This War of Mine Complete Edition – Análise

Haverá sempre os momentos certos para jogar certos videojogos. Este não foi o momento de me dedicar a este.

Segue o Future Behind: Facebook | Twitter | Instagram

A ligação a tudo o que se passa num mundo conturbado como aquele que temos hoje em dia e este This War of Mine Complete Edition é demasiado próxima, semelhante, literal. E daí que cada escolha tomada, cada passo errático, cada interação com as histórias sofridas de um povo em guerra doam mais do que um videojogo devia doer. E ainda assim é fácil considerá-lo uma obra-prima em 2014, aquando do seu lançamento oficial, e hoje onde a ficção se confunde com a realidade. Não foi o momento certo para o jogar, mas foi-o para o entender e lhe atribuir a sua importância. Quando as imagens e os sons que ecoam pelas nossas televisões não são suficientes para perceber a magnitude e a gravidade de tudo o que nos rodeia, quem sabe um jogo, este jogo, o faça. A mim fê-lo.

.

De noite o perigo brilha

Este This War of Mine foi agora lançado para as consolas de nova geração, com as versões originais e os respetivos DLC’s e continua a narrar de forma crua e estranhamente bela a visão da guerra daqueles que mais sofrem, dos civis que tentam apenas sobreviver e das escolhas terríveis que são forçados a tomar.

A cidade ficcional de Pogoren serve de palco de guerra, onde a missão do jogador se divide nos naturais ciclos de dia e noite, onde conduziremos um grupo de personagens impactantes. Durante o dia, os sobreviventes terão uma série de tarefas para desenvolver no seu abrigo, tentando que alguma normalidade se mantenha na sua vida no meio de um conflito militar a alta escala: fazer melhoramentos, tratar da alimentação de todos, produzir certos itens para poderem ser trocados. O tempo não para e há que tomar decisões ponderadas sobre o que fazer para que nada falte a quem nada tem.

Segue o Future Behind: Facebook | Twitter | Instagram

De noite, como sempre, vem o perigo. As personagens são separadas e há que decidir o que fazer. Uns podem ficar em casa a guardar o abrigo, mas há que arriscar e tentar que o anonimato da noite lhes permita esgravatar novos itens e produtos nos montes de entulho e lixo que estão por todo e que lhes facilitem um pouco a sobrevivência.

Mas os perigos são imensos. Habitantes hostis, pois a guerra tem o condão de virar as vítimas umas contra com as outras, e as milícias, que não olharam a meios para nos apagarem da existência. As localizações são diferentes e a perigosidade também. Há que ponderar se o risco fará sentido ou até se será moralmente correto fazer o que pensamos. Serm querer revelar muito, estes foram os momentos que mais me comoveram… Arriscar  a vida no aerporto altamente guardado, ou roubar o casal idoso que quer apenas ter mais um dia de cada vez juntos? A escolha recaiu sobre esta última hipótese e ainda me aperta o estômago.  

Na guerra não há fim nem princípio

Cada vez que entramos há uma nova forma de vivenciar uma guerra, pois tudo é aleatório. O inverno do nosso desespero pode ser mais longo ou mais curto, e até as próprias personagens que vamos encontrando vão sendo diferentes e também com reações distintas, o que ajudou a prolongar o meu sofrimento.

Segue o Future Behind: Facebook | Twitter | Instagram

O sentimento de não haver esperança, quaisquer que sejam as nossas escolhas, é o ponto que se pretende alcançar e dói. É um jogo que assenta na perfeição as suas imperfeições, tal como o homem erra sempre que escolhe. Mecanicamente não é perfeito. As personagens mexem-se de forma estranha e lenta e por vezes os comandos que introduzimos não são respeitados (descer ou subir escadas parece um grande desafio!). Ainda por cima, com todo o controlo háptico disponível no DualSense e não fazer nada com ele parece claramente uma oportunidade desaproveitada. Há muitas escolhas que podiam ser otimizadas com esta função. Gosto de pensar que toda esta confusão com os itens e com a própria movimentação das personagens é propositada, ajudando ao clima de desordem e dúvida. Mas sabemos que não é assim… As minhas frustrações quero-as apenas ao nível das minhas escolhas no jogo e não nas suas mecânicas.

Guerra nas mãos pequeninas

EsteThis War of Mine Complete Edition vem com conteúdo extra que acrescenta muito valor à experiência. The Little Ones, que faz algo que pode parecer simplista mas que torna toda a forma de jogar diferente e, por incrível que pareça, ainda mais dolorosa: os grupos de sobreviventes têm agora crianças. E é dilacerante ter alguns fins de personagens com as quais temos mais facilidade em nos apegarmos. Eu como papá recente sofri com a relação que criei e que por vezes me vi forçado a terminar da pior forma. É duro.

Há ainda o DLC Stories, que traz três histórias envolventes com protagonistas diferentes. A primeira que joguei com mais afinco Father’s Promise, que envolve a procura de uma filha levada por um pai desesperado no meio deste cenário de guerra. O jogo funciona de forma semelhante, mas aqui é dado mais ênfase aos objetivos da história que se pretende contar do que chegar vivo ao fim da guerra como nos outros modos.

A guerra vê-se e ouve-se

Visualmente, todos os modos de jogo são muito detalhados. O jogo é modelado em três dimensões mas apresentado em duas, dando profundidade ao que vemos. Tudo o que vemos é artisticamente imaculado, em tons de luz e negro,  legitimando as parecenças com um real cenário de guerra de um nível de design surpreendente.

Segue o Future Behind: Facebook | Twitter | Instagram

O som não surge ao mesmo nível, com uma série de sons desconexos e que por vezes parecem desfasados. Por vezes demasiado altos, outras quase nem se ouvindo. Mas os sons de guerra, os bombardeamentos, as metralhadoras, contrastam em tempos com o som da guitarra desafinada de um sobrevivente. Intenso.

Considerações finais

This War of Mine Complete Edition relata na perfeição os horrores da Guerra e aquilo que leva e não devolve. Com a aleatoriedade que traz e ainda o conteúdo DLC, há muito decisão errática  para tomar, julgando nós que fazemos o correto para salvar as nossas personagens. Mas como em todas as guerras, não há decisões certas ou erradas; é decidir e lidar com as consequências. E o jogo é brutalmente frio, mas honesto ao mostrar que tanto mais podíamos fazer, mas que não conseguimos.

Slava Ukarini.

Clica na imagem para mais informação sobre as nossas classificações

Para que ninguém fique sem perceber que viver em guerra é o Legendary Mode que não traz troféus ou achivements, This War of Mine existe.


+ Duro e real
+ Randomização bem conseguida
+ Matéria de reflexão

– Falta de controlo háptico
– Problemas com o som

N.R.: A análise a foi realizada numa PlayStation 5 com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Evolve PR.

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
Artigo sugerido