BQ Aquaris X: Acordar para a fotografia

Nos últimos anos temos assistido a uma tendência interessante no segmento dos dispositivos móveis: a fotografia está a ganhar cada vez mais relevância para os consumidores. Os sensores fotográficos são mesmo, muitas vezes, o principal fator de desempate entre smartphones da mesma categoria.

A fotografia tem sido inclusive uma das poucas características nos smartphones que, modelo após modelo, tem apresentado melhorias significativas, seja no hardware ou no software.




Rapidamente vários fabricantes perceberam a importância da fotografia nos smartphones. A Apple tem, por exemplo, uma equipa de 800 engenheiros dedicados apenas à componente fotográfica do iPhone. A LG também foi das primeiras a fazer uma forte aposta na fotografia. A Asus percebeu que mesmo chegando tarde ao mercado, seria este um dos factores cruciais na conquista de novos utilizadores. A Huawei agigantou-se nesta área nos últimos dois anos. E a Samsung é neste momento uma das que apresenta equipamentos com melhor desempenho fotográfico.

Mas a mensagem não parece ter chegado a todos os fabricantes da mesma forma. Pela experiência que já tive com vários smartphones da marca espanhola BQ, posso dizer que a fotografia sempre foi um dos elementos menos interessantes nos equipamentos da linha Aquaris.

Os smartphones da BQ destacavam-se sobretudo pelos ecrãs de boa qualidade, pela experiência Android quase pura e pela relação qualidade-preço dos smartphones. Mas porque não uma maior aposta na fotografia? Por exemplo, quando testámos o BQ Aquaris U Plus, o sensor fotográfico de 16 megapíxeis não apresentava uma qualidade condizente com o valor que é ‘proposto’ aos utilizadores.

Quando foram revelados os novos Aquaris X e Aquaris X Pro, a BQ mostrou intenções de querer mudar finalmente este cenário. Não que a tecnológica não tivesse smartphones com boa capacidade fotográfica, mas havia claramente trabalho a fazer nesta área. Para os novos dispositivos a BQ disse que tinham sido feitas melhorias ao nível da fotografia e que este era mesmo um dos destaques dos seus equipamentos.

Tivemos a oportunidade de testar o Aquaris X ao longo das últimas semanas e daquilo que apurámos a BQ parece finalmente ter despertado para a fotografia.

Melhoria nos resultados, interface ainda precisa de trabalho

Vamos começar justamente pelo factor fotografia nesta análise. Mesmo apresentando um sensor de 16 megapíxeis tal como no Aquaris U, nota-se claramente que o sensor deste Aquaris X tem um desempenho muito superior.

As fotografias captadas apresentam um nível de detalhe muito mais elevado, algo que se nota até pelo tempo que o smartphone leva a renderizar por completo as imagens. Aplicando algum zoom à fotografia, a qualidade da mantém-se e não existe muito grão, havendo igualmente uma reprodução fiel de cores.

Ainda que a interpretação dos contrastes também tenha melhorado, esta é uma área na qual a BQ pode trabalhar ainda mais um pouco – isto nota-se sobretudo em fotografias contraluz. Bons contrastes numa fotografia ajudam a criar um maior sentido de realismo e profundidade. Neste ponto de análise os resultados do Aquaris X são aceitáveis, mas talvez possa haver uma futura otimização de software que melhore ainda mais os resultados finais.

A melhoria no resultado da câmara fotográfica também é notória em ambientes menos iluminados. Este sensor de 16 megapíxeis consegue recolher luz suficiente para apresentar imagens decentes quando captadas dentro de casa ou mesmo à noite. Para este resultado a câmara consegue captar bem os tons quentes, o que ajuda a ‘iluminar’ o tema da fotografia.

Ao nível da fotografia também gostamos do resultado apresentado pelo sensor frontal de oito megapíxeis, que garante um nível interessante de iluminação e devolve ao utilizador selfies com bons níveis de detalhe e com uma boa reprodução de cores.

