Yonder: The Cloud Catcher Chronicles

Yonder: The Cloud Catcher Chronicles – Análise

Escrever sobre jogos que nos emocionam, marcam, divertem é fácil. Tão fácil, quanto escrever sobre títulos que nos ofendem, que nos deixam com um sabor amargo na boca. Porém, eu encontro maior dificuldade na terceira hipótese: nos que não sabem a nada.

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Yonder: The Cloud Catcher Chronicles é um desses títulos. Junta no tacho ingredientes de receitas de sucesso, não queima o preparado, mas esquece-se do essencial: o tempero.

Gemea, paraíso em crise

Somos levados, por um barco a meio de uma tempestade, para Gemea, uma ilha preenchida pelo misterioso Murk, substância que destrói o ecossistema, atrapalha a vida dos seus habitantes e dificulta o desenvolvimento.

Este elemento ecológico é, talvez, a vertente mais bem desenvolvida de Yonder: The Cloud Catcher Chronicles. O nosso progresso no jogo depende das várias tarefas que vamos completando ao longo da ilha, seja para resolver algumas quests dadas pelos habitantes, seja a reconstruir pontes, seja a limpar o Murk.

Todas elas estão diretamente ligadas à mensagem principal de um ecossistema mais equilibrado, mais saudável, principalmente através da mecânica de replantação. O loop de gameplay deste jogo está muito focado na recolha de recursos para criar mais instrumentos e momentos de narrativa, sendo que um deles é a madeira. Normalmente, cortamos as árvores sem pensar porque voltam a nascer um tempo depois.

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Aqui, não. Se não plantarmos sementes, ficamos sem árvores – e o jogo comunica-nos esta escassez através de um nº de árvores que são necessárias plantar em cada região, decrescendo de cada vez que cortamos uma para recolher madeira. É subtil, mas de facto coloca-nos num papel mais consciente sobre o impacto ambiental das nossas decisões.

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Ambição sem substância

Porém, fica por aqui a vertente mais… original. O resto do jogo leva-nos a descobrir Sprites, pequenos seres mágicos que nos falam num sonho e nos dão a missão de salvar Gemea. São justamente estes seres que, quando recolhidos em número suficiente, nos permitem desbloquear novos caminhos e limpar o Murk.

O jogo bebe muito da fonte de títulos como My Time at Portia, Story of Seasons ou Stardew Valley, apresentando-nos o que pretende ser um sistema de crafting simplificado. E que, na sua génese, realmente é: acedendo ao inventário, conseguimos rapidamente perceber quantos itens precisamos para construir determinadas ferramentas.

Contudo, a UI de Yonder: The Cloud Catcher Chronicles é francamente má. Contrastes completamente absurdos, de tal forma que não conseguimos por vezes distinguir os itens uns dos outros, nem tão-pouco o texto. Para além disso, não é exactamente imediato como é que navegamos ou interagimos com os objectos que capturamos.

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Este problema de UI surge também na forma como o jogo interpreta o mercado. Precisamos, em determinados momentos, de comprar e vender itens. Só que, fruto duma visão mais focada na troca de serviços, precisamos de oferecer produtos no mesmo valor ou superior daquele a que nos dispomos a comprar ao comerciante.

Este ponto também não é exactamente claro, levando-nos por vezes a voltar atrás para construir largas dezenas de itens para conseguirmos comprar outro, num esforço para não perdermos itens decorativos para a nossa personagem.

Essa é, aliás, a “customização” que o jogo oferece. Algumas roupas que encontramos, de forma aleatória, ao longo do mapa, e que podemos equipar para alterar o visual. Noutros títulos poderia ser interessante, mas pelo menos na versão da Xbox Series X, a… “otimização” para HDR saiu tão ao lado que raro é o momento em que conseguimos distinguir o que a nossa personagem está a usar no inventário.

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Voar demasiado próximo do Sol…

Escolhi justamente pegar nos gráficos e na jogabilidade ao mesmo tempo porque sofrem do mesmo mal: desleixo. Vamos recolhendo vários recursos naturais que utilizamos para construir novas ferramentas, ou pontes, ou até para melhorar e tratar das várias quintas que podemos adquirir.

Neste ponto, podemos – e devemos – encontrar várias espécies animais, que podemos catalogar e que variam de acordo com a estação do ano, o dia, a hora, com ciclos migratórios. Todos estes pontos, vistos de fora, parecem interessantes, mas em Yonder: The Cloud Catcher Chronicles, são apenas largados em massa.

O sistema de crafting é simples, mas muito mediano: não nos oferece recompensa imediata pelo tempo investido a descobrir e a cultivar recursos, ainda para mais porque a narrativa sofre duma simplificação que a torna irrelevante muito depressa. Para além disso, os gráficos, apesar de coloridos em alguns pontos, sofrem do mesmo síndrome mediano. Assets que podemos jurar já ter visto noutros jogos, sem grande originalidade artística, apenas colocados em sucessão para que possamos ir progredindo.

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A má otimização com o HDR causa, também, alguma dificuldade em apreciar os poucos elementos em que nos parece existir uma direção artística original, com luzes demasiado esbatidas nuns momentos, ou cores demasiado berrantes noutros. A história só avança se formos explorando e respondendo aos pedidos dos aldeões para construir este e outro elemento o que, com boa escrita, atenua o tédio do progresso repetitivo.

Neste caso, a escrita é tão, em simultâneo, macarrónica e básica que vão dar por carregar no skip o mais depressa possível só para poderem avançar mais um pouco.

Considerações Finais

No final do dia, Yonder: The Cloud Catcher Chronicles tenta implementar uma série de sistemas e ideias de design que, quando são o foco e estão trabalhadas ao ínfimo pormenor, correm bem. Se me permitirem, regressando à analogia da cozinha: não vale a pena encher um tacho dos melhores ingredientes, se depois a única coisa que fazemos é deitar água e levar ao lume.

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É preciso paciência, conhecimento, tomadas de decisões para deixar determinados sabores que não combinam bem de fora… e tempero. Criatividade. Um elemento que distinga o prato e que lhe dê sabor. Como está, este título apenas nos surge como um daqueles pratos num buffet, cheio de comida de vários pontos, nenhuma particularmente bem cozinhada, e que no fim, nos deixa cheios, mas não satisfeitos.

+ Componente ecológica interessante


– Péssima otimização gráfica na Series X

– Gameplay loop demasiado repetitivo e monótono

– Pouca ou nenhuma originalidade

N.R.: A análise a Yonder: The Cloud Catcher Chronicles foi realizada numa Xbox Series X com acesso a uma cópia do jogo cedida pela Merge Games