Pokémon Go Lisboa

Tentámos apanhá-los todos. Não conseguimos, mas contamos-lhe como foi

Deve estar a apanhar pokémons…

A frase foi dita por um elemento de um casal brasileiro que passeava na baixa lisboeta. Viram um indivíduo parado no meio da rua, de smartphone levantado e a deslizar com o dedo para cima no ecrã. Disseram na brincadeira que devia estar a apanhar pokémons pois é a aplicação da qual todos falam.

Mal eles sabiam que era isso mesmo que eu estava a fazer. Ontem foi dia de tirar a tarde para experimentar de forma mais séria e dedicada o jogo Pokémon GO. Todos falam dele e como disse, e bem, o nosso colunista de videojogos, Telmo Couto, fomos todos apanhados pelo jogo.



Pode ainda não ter ido para a rua capturar pokémons, mas já se deve ter cruzado com um artigo na internet, com uma história caricata no Facebook ou até com alguns screenshots do jogo no Twitter ou Instagram. O jogo só está oficialmente disponível em três países, mas a internet não liga a restrições geográficas.

Afinal o que tem de especial este jogo? Onde está o encanto? No que é que consiste mesmo? Fomos apanhar pokémons para lhe explicarmos da melhor forma possível o que é Pokémon GO e o que pode esperar da aplicação.

O fenómeno

O jogo Pokémon GO foi lançado há justamente uma semana, no dia 6 de julho. Austrália e Nova Zelândia foram os primeiros países a receber o jogo, seguidos pelos EUA.

A aplicação está disponível para iOS e Android, e é um desenvolvimento conjunto entre a Niantic – empresa conhecida pelo jogo de realidade aumentada Ingress -, a Nintendo e a The Pokémon Company.

Na prática o jogo coloca o jogador na pele de um treinador de pokémons. É o replicar da série na vida real. O objetivo é apanhar pokémons, fazê-los evoluir, treiná-los, descobrir o maior número possível destas criaturas, colecionar o maior número possível destas criaturas e se tiver um espírito mais competitivo, combater com elas, desafiar outros treinadores.pokemon-go-portugal

O que Pokémon GO faz é trazer uma camada digital até ao nosso mundo real. O jogo usa o sistema de mapas da Google para transformar o mundo num único e gigante nível de Pokémon. À medida que passa pelas ruas pode encontrar pokémons, pode encontrar poké-stops que são pontos de interesse onde pode angariar itens e pode também encontrar ginásios de treinadores.

Sempre que aparece um pokémon na sua área de jogo o smartphone do jogador vibra. Ao carregar no animal abre-se uma janela de ‘combate’ que sobrepõem os pokémons ao mundo real, ao bom estilo de realidade aumentada. Ou seja, existem elementos digitais que se sobrepõem aos elementos físicos reais.

E é aqui que está um dos grandes chamarizes do jogo – a forma como consegue fundir ficção com realismo e de facto passar a sensação que estamos a capturar pokémons tal como muitos sonharam durante toda a infância.

Sim, Pokémon GO tem sido uma loucura desmedida não apenas por mérito próprio. É o continuar de uma herança pesadíssima – a série de desenhos animados é uma das mais populares de sempre e os videojogos da franquia Pokémon já venderam mais de 279 milhões de unidades em todo o mundo. O que estamos a assistir agora com Pokémon GO foi mais ou menos o que aconteceu quando o jogo Pokémon original foi lançado para o GameBoy.

Foi um momento marcante na cultura dos videojogos a nível mundial e são muitos os que guardarão com saudade os tempos em que passaram agarrados à consola portátil da Nintendo. Daqui a uns anos será o mesmo relativamente a Pokémon GO.

Fomos apanhá-los todos

O grande objetivo de Pokémon GO é este: apanhar todas as criaturas que estão disponíveis. Ao que tudo indica é possível capturar os 150 pokémons originais, mas para isso terá de percorrer muitos quilómetros, visitar muitas cidades e quem sabe até ir para fora do país.
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Pokémon GO é um jogo de exploração no mundo real. Se não sair de casa não vai conseguir capturar pokémons

Tirámos a tarde de ontem para apanhar pokémons. O ponto de partida foi o jardim da Alameda Dom Afonso Henriques, em Lisboa, com o ponto de chegada a ser a Praça do Comércio, também em Lisboa. O caminho mais direto com o Google Maps apontava para uma caminha de 3,4 quilómetros e um tempo de 44 minutos. Desde o início que definimos que estaríamos dispostos a sair do percurso oficial se nas proximidades da nossa rota existissem poké-stops ou até mesmo sinais de pokémons.

