podemos apanhar as mais variadas ervas, fungos e substâncias muito estranhas. Apanhem o mais possível de tudo o que possam encontrar para terem escolha de materiais em áreas futuras. A chave do crafting está nos livros de receitas, ao descobri-los ou comprá-los, as receitas ficam desbloqueadas e disponíveis e acreditem que há muita coisa para ser usada. Toda a ajuda é pouca em The Lands Between.

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A FromSoftware introduz também um novo flask, temos dois, um para recuperar vida e outra FP que é a magia. O Flask of Wondrous Physick contém uma poção que é personalizável pelo jogador e emprega buffs ás nossas stats. Entre aumentar a recuperação do nosso stamina, restaurar vida e proteger-nos contra um ataque, o buff é personalizável e só o podemos usar uma vez até o restaurar de novo num checkpoint. Isto é feito com pérolas que encontramos em masmorras secundárias e é bastante útil antes de bosses muito difíceis e ao nos dar benefícios passivos em zonas com muitos inimigos.

O sempre útil PvE e o famigerado PvP

O multijogador neste género de jogo sempre foi muito interessante e só procuramos ajuda se quisermos, mas não nos livramos de umas invasões, o PvP dos Souls. Em Elden Ring, e como é em mundo aberto, temos mais espaço para tentarmos modos cooperativos com randoms. Se quiserem convidar os vossos amigos, há um sistema de password em que podem emparelhar servidores. Para descobrirem o perfil de outros jogadores, têm de ativar as summoning pools, pequenas estátuas que estão em locais estratégicos do mapa e masmorras.

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Nem tudo são rosas neste tão aguardado jogo e quase perfeito por outras razões. Existem ainda muitos problemas técnicos em jogos da FromSoftware. A qualidade gráfica, principalmente texturas ao explorar o mapa pode ser pobre e há repetibilidade nestes modelos. Em modo performance não chega aos 60 fps, que fica aquém claramente do que já se faz. Quando fazemos fast travel ou andamos muito rápido no terreno, há pop in de relva e outros modelos, ou seja, muitos problemas de otimização o que já não é novo.

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Eu sou sempre critico com a Bethesda e Fallout por exemplo em que insistem em ter o mesmo motor de jogo com as mesmas inconsistências e tenho de ser crítico com Elden Ring. Depois de cinco jogos com este motor de jogo e com a aprendizagem que se faz, sinto que Elden Ring deveria estar mais polido e melhor nestes aspetos.

Consideração finais

Elden Ring não é tão arrebatador e surpreendente como Demon’s Souls, mas o fator surpresa foi esse mesmo, algo tão diferente que criou uma legião de fãs que aos poucos foram evangelizando outros. É uma mistura da série Souls e Sekiro, e arriscando no mundo aberto, culminou num dos melhores jogos do ano e que será lembrado por muitos anos. Não é isento de falhas, muitas delas que já vimos nos outros jogos da série e só se vai olhando para o lado porque tudo o resto é arrebatador. É o jogo da série que é mais fácil de progredir porque há sempre algo para fazer aos poucos.

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É a evolução natural dos jogos da FromSoftware que ao aproveitar ideias de outros jogos, quase que as fazem deles. E fazem-no muito bem.

nota 4 recomendado

+ Localizações e ambiente lindos
+ Variedade de inimigos e design dos bosses
+ Os novos sistemas encaixam muito bem
+ O sentido de escala

– Muitos jogadores ainda se podem sentir assoberbados
– Problemas técnicos que não são de hoje
– Falta de opções de acessibilidade para jogadores com menos capacidades físicas

N.R.: A análise a Elden Ring foi realizada numa PlayStation 5 com uma cópia do jogo adquirida pelo Future Behind