Oddworld Soulstorm

Análise Oddworld: Soulstorm

Quem conhece bem a saga da Oddworld Inhabitants sabe e tem como certas duas coisas: que este mundo é muito mais do que um cenário distópico com mecânicas dos Lemmings, pequenos bichinhos sem cérebro prontos a mergulhar para qualquer abismo, e que a melhor utilização de um botão em qualquer jogo em qualquer consola ou geração foi o botão do traque. Sim. Traque.

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Se o leitor nunca ouviu falar deste infame e divertido botão e se os Lemmings são apenas uma possível marca de pastilhas elásticas coloridas vindas dos lados americanos, é bem possível que este refazer de Oddworld: Abe’s Exoddus, original de 1998, seja algo desconhecido. Mas como muitas das coisas que conhecemos, o prazer de as descobrir será sempre aquilo que nos motiva a desbravar novos ou velhos obstáculos, neste caso no dantesco mundo dos Mudos. Não é um jogo de tiros. Nem um RPG. Não se enquadra em nenhuma das categorias que habitualmente se fecha cada título. Diga-se então que Oddworld: Soulstorm é no fim de contas um jogo de e para morrer. Curiosos? Sigam Abe e a sua cruzada eterna para salvar os seus companheiros de raça do extermínio por parte dos Glukkons!

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Um herói (Abe)nçoado

Rupture Farms – o local onde o nosso herói esfregava chãos e onde os da sua espécie eram transformados como gado vivo numa bebida aditiva – e altamente inflamável – surge já como ultrapassado, sendo Abe, um pobre idiota com um sentido de humor realmente macabro, o escolhido por deuses ancestrais para ser o salvador da sua espécie da extinção. Apesar do seu ar tonto e voz super cómica, não se deixem enganar: Abe tem um manancial de armas que lhe vão permitir ultrapassar os diversos níveis, escapando de inimigos e guiando passo a passo os seus até à salvação final. Vasculha potes em busca de itens para criar uma série de dispositivos muito úteis, como cordas para prender os perigosos Sligs, ou até uma poção, que será a chave para tratar o seu povo que parece sofrer de uma maleita misteriosa que os mata…

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O ambiente de Oddworld: Soulstorm tem tanto de pesado mas belo, com um argumento de ruína e desespero de um povo que se tenta libertar de uma vida de escravidão e um mundo descrito visualmente por horas de cenas cortadas que pouco ficam a dever a filmes internacionais de animação. Este é um dos grandes ângulos bem produzidos por este título, que acaba por contar uma estória de tristeza, miséria, morte e superação com um clima muito negro.

O jogo em si… É uma conversa diferente. É trazer uma bola anti-stress.

A frustração faz parte do charme

Imagine o jogador que se encontra a participar como líder do maior jogo de imitação, ok? Agora acentue a esta tarefa o facto de estar a liderar centenas de corpos vazios de conhecimentos e consciência. Esta é a experiência que serve de base ao jogo, pois Abe tem que guiar os seus amigos até à liberdade num mundo cheio de perigos para todos.

O herói pode vociferar uma série de comandos simples para que os companheiros Mudokons possam ultrapassar incólumes os níveis que estão carregados de perigos e inimigos. Para juntar a esta tarefa já frustrante devido à fraca IA dos possíveis salvados, há uma série de bugs que tornam esta experiência bem mais complicada, como ficarem como que presos numa parede invisível, mexerem-se sem lhes ter sido dado qualquer indicação… Aquilo que já aparenta ser difícil, não fosse este um jogo com a escola de consolas passadas da Sony onde a dificuldade não se escolhia, tinha que se lidar com ela. Use-se a bola anti-stress.

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Mais desafiante? A composição de níveis, cheios de perigos e inimigos, que serão implacáveis a qualquer som extra que Abe provoque, recomendando-se o andar nas pontas dos pés ou aguardar a sua passagem dentro de armários convenientemente colocados. As provações vêm de todos os lados: Sligs armados até aos dentes, dificuldades ambientais, caminhos trancados, puzzles desafiantes… é um desafio constante e em poucos jogos a expressão “tentativa e erro” fez tanto sentido.

Porque o jogador vai errar muito e a morte do nosso querido Mudokon de pontos cruzados na boca vai levá-lo até ao anterior ponto de salvamento, colocados geralmente após toda e qualquer grande adversidade num nível. Abe não tem pontos de vida, não se consegue defender, a não ser com ataques pensados com fogo, lançando Soulstorm Brew, a bebida que inflama e uma estranha capacidade de possuir os inimigos por um curto período de tempo com uma oração meditativa. Ao mínimo toque e som, a morte sabe-se certa e a frustração vai certamente acumular. Aperte-se mais a bola anti-stress.

 O som do silêncio. A sério, não se ouve nada

Oddworld: Soulstorm tem de facto uma beleza singular, num mundo movido a ganância sem limites e completamente destruído pela falta de respeito pelo ambiente. O Glukkons são opositores nojentos e deploráveis e isso incentiva o jogador a relacionar-se com a causa de Abe. A ajudar a esta ligação que se cria com as personagens e são as suas vozes, muito bem conseguidas e a fazerem soltar uma lagriminha aos mais velhos e saudosistas. Mas é só, o resto do jogo acaba por criar um trilho de vazio sonoro que por vezes, inadvertidamente, se encaixa na temática do mesmo.

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O seu volume é inconsistente, com partes onde as personagens não se ouvem e outras onde o som do nível está exageradamente alto. A toada dos inimigos parece sempre sobrepor-se às falas dos nossos heróis e em larga escala à música que aparenta acompanhar os diferentes níveis. Uma confusão que não se resolve e que pode contribuir para o investimento que o jogador pode não fazer com a obra. Uma pena, que se espera ainda com solução.

Considerações finais

Oddworld: Soulstorm é um regresso fruto de um desejo de um passado que podia não se ter habituado a um presente bem diferente. É uma obra de culto com as suas temáticas e mecânicas de jogo ímpares, mas tudo ressoa a século passado, seja pela bizarria ou pela dificuldade que um jogo destes pode soar a um novo jogador.

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Brinde-se a ti, Abe, pateta herói! Desde que não seja com bebida feita de Mudokons. Pobres coitados.


+ Mundo distópico cinematográfico
+ Puzzles cheios de invento e desafio
+ O regresso desejado de Abe!

– Muitos bugs
– Falta de polimento a nível técnico
– Pode tornar-se frustrante
– Algumas mecânicas não são eficientes

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N.R: A análise a Oddworld: Soulstorm foi realizada na PlaySation 5 com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Playstation Portugal, inserido de forma gratuita no serviço PlayStation Plus.