A Microsoft quer dar uma machadada no Twitch

São várias as empresas que têm tentado roubar uma fatia de mercado ao todo-poderoso Twitch. O serviço detido pela Amazon é líder no segmento da transmissão em direto de videojogos, tendo mais de cem milhões de utilizadores – e possivelmente um futuro brilhante à sua frente.

A Google já tentou responder através do YouTube Gaming. O Twitter também tem estado a piscar o olho ao segmento dos eSports. Mais recentemente foi o Facebook a mexer-se nesta área. Há um elemento comum entre todas: têm uma plataforma com suporte de vídeo.




Mas quem aparenta ter condições para fazer alguma mossa no Twitch é a Microsoft.

Até há alguns meses o nome da Microsoft nem sequer entraria para esta equação pois a empresa não tinha uma plataforma que lhe permitisse concorrer neste segmento. Isso mudou em agosto quando a empresa comprou a Beam.

A Beam é um serviço que na teoria funciona da mesma forma que o Twitch, isto é, permite partilhar em direto os momentos de jogabilidade. Mas desde o início que a empresa tem tentado destacar-se com a frase “interactive streaming”.

Matthew Salsamendi é o diretor executivo da Beam

Dentro de cada transmissão os utilizadores encontram um conjunto de botões que permitem a interação com o transmissor. O que esses botões incluem varia de jogo para jogo, mas servem para a audiência interagir com a pessoa que está a jogar. A ideia é criar um maior sentido de comunidade e criar um maior sentimento de bidirecionalidade. As pessoas não são só espectadores, são influenciadores em tempo real.

Estas ações têm infuência direta no decorrer da jogabilidade, o que pode tornar tudo mais imprevisível. No geral este é o elemento que tem ajudado o Beam a conquistar utilizadores e que lhe permite diferenciar do Twitch.

A nova Microsoft

Tendo em conta que a aquisição aconteceu durante o mês de agosto – ou pelo menos só nessa altura foi comunicada -, seria de esperar que fossem necessários vários meses até que a Microsoft começasse a integrar a Beam nos seus planos.

Mas já sabemos que esta nova Microsoft, aquele que é liderada por Satya Nadella, é diferente. É arrojada. Não tem medo de arriscar. E é rápida. Dois meses depois do negócio com a Beam, a tecnológica já mostrou como é que a plataforma de live streaming vai integrar no seu ecossistema de videojogos.

O Beam vai tornar-se numa parte integrante do sistema operativo Windows 10. Na primavera do próximo ano, quando for disponibilizada a atualização denominada de Creators Update, o serviço de live streaming vai dar um salto de gigante.

Não existem dados oficiais sobre quantos utilizadores tinha o Beam antes da aquisição da Microsoft, mas é público que o Windows 10 já está instalado em 400 milhões de dispositivos. Se apenas 10% destes estiverem interessados no Beam, ainda assim representa um potencial de 40 milhões de utilizadores – o que deixa automaticamente o serviço a meio caminho do Twitch.

A Beam foi fundada em setembro de 2014

Este é o grande potencial do negócio e a Microsoft sabia-o. A Microsoft sabia que era das poucas empresas no mundo com uma plataforma suficientemente grande para agigantar o Beam de um momento para o outro. Tudo o que era necessário seria uma atualização ao seu principal software.

O objetivo da Microsoft, como referiu um dos elementos da equipa Xbox durante o evento de 26 de outubro, Jenn McCoy, é permitir que qualquer pessoa possa ser um streamer da forma mais simples possível. Quando estiver num jogo bastará fazer a combinação de teclas Windows+G e selecionar a opção que diz ‘iniciar transmissão’. Tão simples quanto isto.

Na imagem Jenn McCoy a apresentar a integração do Beam no sistema operativo Windows 10, para computadores e Xbox One. #Crédito: Microsoft

A Microsoft também diz que não existe latência entre o que está a ser transmitido e aquilo que os utilizadores estão a ver – esta é uma afirmação arrojada e que apenas o tempo permitirá perceber se é verdadeira ou não. Mas é sabido que no Twitch existe uma diferença de poucos segundos e na internet alguns segundo podem realmente fazer a diferença.

Mas há mais a saber. Quando o utilizador iniciar uma transmissão, os seus amigos na rede Xbox Live vão ser notificados. Ou seja, a Microsoft está a aproveitar a vasta comunidade de jogadores que já tem para trazer mais potencial ao Beam e vice-versa.

O serviço não vai chegar apenas aos computadores Windows, mas também às consolas Xbox One. Neste caso a ameaça para o Twitch tornar-se um pouco mais real.

Existem mais de 20 milhões de Xbox One em todo o mundo, o que é uma base sólida de pessoas que gostam e dedicam-se aos videojogos. A Xbox tem como sistema operativo o Windows 10 – fazendo parte daqueles 400 milhões de equipamentos -, mas nesta plataforma a dinâmica entre os utilizadores e a Beam pode ser muito maior.

É verdade que a Microsoft precisa de delinear bem a sua estratégia para não ficar apenas com jogadores da Xbox a transmitirem no Beam. Mas é aí que entra o equilíbrio do PC – uma boa parte dos jogadores de computador usam o Steam como plataforma principal de videojogos, o que garantirá uma maior abrangência de títulos ao nível das transmissões.




A Microsoft também não vai fechar-se ao mundo. A empresa já confirmou que vai continuar a suportar a aplicação Twitch na Xbox One, pelo que terá de saber comunicar bem os elementos diferenciadores da Beam se quiser assistir a uma ‘migração’ de jogadores.

Interessante é ainda o facto de a Microsoft ter na sua posse aquele que é um dos videojogos que continua a atrair mais visualizações online: Minecraft.

A tecnológica norte-americana tem ainda a seu favor o facto de ser um nome respeitado na indústria tecnológica e de ter um grande poderio financeiro. Ou seja, não seria de estranhar que no futuro a Microsoft começasse a tentar garantir a exclusividade de transmissão de alguns torneios para o seu sistema.

Tudo isto faz parecer que a Microsoft e a Beam têm de facto boas hipóteses para no longo termo estarem a disputar o segmento do livestream de videojogos com o Twitch. Mas certamente que do lado da empresa da Amazon não estão todos debaixo de uma ‘bananeira’ – a aposta no desenvolvimento dos seus próprios jogos de eSports prova isso mesmo.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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