Apple Macbook Pro coragem

A meia coragem da Apple, parte 2

“Caberá à Apple mostrar a vontade da sua decisão. Para ser um verdadeiro ato de coragem então a entrada de áudio de 3,5 milímetros terá de desaparecer do iPod, do iPad, do MacBook, do MacBook Air e do MacBook Pro”.

Isto foi parte do que escrevemos sobre a decisão de a Apple remover o headphone jack dos novos iPhone 7. Seria o movimento mais lógico. Para provar que está de facto empenhada numa determinada missão, seria imperativo concretizar esta nova visão em todos os seus equipamentos.




Com a apresentação dos novos MacBook Pro foi possível encontrar mais algumas inconsistências na tal ‘coragem’ da Apple. Os três novos modelos do computador para profissionais da marca da maçã vêm todos com a entrada de áudio de 3,5 milímetros, aquela que a Apple abandonou no iPhone.

É possível argumentar que o mercado dos utilizadores de computadores Mac é diferente do mercado dos utilizadores dos iPhone. Que as pessoas que usam computadores preferem uma tipologia diferente de headphones e auriculares do que aqueles que são usados nos dispositivos móveis.

Mas nem estes argumentos ajudam a apagar a confusão que a Apple parece estar a criar com as suas apostas diversificadas.

No evento do iPhone a Apple deu três motivos principais para ter removido o headphone jack do smartphone. Apenas um não é diretamente aplicável aos MacBook Pro, a do reaproveitamento do espaço para outras funcionalidades. Ou até seria. Sabendo que a entrada Lightning permite poupar espaço e que o MacBook Pro é finíssimo, então seria uma conjugação lógica. Ainda assim, estando cada vez mais fino e mais pequeno, um computador continua a ter maior área de engenharia do que um telemóvel, o que permite manter a tradicional entrada de 3,5 milímetros.

Apple Macbook coragem
À esquerda as portas multimédia do MacBook Pro de 13 polegadas. À direita as do MacBook Pro de 15 polegadas. #Crédito: Apple

O uso da palavra ‘coragem’ fica ainda mais debilitado quando ficamos a saber que os auriculares Lightning que vêm com o iPhone não são compatíveis com os novos MacBook Pro. A Apple que sempre foi especialista em alimentar um ecossistema próprio de hardware, que quase sempre funcionou de forma transversal, aparenta estar perdida nas ideias.

Retira o headphone jack de 3,5 milímetros do iPhone e mantém-no nos MacBook Pro. Dá ao iPhone uns auriculares Lightning que não funcionam de forma nativa nos seus novos computadores – têm entradas Thunderbolt compatíveis com USB-3. Isto faz sentido? Do ponto de vista do consumidor não fará muito pois obriga à compra de um adaptador.

Se o futuro do áudio é a entrada Lightning, isso quer dizer que os MacBook Pro estão fora do futuro do áudio? Não. Na visão da Apple o futuro do áudio é wireless. Mas isso levanta outra questão: não deveria então a empresa estar a preparar os seus dispositivos de forma igual para esse futuro? Principalmente tendo em conta que os computadores costumam ter um ciclo de atualização muito menor do que os smartphones. A Apple colocou-se numa posição onde no espaço de dois meses apresentou duas visões diferentes para os seus equipamentos.

Mais acessório, menos acessório, é verdade que é uma situação ultrapassável. Mas nada apaga a confusão e as mensagens mistas que a Apple está a transmitir. Existe uma página no Reddit onde existe uma vasta discussão justamente sobre estas mensagens mistas que a Apple está a passar para o lado dos consumidores.

Argumentos contra ou argumentos a favor, parece cada vez mais que o uso da palavra ‘coragem’ não foi a jogada mais feliz da Apple.