Lost Judgment

Lost Judgment – Análise

Da Ryu Ga Gotoku chega-nos a primeira sequela do spin-off da série YakuzaLost Judgment. Estando fora da narrativa central dos destinos de Kiryu Kazuma e, mais recentemente, Ichiban Kasuga, regressamos às calças de ganga extremamente justas de Takayuki Yagami para deslindar mais um caso.

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A pergunta que me coloquei durante todo o tempo que estive com Lost Judgment não fora, como seria de esperar, se o caso era desvendavel. Na verdade, a questão que me assolou mais fora: será que vale a pena?

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De: Tokyo | Para: Yokohama

À semelhança de Yakuza: Like a Dragon, a tradicional e sobejamente explorada Kamurocho fica para trás, para dar lugar a Ijincho, a cidade onde Ichiban desenvolve a maior parte da sua história. Yagami e o seu fiel braço-direito, Kaito, vão até Ijincho para ajudar num caso de bullying. Daqui, é um pulo enorme e rápido até uma complexa teia de manipulações, ligações surpreendentes entre vários casos e personagens e uma escolha moral atribuída a Yagami.

Se porventura são fãs de policiais norte-americanos, não vão ficar desapontados. Os antagonistas e – principalmente – os protagonistas seguem as mesmas linhas de resolução de problemas, muitas vezes descabidas e pouco naturais (as ações e os motivos escalam de forma um pouco surreal), porém mantendo sempre um grau de entretenimento interessante.

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Porém, o primeiro grande problema de Lost Judgment vive justamente na narrativa. Vá, para ser mais direto, vive em Yagami. A série Yakuza não é conhecida por ter narrativas realistas, focadas em momentos orgânicos e do dia a dia – são acontecimentos extraordinários, protagonizados por personagens que muitas vezes desafiam os limites da capacidade humana.

A capacidade de nos deixarmos levar pelos novelos melodramáticos está assente na riqueza narrativa das personagens principais. Kiryu, Majima, Ichiban, todos eles descontroem, de alguma forma, preconceitos associados à masculinidade tóxica de personagens estóicas e focadas na ação repleta de testosterona. Já Yagami… é perfeitamente flat. Tal como, de resto, os protagonistas das séries policiais de que falava acima.

Lost Judgment

Bullying para Dummies

Não ajuda nada, para além disso, a visão que Lost Judgment transmite sobre o bullying, os seus efeitos, quem dele sofre e quem o pratica. Naturalmente que precisamos de sair da nossa pele ocidental e olhar para este ponto com a perspectiva mais nipónica, duma sociedade que aborda este tema de forma drasticamente diferente da europeia.

Contudo, mesmo dentro das boas intenções que a narrativa principal apresenta, as justificações e acções acabam por não ter uma conclusão competente a nível reabilitador e psicológico, preferindo ir pelo caminho fácil do castigo e ostracização dos que praticam o ato, vilanizando-os. Enquanto fantasia de vingança, é óptimo. Enquanto comentário social, deixa bastante a desejar.

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Lost Judgment é, felizmente e para todos os efeitos, um videojogo da Ryu Ga Gotoku. E essa marca d’água está visivelmente patente no loop de jogabilidade. Tanto Ijincho como Kamurocho se transformam, rapidamente, num parque de diversões para todos os gostos, como é apanágio da série. Das arcadas aos jogos tradicionais, passando pelos vários restaurantes, bares, não faltam tarefas para cumprir.

E todas as tarefas, pequenas ou grandes, têm uma recompensa associada. Seja tomar um cocktail diferente ou vencer inimigos sem que nos toquem, todas as nossas acções contribuem para completarmos um pouco mais o jogo. Como, de resto, em todos os Yakuza anteriores.

