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eSports: O mercado que se tem transformado num jogo para as empresas

Ninguém sabe quanto vale o mercado dos desportos eletrónicos em Portugal. Nem mesmo a Bitzer, a primeira agência dedicada aos eSports no nosso país e que foi ontem publicamente apresentada.

Esta nova entidade pretende ser uma one stop shop de oportunidades no universo dos desportos eletrónicos: seja para jogadores, equipas, associações ou marcas que simplesmente querem alcançar as audiências ligadas aos eSports.




Como é que se vende uma ideia sem se conhecer o verdadeiro potencial do mercado? Com base na realidade internacional: os eSports estão a crescer a grande ritmo e já há eventos de desportos eletrónicos que fazem sombra aos eventos de desportos convencionais e com muitos mais anos de tradição.

Estádios com 40 mil pessoas para verem um duelo final de League of Legends. Prémios de centenas de milhares de dólares para a melhor equipa de StarCraft II do mundo. Centenas de milhões de visualizações acumuladas em transmissões relacionadas com os outros eSports. Já lhe dissemos que em 2016, e de acordo com a consultora Deloitte, os eSports valeram 500 milhões de dólares a nível global?

Apesar de ainda não ter uma radiografia detalhada do mercado de eSports em Portugal, este é um cenário que a Bitzer compromete-se a mudar. “A nossa ideia é também tentar inverter essa questão e tentar fazer algum tipo de estudo que nos permita ter esses dados para depois os apresentarmos não só às marcas, mas também a parceiros que queremos também incluir nestes projetos”, disse em entrevista ao FUTURE BEHIND o diretor de operações da Bitzer, Tiago Fernandes.

Bitzer Portugal eSports
O diretor executivo da YoungNetwork, João Duarte, na apresentação da nova agência dedicada aos desportos eletrónicos. #Crédito: Future Behind

Além de querer explorar o potencial do segmento dos eSports em Portugal, a Bitzer não esconde o desejo de querer contribuir para uma maior profissionalização dos desportos eletrónicos no país “Talento existe, falta é matéria-prima”, atirou Tiago Fernandes.

O nome da agência é inspirado em Donald L. Bitzer, um cientista norte-americano que ajudou a criar a primeira comunidade online

Como pretende concretizar este objetivo a agência ainda não revela, mas a probabilidade de vermos um evento associado à sua marca parece-nos elevada. De acordo com a própria Bitzer, serão necessários pelo menos dois meses até que comece a revelar algumas iniciativas mais concretas nas quais quer estar envolvidas.

Ainda que o posicionamento da Bitzer seja de facto original no mercado português, o objetivo desta nova unidade do grupo YoungNetwork não é diferente de muitas outras empresas – agarrar um pedacinho deste El Dorado que é o mundo dos eSports.

Onde está o valor?

Quando a RTP anunciou a chegada de um programa e de uma marca dedicados aos desportos eletrónicos, o RTP Arena, a estação pública de televisão produziu um documento no qual colocava os motivos pelos quais os eSports são uma mais-valia para o canal e para as marcas que querem estar associadas.

Nesse documento da RTP também não há valores muito concretos para o mercado dos eSports em Portugal – apenas é feita referência à existência de 4,2 milhões de jogadores casuais. Há no entanto um elemento que explica bem a razão pela qual muitas empresas estão interessadas neste domínio.

RTP Arena - eSports
Perfil do jogador típico português. #Crédito: RTP

O típico seguidor das atividades dos eSports tem tudo para ser o sonho de qualquer marca. São como diamantes em bruto de consumo que ainda podem sofrer bastantes lapidações – é isto mesmo que muitas marcas estão a tentar criar, lapidações que de certa forma marquem estes consumidores a seu favor no curto, médio e quem sabe no longo prazo.

A simples aposta da RTP numa submarca que explora os eSports – na grelha principal do canal, no online e também na rádio – é por si só um excelente exemplo do interesse que começa a haver em Portugal por estes formatos de competições.

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Por exemplo, no início deste ano foi anunciado o evento Xploit eSports Masters, aquela que até à data vai ser a maior competição de desportos eletrónicos no nosso país. Porquê a maior? Porque a organização espera receber 30 mil pessoas em dois dias, 200 mil visualizações na sua plataforma online e tem um bolo de 25 mil euros em prémios para repartir pelas equipas vencedoras.

O Xploit eSports Masters estava originalmente programado para os dias 25 e 26 de março, mas acabou por ser reagendado para os dias 23 e 24 de fevereiro.

Também este ano já foi confirmado um outro evento dedicado aos eSports, o 4Gamers. Este projeto acontece já nos dias 6 e 7 de maio e também terá como principal foco os desportos eletrónicos, sobretudo duas das suas principais ‘modalidades’: League of Legends e Counter Strike: Global Offensive (CS:GO).

Ou seja, num curto espaço de tempo vemos aqui o aparecimento de três iniciativas de perfil significativo, um sinal claro de que os ventos dos eSports estão a soprar de outra forma em Portugal. Mas há mais indicadores que ajudam a sustentar esta teoria – são várias as empresas que pretendem ficar com um pé firme neste segmento.

eSports? Sim por favor

As marcas mais dedicadas aos videojogos, como a PlayStation e a Xbox, também já têm iniciativas de eSports em Portugal. A Xbox só recentemente é que criou a Xbox League Portugal, uma competição mensal realizada online e que vai percorrer diferentes jogos para encontrar aquele que é o melhor jogador em cada um deles.