A aventura começou às 16:53, apenas com o GPS e a rede 4G do smartphone ativos. A bateria estava nos 64% – um indicador que decidimos medir para sabermos até que ponto Pokémon GO tem ou não impacto na autonomia do equipamento.

É ainda de referir que esta não foi a nossa primeira experiência com Pokémon GO. Já tínhamos seis pokémons capturados e estávamos sensivelmente no início do nível 3 de experiência. Agora que as regras estão explicadas, pés ao caminho.pokemon-go-zubat-lisboa

Não precisámos de andar muito para apanharmos o primeiro pokémon. Aconteceu cinco minutos depois, no segundo cruzamento depois da Alameda. Era um Zubat, o pokémon morcego. O smartphone não vibrou como era suposto, mas vimo-lo no mapa e decidimos interagir com ele.

Atiramos umas quantas pokébolas até o apanhar. Admitimos que ao início a perícia não era muita. O segredo está em segurar a pokébola até que o círculo verde que aparece sobre o animal fica mais reduzido, querendo isto dizer que o nível de foco do treinador de pokémons está mais apurado.

À medida que íamos descendo a rua fomos interagindo com todos os poké-stops marcados e é aí que surge a primeira surpresa. Os poké-stops são baseados em pontos de interesse que existem na cidade. Não precisam de ser apenas monumentos, no caso de Lisboa podem ser por exemplo os vidrões que estão pintados com o trabalho de alguns artistas urbanos.

Mas eis que na Praça do Chile, sensivelmente a 500 metros do nosso ponto de partida, vemos uma indicação de uma poké-stop, aproximámo-nos e deslizámos o dedo no ecrã para soltar as pokébolas de prémio e quem sabe algo mais. O ponto de interesse eram uns azulejos antigos. Tantas vezes já lá tinha passado e nunca tinha visto aqueles azulejos acima da porta de um edifício – obrigado Pokémon GO 👍

Ainda na Praça do Chile aproveitámos para apanhar mais um Pokémon que estava do outro lado da estrada, um Pidgey. Mais à frente apanhámos novo Zubat e evoluímos para nível 4.



Foi aqui que ganhámos um novo objetivo para a nossa missão. A ideia já não era apenas fazer o percurso até ao Terreiro do Paço, agora queríamos evoluir até ao nível 5. Porquê? Porque é a partir deste nível que podemos fazer batalhas de ginásio. Ainda havia mais de metade do caminho para fazer pelo que nos pareceu um objetivo concretizável.

Continuámos pela Almirante Reis abaixo e fomos acedendo a várias poké-stops. Além de conseguir itens nestes pontos de interesse o utilizador também consegue pontos de experiência, o que contribuía e muito para a nossa causa.

Ao longo da nossa caminha rendemo-nos à precisão do jogo Pokémon GO. O nosso posicionamento no mapa corresponde exatamente aos pontos de referência que existem na vida real, um aspeto que consideramos como muito positivo.

Até ao nosso destino final foi mais do mesmo – desbloquear poké-stops e apanhar Zubats, muitos Zubats. Aliás, cá para nós e pela experiência que tivemos, Lisboa é a cidade dos Zubats.pokemon-go-zubat

 

 

Ainda não há um número oficial de jogadores, mas estima-se que só nos EUA sejam mais de cinco milhões

Houve um momento de felicidade quando encontrámos um Poliwag à porta do metro de Baixa-Chiado – sendo do tipo água, não era um pokémon que estivéssemos à espera de encontrar naquela zona, mas lá o trouxemos para casa.

Também temos a destacar uma experiência menos positiva. Sempre que o utilizador vê folhas aos saltos no mapa é sinal que existe um pokémon nessa área. Aproximámo-nos de uma destas zonas, andámos para trás e para a frente, e nada. Acabamos por vir embora sem o dito pokémon. Talvez devêssemos ter usado Incenso, o item que permite atrair pokémons pelo cheiro. Mas não o fizemos. Quisemos atestar até que ponto eles surgem por vontade própria ou se é necessário por vezes algum estímulo. Ficámos a saber que era o segundo.