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Mais uma moedinha, mais uma voltinha…

A jogabilidade não está diferente. Aliás, se tanto, está bastante melhor que a do Judgment original. O combate nunca foi tão satisfatório como aqui – a física das personagens, o peso de cada movimento, combo e movimento de defesa quase que nos atira para uma versão beat-em-up de Virtua Fighter, e dá genuíno prazer encontrarmos mobs para enfrentar nas ruas e colocarmos em prática mais uns combos.

De regresso estão também as sequências de perseguição e investigação, que cortam muita da gordura do primeiro jogo e tornam-se apenas uma diversão esporádica ao contrário do corte brusco de progresso. Não, o stealth ainda não é ao nível do Metal Gear Solid, mas dura pouco tempo, portanto não chateia.

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A vertente de detective de Yagami é explorada, também, com os questionários que vamos fazendo a algumas das personagens principais, bem como alguns momentos de exploração de fotografias, momentos ou diálogos. Não são extensos nem muito pormenorizados, na realidade, e acabam até por ter mais em comum com Ace Attorney que com outros jogos da saga Yakuza.

Durante a nossa investigação podemos ir descobrindo vários side cases, que substituem as clássicas side stories da série principal, mas o destaque vai para as School Stories: a dada altura de Lost Judgment, precisamos de nos infiltrar no seio da escola secundária Seiryo. A melhor forma de o fazermos é tornarmo-nos um conselheiro do clube de Mistério.

A partir daqui, necessitamos de completar mini-jogos e missões com os vários clubes presentes na escola para ganhar a confiança dos alunos, ajudá-los a melhorar as suas competências mas também para ganharmos mais informação sobre o Professor, o caso principal dentro deste sub-enredo.

Esta vertente social traz uma motivação extra ao que seriam apenas mini-jogos para fazer check a uma lista de tarefas e tem alguns momentos especialmente emocionantes entre os vários alunos.

Considerações Finais

Contudo, ao fim das 20-30 horas da campanha principal (quase 100, se quiserem mesmo completar tudo), a sensação com que ficámos foi de… insatisfação. Por um lado, mecânica e graficamente – Lost Judgment corre a 60fps constantes com excelentes efeitos de luz na Series X, onde o testámos – é uma injeção constante de serotonina. Todas as acções mecânicas no jogo têm um propósito de progressão para Yagami, seja para desbloquear novas habilidades dos seus três estilos de combate, seja para melhorar as habilidades de exploração da cidade.

Narrativamente, não há outra forma de dizer isto, o jogo espalha-se ao comprido. Para veteranos da série, é também um momento importante, principalmente depois da divisão temática e mecânica com Like a Dragon. Porque na realidade, apesar de se jogar bem, o loop é o mesmo. As tarefas são, com mais ou menos acepipes, as mesmas. E se na saga Yakuza, esta repetição com afinamentos ligeiros a cada iteração é suportada por algumas das melhores personagens no universo dos videojogos de ação, em Lost Judgment temos um Yagami sem emoções e sem grande interpretação, na realidade, que deixa a nu de forma bastante mais reveladora as arestas por limar.

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O tema é, talvez, dos mais sérios até agora abordados pela saga, mas a forma quase… infantil como o aborda e como nos atira twist atrás de twist sem que os mesmos estejam narrativamente consistentes com o que conhecemos das personagens deixa-nos um sabor agridoce.

Se são fãs de Yakuza e o que vos satisfaz verdadeiramente é a jogabilidade, têm aqui uma excelente alternativa para mais uma dose de felicidade. Se, no entanto, forem as personagens e a narrativa que vos encanta na saga… é melhor esperarem pelo próximo capítulo da saga de Ichiban.


+ Excelente sistema de combate, o melhor da série
+ Sequências de perseguição melhoradas
+ Conteúdo extra significativo e com qualidade

– O pior protagonista da saga
– Narrativa pueril e infantil
– Fraca contextualização de temas adultos

N.R.: A análise a Lost Judgment foi realizada numa Xbox Series X com acesso a uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Play & Game