Um dos aspetos interessantes deste formato é que junta não só jogadores de consola, como também jogadores de computador desde que tenham o Windows 10. Este acaba por ser um aspeto característico pois não é comum ver a compatibilidade cross-plataform a fazer parte do estilo típico dos torneios de eSports.

“Esta iniciativa surge do interesse que sentimos, por parte da nossa comunidade, pela realização de iniciativas ligadas aos eSports localmente. Desta forma, a equipa Xbox Portugal, em parceria com a comunidade de fãs Xbox, pretende aproximar o público à nossa marca e, ao mesmo tempo, proporcionar os desafios mais competitivos e aliciantes”, comentou na altura, em comunicado, a gestora da divisão Xbox em Portugal, Joana Barros.

Xbox eSports
A marca Xbox foi uma das que recentemente apostou nos eSports em Portugal. #Crédito: Future Behind

Quem já tem uma estrutura muito mais ‘profissional’ no segmento dos eSports é a rival PlayStation. A aposta da Sony Interactive Entertainment nesta área em Portugal remonta já a março de 2015, quando decidiu criar a Liga Oficial PlayStation. Dentro desta grande iniciativa, a SIE tem organizado outros eventos mais específicos e numa entrevista recente com o FUTURE BEHIND, o gestor de relações públicas da SIE para Portugal e Espanha, João Lopes, mostrava-se satisfeito com os resultados alcançados.

“Do nosso lado, com a nossa Liga Oficial PlayStation, desde 2015 que está a funcionar, já temos uma comunidade de cerca de 11 mil inscritos, e só aqui no torneio da Liga NOS no ano passado, na primeira edição, atingimos perto de 3.000 participantes. Portanto, tudo isto são indicadores de que estamos a apostar bem e também estamos a ter a resposta do público que é o que nos interessa”.

“Muito honestamente, nós sentimos que estamos no caminho certo com a Liga Oficial PlayStation e que esta acaba por ser a forma mais agregadora de podermos dar uma resposta à comunidade de eSports”, respondeu, quando questionado se havia a possibilidade de a PlayStation vir a ter a sua própria equipa de eSports.

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Também do lado das grandes fabricantes tecnológicas tem havido um reforço no sentido do gaming. Ainda há duas semanas a Lenovo apresentou em Portugal a sua linha dedicada para videojogos, a Legion. Através desta sua nova marca a tecnológica pretende não só capitalizar com a venda direta de computadores de gama alta, como pretende igualmente capitalizar a sua marca.

“No mercado que hoje está estagnado ou até em ligeiro declínio, as máquinas de gaming têm um crescimento abrupto e até faz com que segmentos acima dos mil euros cresçam a taxas muito simpáticas de 6% e 8%. Algo que é muito alicerçado por este crescente interesse da comunidade”, começou por explicar o diretor do segmento de consumo da Lenovo Portugal, Vasco Oliveira, em entrevista ao FUTURE BEHIND no evento de lançamento dos Legion, para depois adiantar:

“Estamos a avaliar com muita seriedade parcerias quer com equipas de eSports, quer a presença em alguns dos maiores eventos [de gaming] em Portugal. Porque realmente isto de a Legion ser da comunidade não são só palavras, mas sim ações”.

O mercado dos eSports vai valer 1,48 mil milhões de dólares em 2020, de acordo com a Newzoo

Também do lado da HP e da Acer vimos nos últimos meses um reforço na aposta no sector do gaming, respetivamente através das submarcas Omen e Predator. Aposta esta que por vezes chega a atingir níveis de agressividade elevados – basta olharmos para o design do HP Omen X ou para as especificações do Acer Predator 21 X para percebermos que estas marcas estão neste segmento a dar tudo o que podem para agarrar a atenção, e quem sabe o dinheiro, das comunidades de gamers.

Temos depois inclusive o exemplo de marcas mais marginais neste sector, como a LG e a Samsung, que não querem perder por completo a oportunidade dos eSports. A aposta destas empresas tem-se resumido ao sector dos monitores, uma que podendo não ser mediaticamente espetacular, acaba por ser muito importante para os jogadores profissionais ou para os aspirantes.

Aqui lembramos por exemplo a edição do Lisboa Games Week do ano passado, o maior evento português de gaming – não de eSports, é importante não confundir os temas ainda que estejam ligados entre si. Tanto a LG como a Samsung apostaram numa presença notória no evento, justamente para promoverem os seus monitores para gaming.

Samsung monitores eSports
O stand da Samsung no Lisboa Games Week estava totalmente focado nos monitores. #Crédito: Future Behind

O que é que estavam a fazer estas duas tecnológicas sul-coreanas no meio de stands gigantes da PlayStation, da Xbox, da HP, da Asus, no meio de um evento com cosplayers, youtubers e amantes da cultura japonesa? Estavam a plantar as sementes daquela que esperam poder vir a ser uma parte interessante dos seus negócios no futuro.

O que é que se passa afinal com os eSports em Portugal? Nada de especial. Simplesmente estamos a assistir a um despertar de consciências para um fenómeno que em alguns casos internacionais já está mais do que consolidado e que em Portugal apesar de não ser novo, só agora começa a mostrar pot€ncial.