Na câmara frontal os utilizadores vão inclusive conseguir criar fotografias em HDR: pode ser uma ferramenta interessante para dar vivacidade a algumas selfies, mas também pode deixá-lo muito mais moreno do que é na realidade. Tudo dependerá do caso de utilização, mas é pelo menos um aspeto positivo ter esta opção no sensor frontal – que vem igualmente acompanhado de um flash-LED.

Só não gostamos do interface dado à câmara. É muito pouco subtil – existem demasiadas opções e comandos visíveis – e tem um aspeto antiquado. A utilização de separadores identificados com uma linha vermelha, assim como o controlador de iluminação a amarelo são elementos que podem tornar-se distrativos na captação de fotografia. Apesar de ter feito uma atualização durante os testes, o software da câmara ainda apresenta erros, pelo que este é um elemento bastante negativo a apontar ao equipamento – no nosso caso a gravação de vídeos surgia com uma moldura verde à volta.

A BQ é conhecida por manter a experiência do Android bastante pura, mas para vincar a sua aposta na fotografia a empresa acabou por não acertar no software.

No geral o importante foi melhorado, isto é, a qualidade das fotografias. Agora sim a BQ começa a apresentar câmaras fotográficas que estão não só mais em linha com o preço dos seus equipamentos, como estão mais em linha com aquilo que a concorrência já apresenta. Resta saber se esta aposta não terá sido feita um pouco tarde demais.

Sóbrio, como sempre

Nos últimos anos a BQ tem feito algumas experiências e integrações novas em termos de materiais nos seus smartphones. O Aquaris X5 trouxe a moldura em metal, o Aquaris U Plus apostava numa parte traseira toda ela em metal-casquilho e com o Aquaris X Pro a empresa aposta num acrílico brilhante.

No caso do Aquaris X a construção do equipamento é em plástico, mas isso não significa que seja um material barato. Apesar desta escolha, o dispositivo transmite uma sensação de robustez e apresenta uma boa coesão visual e tátil.

No caso do modelo preto – aquele que foi testado aqui no FUTURE BEHIND -, o smartphone parece todo ele um bloco coeso e construído numa peça única. Isto deve-se acima de tudo à aposta num ecrã com efeito 2,5D e ao design arredondado que integra bem o ecrã, a moldura lateral em metal e a parte traseira em plástico.

O plástico baço escolhido para este Aquaris X foi no entanto uma má escolha no que diz respeito às impressões digitais. Os smartphones com construções em vidro, por exemplo, também agarram facilmente a sujidade dos dedos, mas também é verdade que essa sujidade sai com facilidade. No caso do Aquaris X as marcas são mais notórias e são também mais difíceis de tirar.

Ainda assim a BQ conseguiu alcançar um smartphone bem equilibrado no tamanho, no peso, no perfil e que é bastante agradável à vista. É ainda um equipamento que assenta bem na mão e é fácil de manusear, mesmo tendo em conta o ecrã de 5,2 polegadas.

Por falar em ecrã, a BQ voltou a cumprir neste aspeto. O painel Full HD apresenta um bom detalhe, apresenta também uma boa reprodução de cores e excelentes ângulos de visualização. Onde nos parece que o ecrã do Aquaris X podia ser mais ambicioso é nos níveis máximos de iluminação, algo que é acima de tudo notório quando estamos a usar o smartphone fora de portas.

O ecrã do Aquaris X dá ao utilizador uma boa experiência de consumo de conteúdos multimédia. Não tem as cores espetaculares de um ecrã AMOLED, mas também não tem as cores pouco vivas que por vezes encontramos em smartphones abaixo dos 300 euros. Se houve área na qual a BQ sempre apresentou um bom equilíbrio foi no painel do smartphone e este equipamento vem manter essa tradição.

Boa máquina de jogos

É um dos problemas comuns nos smartphones de média gama: quando há características que são boas, por norma há outras menos boas, algo que acontece para tentar equilibrar o preço final.

O ecrã e a câmara são dois dos primeiros elementos a explorar no smartphone e no caso deste BQ até resultaram em factores positivos. Quereria isto dizer que o lado negativo estaria na performance? Não, não estava.

