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Exosqueletos, um atalho para ganhar superpoderes

Porquê limitarmo-nos às capacidades naturais do ser humano quando podemos ganhar ‘superpoderes’ vestindo fatos mecânicos? Esta é daquelas temáticas em que parece que nos estamos a referir a super-heróis da ficção, mas em bom rigor estamos a falar do mundo real. Do transporte de objetos com elevado peso à reabilitação motora, os exosqueletos robóticos têm vindo a conquistar, passo a passo, o seu espaço nos nossos dias, sendo a Hyundai o exemplo mais recente do investimento num protótipo deste género.

A fabricante de automóveis sul-coreana assegura, num post no seu blogue apenas disponível em coreano, que o exosqueleto que desenvolveu, inspirado no super-herói da Marvel Iron Man, permite ao utilizador levantar objetos cujo peso se situa nas centenas de quilos, podendo, por isso, ser útil em fábricas, para soldados ou para promover a reabilitação física. O The Verge presume que este ‘fato’ representa um desenvolvimento do H-LEX (Hyundai Lifecaring ExoSkeleton), apresentado no ano passado e cuja finalidade é melhorar a qualidade de vida de idosos e de pessoas com mobilidade reduzida, sendo mais leve que este novo protótipo, mas com semelhantes características.



Esta tecnologia que auxilia o desempenho de atividades laborais – mas não só – tem despertado igualmente o interesse de outras fabricantes de automóveis, nomeadamente as alemãs BMW e Audi. A primeira forneceu aos seus colaboradores, recorrendo à impressão 3D, uma ortótese feita à medida para colocar em cima do polegar e desempenhar funções repetitivas; a Audi decidiu testar um wearable da Noonee que protege as costas dos funcionários cujas funções implicam um agachamento frequente.

Com similar intuito, também a japonesa Panasonic concebeu um exosqueleto, em parceria com a subsidiária ActiveLink, para facilitar o levantamento e deslocação de objetos, prevenindo lesões. O AWN-03 pesa quase seis quilos, cobre costas, coxas e pés e reduz em 15 quilos o stress provocado nas costas. Tal é viável graças a um motor leve em fibra de carbono e sensores que ativam o motor quanto o utilizador está a levantar ou movimentar um objeto pesado, como se pode ver no vídeo abaixo.

Em paralelo, a ActiveLink está a trabalhar no fato mecânico PLN-01, designado “Ninja”, para que caminhar e correr com este equipamento seja mais fácil em situações como subir um trilho íngreme de uma montanha, durante a reflorestação.

A expectativa da empresa é que daqui a 15 anos haja uma massificação destes fatos robóticos. “Prevemos que os exosqueletos sejam utilizados em larga escala na vida das pessoas daqui a 15 anos”, adiantou Mio Yamanaka, porta-voz da Panasonic, sendo que serão usados “para [o desempenho] de tarefas que requerem força física, tais como movimentar coisas, fazer entregas, trabalhos públicos, construção, agricultura e setor florestal”.

https://www.youtube.com/watch?v=zGmymin7d0o&feature=youtu.be

 

Os robôs também têm um lado humano

Os exosqueletos robóticos têm demonstrado fortemente a sua pertinência na área da reabilitação motora. Que o diga Steven Sanchez que depois de ficar paralisado da cintura para baixo, na sequência de um acidente enquanto praticava BMX, voltou a caminhar graças ao exosqueleto Phoenix, produzido pelo SuitX com recurso a tecnologia desenvolvida no Laboratório de Robótica e Engenharia Humana da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Em termos simples, o equipamento devolve ao utilizador a capacidade de movimentar a anca e os joelhos, uma vez que inclui motores de pequena dimensão acoplados a ortóteses convencionais. Desta forma, quem veste este exosqueleto consegue controlar o movimento de cada perna, sendo capaz de caminhar a 1,7 quilómetros por hora à medida que toca em botões integrados em duas muletas.

Uma das características que salta à vista é, sobretudo, a flexibilidade do Phoenix, que se ajusta, sem grande dificuldade, a uma pessoa relativamente alta que necessite de ganhar maior mobilidade num joelho – só para dar um exemplo. O desafio agora será construir uma versão destinada a crianças com patologias neurológicas e que necessitam de exercitar intensivamente a caminhada ou que estão em risco de perder a mobilidade.

Entre outras especificidades, podemos enumerar uma autonomia de oito horas, assegurada por um kit de baterias, uma espécie de mochila, e uma app que fornece dados sobre o desempenho do paciente, maioritariamente pessoas com lesões da espinal medula. “Não conseguimos, efetivamente, curar a doença [do paciente], nem a lesão. O que [o Phoenix] irá fazer é retardar lesões secundárias provocadas por se estar sentado”, explica o fundador e CEO do SuitX, Homayoon Kazerooni, acrescentando que o enfoque é, por isso, “proporcionar uma melhor qualidade de vida”.

Phoenix
Crédito: SuitX

O Phoenix insere-se, de resto, no pacote de exosqueletos médicos mais leves – pesa pouco mais de 12 quilos – e mais baratos, estando avaliado em aproximadamente 35.366 euros, como descreve o Engadget. Se compararmos com o ReWalk, talvez o equipamento deste tipo mais famoso, comercializado desde 2012, constatamos isso mesmo: supera em 12,32 quilos o peso do Phoenix – tem 22, 67 quilos – e tem um custo de cerca de 61.885 euros.

Começamos a ter, então, alternativas à altura para as cadeiras de rodas motorizadas? “A rapidez, a duração de funcionamento e a usabilidade têm de ser boas o suficiente para que estes sistemas sejam considerados pelos utilizadores melhores do que outras alternativas”, no entender de Volker Bartenbach, um investigador do ETH Zurich que se dedica ao estudo dos exosqueletos. “Se precisarmos de 10 minutos para chegar à padaria que fica a 100 metros e o exosqueleto demorar cinco minutos a vestir, provavelmente optar-se-á pela cadeira de rodas”, justifica.

Ao possuir a força do Hulk, os exosqueletos representam também um apoio para a população mais idosa, bem como para os prestadores de cuidados de saúde, ajudando, por exemplo, a levantar os mais velhos da cama e a desenvolver tarefas quotidianas.

Um ‘reforço’ militar

As valências dos exosqueletos aplicam-se também ao meio militar. Dois professores da Universidade de Harvard, Conor Walsh e Robert Wood, trabalharam, em 2014, no desenvolvimento de robôs com novos materiais e métodos de assistência ao movimento de quem os veste, tornando-os mais leves e confortáveis. A armadura em spandex e nylon, juntamente com cabos e motores, permite, entre outras coisas, que os soldados possam carregar mochilas pesadas enquanto percorrem longas distâncias.

Este exosqueleto é considerado extremamente eficiente uma vez que aplica a força de uma forma fiel à dos movimentos naturais dos músculos e tendões. Assim, a cargo dos sensores fica a monitorização dos movimentos do utilizador e os motores alimentados pela bateria movem os cabos para puxar o calcanhar ou coxa – oferecendo a propulsão correta no momento em que o utilizador anda para a frente.

Daqui em diante esperam-se mais progressos que permitam a massificação destes robôs, que prometem transformar a forma como os humanos lidam com o transporte de materiais pesados ou com a adversidade fruto de acidentes ou da idade avançada.