Às 18.05 chegávamos então à Praça do Comércio, mas ainda não estávamos no tão desejado nível cinco. Decidimos dar mais uma volta ao quarteirão para apanharmos mais poké-stops. Aconselhamos especialmente aquele que existe em frente ao Banco de Portugal – deu-nos uma poção e três Revive, itens muito bem-vindos pois pokébolas já tínhamos umas quantas dezenas.

Às 18.10 conseguimos finalmente atingir o tão desejado nível 5. Fomos imediatamente para um ginásio de nível 3 que está localizado perto do Arco da Rua Augusta. Nunca tínhamos frequentado um ginásio, não sabíamos o que íamos encontrar.

Antes de lutarmos somos em primeiro lugar convidados a escolher uma de três equipas – amarela, azul ou vermelho. Fomos pela equipa azul, a equipa Mystic. Depois escolhemos os seis pokémons mais fortes que tínhamos fruto da nossa caminhada e fomos para combate.

Uma vergonha! O resultado final foi uma vergonha para nós. Nem um arranhão fizemos ao adversário e os nossos seis pokémons foram todos derrotados. Fomos com demasiada sede ao pote e demo-nos mal, muito mal. Ainda temos muito para treinar, para explorar e para evoluir até que possamos atirar-nos assim aos ginásios.

O que valeu de consolação é que mal terminámos a luta de ginásio surgiu um Krabby ao nosso lado. Claro que o trouxemos para casa também.

Às 18:15 dávamos por concluída a nossa aventura Pokémon para o dia. Também já só nos restava 14% de bateria – tínhamos começado com 64%. Ou seja, no espaço de uma hora e meia ficámos sem metade da autonomia do smartphone. Está confirmado portanto que precisa de ir capturar pokémons com uma bateria externa, caso contrário pode ficar apeado nos momentos mais críticos.

Nesta nossa aventura de hora e meia conseguimos apanhar 26 pokémons, muitos dos quais foram Zubats – nove, para sermos mais precisos -, mas também apanhámos algumas surpresas como os dois pokémons de água já referidos, um Mankey e um Sandshrew.

Para finalizar

Pokémon tem um encanto especial, sobretudo para os que acompanharam a série de desenhos animados e também jogaram os jogos da franquia. Agora que somos adultos podemos realizar finalmente o sonho de apanhar pokémons na rua. Os que não gostam tanto da série talvez não se sintam tão atraídos pelo conceito, mas o título tem apelo suficiente para qualquer pessoa.

Trata-se de um jogo que obriga as pessoas a irem para a rua, a caminharem, a descobrirem e quem sabe a conviverem. Só um grande jogo tem este poder.

Acima de tudo consideramos que Pokémon Go pode ser o jogo ideal para desbloquear o mercado da realidade aumentada. Até aqui já existiam algumas experiências engraçadas, mas este é o jogo que está a massificar o conceito.

Em termos de jogo podia ser muito mais evoluído. Por exemplo, limitamo-nos a apanhar pokémons e não a combater com eles como fazemos nos jogos das consolas. Seria interessante algo mais evoluído, mas a verdade é que também deixaria de ter um sentido tão prático. Caso contrário em vez de ficar parado durante 30 segundos num local podia ter de lá ficar cinco ou dez minutos.

Mais do que aquilo que o jogo oferece, na nossa opinião o grande potencial de Pokémon GO está naquilo que ainda pode vir a oferecer. Notificações de jogadores que estão na área, troca de pokémons, batalhas online… há ainda tanto para evoluir.

Até lá vamos continuar a ouvir histórias do arco da velha sobre Pokémon Go. Vamos certamente começar a ouvir histórias de novas amizades. Vamos ouvir falar de encontros com dezenas ou centenas de pessoas. E esperamos pacientemente pelo dia em que alguém vai conseguir apanhar todos os pokémons disponíveis. Quem será o primeiro campeão do mundo?

Nós não seremos de certeza, mas vamos continuar a tentar.