O Aquaris X vem equipado com um processador Snapdragon 625 e uma unidade gráfica Adreno 506. Estes são componentes típicos de gama média, mas que neste caso garantem um bom desempenho ao smartphone, ao mesmo tempo que respeitam o consumo energético.

A experiência de utilização diária e de aplicações foi sempre fluída e rápida, muito graças à preservação quase pura do Android 7.1.1, o sistema operativo de base deste smartphone. Este é um ponto positivo e quem o adquirir também já vai ter acesso à atualização de segurança de maio de 2017 do Android – um pormenor que pessoalmente valorizo bastante.

O multitasking é rápido, a execução de aplicações não é rapidíssima, mas é veloz o suficiente para uma utilização agradável e ao longo das semanas não notámos quebras de performance.

Quando pusemos a parte gráfica em testes os resultados foram igualmente satisfatórios. Experimentámos jogos como Valiant Hearts, Card Thief, PES 2017 e Age of 2048, todos eles com um desempenho irrepreensível. O PES 2017 foi o título mais exigente que testámos e mesmo neste caso o smartphone esteve sempre à altura do desafio.

Recuperamos aqui mais uma vez a ideia que já tínhamos defendido na análise do Samsung Galaxy S8: os smartphones atuais já garantem todos eles um bom desempenho, mesmo com especificações mais modestas. O que estas especificações agora dizem é quanto tempo é que o smartphone vai viver em ‘alta competição’.

É provável que dentro de um ano o smartphone já tenha mais alguma dificuldade com a exigência das aplicações, algo que que vai aumentando gradualmente. Mas se o utilizador souber fazer uma boa gestão do equipamento e se a BQ der um bom suporte ao nível do software, então esta questão será uma não-questão no caso do Aquaris X.

Considerações finais

Então não há pontos negativos a apontar ao BQ Aquaris X? Que sejam muito notórios, não. O sistema de som é modesto, o leitor de impressões digitais não é o mais veloz e por vezes não faz a leitura correta. Já falámos na questão do pouco brilho do ecrã e também da facilidade com que fica sujo.

Tirando isto, é um smartphone de gama média bem conseguido. Bom desempenho, bom desempenho ao nível de jogos, bom ecrã e com uma câmara fotográfica bastante aceitável. É isto: a BQ quis criar um smartphone de gama média que fosse fiável e a missão foi cumprida.

O maior problema do Aquaris X não está no smartphone em si, está na concorrência. Olhando para aquilo que existe no mercado lá fora, existem algumas questões que os consumidores podem colocar. Não podia a construção ser melhor conseguida? Podia. Não podia a câmara fotográfica ser ainda melhor? Podia. Não podia a autonomia ser maior? Um dia e meio está em linha com a restante indústria, mas sim, podia. Não podia o preço de 290 euros ser mais competitivo? Talvez pudesse.

A questão é que estas diferentes características, tal como referimos, por vezes marcam presença em smartphones mais baratos, mas que depois não garantem a mesma robustez em todos os principais pontos de análise. O BQ Aquaris X faz isso e faz isso com distinção.

É esta conjugação de características medianas, mas boas para o preço, que cria o seu verdadeiro valor para o consumidor. Diríamos que o BQ é para os consumidores que descartam por completo os smartphones vindos da China, procuram um dispositivo de bom desempenho e que não obriga a um grande investimento.

Tendo em conta aquilo que vimos no Aquaris U Plus, o Aquaris X parece-nos uma proposta de valor muito mais interessante e parece-nos que é uma evolução positiva no portfólio da tecnológica espanhola.

BQ Aquaris X
Design e construção
7
Ecrã
7
Fotografia
7
Performance
8
Autonomia
8
Software
8
Reader Rating8 Votes
7.4
Bom para jogos
Android na versão 7.1.1
Visual bem equilibrado
Software de fotografia
Brilho máximo do ecrã
Construção podia ser mais cuidada
7.5
EM 10
Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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