Olija

Análise Olija

O Japão tem um encanto muito especial. E a sua época de ouro, seja no cinema ou na literatura já passou, mas sempre se caracterizou como uma nação de inovadores que nunca se coibiram de criar, mas sempre respeitando a sua história secular que permanece nas suas mentes, bem como nos entusiastas que vociferam o seu amor por uma cultura diferente, mas atraente como poucas. Olija vai beber a várias dessas influências, mistura-as com visuais pixelizados e com um estonteante mundo sonoro e combate que faz lembrar os samurais, almas perdidas que vagueiam por um mundo que já não é o deles.

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Faraday é o nosso herói. Salvar os companheiros é a sua demanda. E é a partir daqui que uma das melhores aventuras de homenagem ao feudo japonês com alguns séculos  se desenrola. Olija é uma curta odisseia que vai deixar o jogador de olhos em bico. E isso é bom.

Kurosawa em MS-DOS

Olija tem um apelo enorme para os fãs do cinema e de toda a cultura japonesa, isso é inegável. A começar pelo seu herói Faraday, que se encontra a vaguear por uma terra misteriosa, depois do seu navio naufragar e perder todos os seus tripulantes e companheiros de viagens. É a sua missão encontrar as pobres almas perdidas e, se tudo correr bem, voltar com eles a casa.

Todo o ambiente tem uma vibração arrepiante, como se os locais visitados fossem feitos de vazios ambientes cheios de natureza morta. E sente-se esse vazio ao percorrermos as diferentes ilhas que contêm no seu âmago as chaves que necessitamos para abrir os portões que levarão o nosso herói de volta a casa e aos seus marujos. Caves subterrâneas, pequenas povoações, todas cheias de vida sem que a vida esteja por lá esteja. O trabalho de criar vida neste ambiente pixelizado em duas dimensões é de facto impressionante, que leva o jogador inevitavelmente a obras de outros tempos que alcançaram o estatuto de ícones, sendo o mais reconhecido o original Prince of Persia.

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No entanto, não se pode deixar que esta referência longínqua no tempo dos videojogos intimide malta mais novo de apreciar uma bela homenagem a um Japão feudal e à eterna alma perdida que tantas e tantas vezes serviu de inspiração cinematográfica a orientais e ocidentais. O minimalismo de estória e visuais resulta num deslumbramento do jogador ao aprofundar o seu conhecimento pela aventura e a atenção dada aos pormenores é levado a outro nível, criando em Olija uma pequena experiência cheia de carisma e novidade. Quem diria, para um jogo que aparenta ter trinta e tal anos?

Olija

O poder (e a maldição) do Arpão

Faraday e o uso do arpão serão sempre o início e o fim de Olija. O poder desta arma será sempre o grande aliado do nosso herói no extermínio dos seus inimigos, mas foi a aquisição do mesmo que fez com que todos estes monstros acordassem de um sono que se queria eterno, estando este objeto no lugar central de toda a narrativa. E é tão divertido de usar!

Permite ao jogador estilhaçar os pestilentos hostis das ilhas, podendo atirá-lo e fazê-lo com um toque de botão, semeando a destruição pelo caminho. Os ataques poderosos desferidos por esta arma de eleição são fáceis de executar, mas difíceis de dominar. E é esta curva de aprendizagem que pode não ser a mais simples de ultrapassar, mas que acaba por ser super recompensadora, quando se consegue executar um golpe com o  arpão, deixando o caos e pontos vermelhos no ecrã.

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Esta arma não tem apenas a função de aniquilar. Ela pode e deve ser também usada para alcançar novas partes dos diferentes mapas, utilizando alguns marcadores que nos permitem utilizar o mapa para transportar o jogador até um novo companheiro que se deve salvar, uma nova sala infetada de ácido que faz esvaziar a barra de vida ou conseguir apanhar alguns dos raros colecionáveis que aparecem.

Há também algumas armas secundárias que são adquiridas de forma natural na progressão do jogo: uma espada, uma besta, até uma caçadeira e uma lâmina denominada de Moonblade, que ajuda o jogador a ultrapassar alguns desafios em forma de puzzles. Sim, são armas que acrescentam possivelmente alguma profundidade ao combate, mas são todas facilmente substituíveis pelo magnetismo irresistível do arpão. São mesmo só isso, secundárias.

Uma pequena grande aventura… demasiado pequena

Com pouca informação nos tentamos orientar na aventura que Olija nos propõe: salvar o máximo de marujos, cortejar a princesa, colecionar chapéus com poderes bem diferentes, desmembrar os inimigos que aparecem pela frente… E quando tudo começa a ter aquele sabor de um bom saqué servido por uma gueisha… Tudo termina. Esta estória de amores, regressos e vinganças acaba por ser curta e provocar alguma deceção no mais ávido dos jogadores. Este é um jogo que pode ser perfeitamente deglutido numa toma apenas, pois cinco horas são mais que suficientes para terminar a demanda de Faraday.

Ainda assim, este docinho carregado de nostalgia não deve ser censurado pela sua duração. Tudo acaba por ter o tempo que se der às coisas, e a obra da Devolver Digital faz tanto com tão pouco. O nível de vida dado a cada quadro pixelizado demonstra que esta arte não vive só de momentos visualmente estimulantes, mas que o 2D ainda consegue ser imersivo e fluido.

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É curto? Sim. Aprecie-se o som das vozes arrastadas de pessoas desgastadas por uma vida que definha, sinta-se a música que se envolve e sobe de intensidade em combates emocionantes, para depois promover a calma e a tranquilidade de um momento de contemplação, onde Faraday para e pensa se valerá a pena esta sua demanda interminável de redenção.

Adore-se a narrativa, contada em poucas palavras que se juntam em poesia enigmática, à boa maneira dos haikus japoneses. Deslumbre-se com as vozes enigmáticas, elevadas dos seus seres. Um deleite pequeno, mas um deleite.

Considerações finais

Olija vai ao encontro de vários potenciais públicos: aos amantes de uma boa aventura à antiga, com deslumbrantes gráficos que lembram tempos de outros tempos; aos conhecedores da história medieval, que adorarão todo o Japão de Akira Kurosawa condensado em cinco horas de jogo; os entusiastas de um combate frenético, polido e exploração metroidvania.

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São demasiados os pontos positivos para se deixar esta pequena pedra de jade escapar pelo mundo cada vez mais recheado de jogos independentes. A sua curta duração e a IA inconstante não serão obstáculos suficientes para que não se queira ajudar Faraday e a sua alma perdida…

Olija é uma ode a um Japão cheio de charme de outros tempos. De gráficos retro, sonoplastia de primeira e um combate extremamente recompensador, é uma viagem que se deve fazer pelo menos uma vez, por mais curta que ela seja.

+ Arte pixelizada de outros tempos

+ Mecânicas de combate interessantes

+ Oriente no som e na voz

– Muito curto e sem motivação para voltar

– IA entre bosses e inimigos comuns díspar

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N.R.: A análise a Olija  foi realizada na PlayStation 4 com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Cosmocover.