Análise Review Tbee

Tbee: Uma box de televisão cheia de virtudes e alguns pecados

“Se me permitir dizer só uma frase, a forma mais simples que tenho para resumir a Tbee é assim: as outras boxes Android que existem no mercado são feitas para pessoas como eu, que são geeks. Esta box é a primeira box feita para humanos”. Foi desta forma que o diretor executivo da Quidbox, Paulo Silva, descreveu o seu próprio produto.

Uma afirmação arriscada pois o mercado da televisão tem sido particularmente difícil para as empresas que têm tentado reinventar o sector – incluindo para gigantes como a Apple e a Google. E este é justamente o slogan da Tbee: TV beeinvented [televisão reinventada, em tradução livre, com um trocadilho com o nome do produto].




Sendo um produto português, apresentando-se com uma lista ambiciosa de características para um equipamento deste segmento e apoiada por uma declaração forte, o nosso interesse em testar a Tbee não podia ser maior. Agora que já utilizámos a box desenvolvida em Braga podemos dizer que é um conceito cheio de potencial, mas que acaba por ser afetado por algumas falhas significativas.

Podemos começar justamente pela declaração de Paulo Silva. É ou não a Tbee uma box para pessoas sem grandes conhecimentos técnicos? Mais ou menos. Esta não é apenas uma resposta politicamente correta, é simplesmente a sensação com a qual ficamos depois de testar a box.

Análise Review Tbee

Por um lado o interface do software que equipa a Tbee está bem conseguido. É simples e muito fácil de dominar. Do lado esquerdo do televisor vão surgir sempre as aplicações que são mais usadas pelo utilizador, querendo isto dizer que os serviços que mais usa estarão sempre à distância de um clique. Mas se precisar de encontrar uma outra aplicação qualquer, então o mais provável é conseguir chegar até ela em apenas dois cliques.

O interface da Tbee foi projetado como se fosse um conjunto de favos – sempre dispostos do lado direito do ecrã. Além de bater certo com a imagem da empresa, é de facto funcional. Há um primeiro painel de favos que dá acesso às aplicações de televisão, jogos, redes sociais, música e vídeos. Ainda neste favo há uma opção de pesquisa e outra para aceder ao segundo menu. Neste segundo menu vai encontrar o navegador de internet, a gaveta para todas as aplicações instaladas, as definições e também os perfis de utilizadores.

Em termos de interação não há nada que enganar: selecione o favo que pretende, clique no comando e escolha depois a aplicação que precisa. Neste aspeto a Tbee é de facto bastante user friendly e mesmo para pessoas sem grande conhecimento tecnológico deverá representar uma curva de aprendizagem reduzida.

Por outro lado, a Tbee sofre do mesmo problema que sofrem tantas outras boxes multimédia. Para usar os serviços é preciso estar, na maior parte dos casos registado – e é aqui que os utilizadores menos ‘tecnológicos’ podem e certamente vão sentir dificuldades.

A Tbee não elimina o processo infernal que é perder cerca de 40 minutos a fazer login ou a registar-se nos principais serviços. Eu próprio perdi vontade de fazer autenticação em muitos dos serviços disponíveis pois não é um processo instantâneo, antes pelo contrário.

É justo dizer que a Tbee também tenta dar uma ajuda neste campo ao incluir um teclado completo na parte traseira do comando. Ajuda um pouco na tarefa de digitar caracteres num televisor, mas está longe de ser uma experiência imaculada.

Portanto, sim, a Tbee é simples de usar, mas não, a Tbee ainda não elimina todas as barreiras negativas que por norma estão associadas ao uso de aplicações em televisores. Seria por exemplo interessante ter uma aplicação da Tbee no smartphone que sincronizasse os logins das aplicações que temos no telemóvel com o televisor, poupava logo metade do trabalho.

Mas o acesso a um vasto conjunto de aplicações acaba por ser o grande ponto positivo de equipamentos como a Tbee. A box portuguesa tem instalada uma versão do Android que garante total acesso ao Google Play e a todas as aplicações que lá existem. Além disso traz o programa Kodi instalado de origem, que abre uma míriade de oportunidades para instalação de serviços de vídeo e música online.

Isto quer dizer que pode ter, no ecrã do seu televisor, virtualmente todas as aplicações que estão disponíveis para o sistema operativo Android. Na prática a Tbee permite transformar um televisor tradicional – desde que tenha entrada HDMI – numa smart tv. Ou seja, em vez de comprar um televisor novo que permite ter aplicações, jogos e serviços mais recentes como o Netflix, pode optar por manter o televisor que já tem e fazer um investimento mais reduzido numa box.

A Tbee tem um preço de 179 euros, mas esta ainda não é a parte na qual vamos tecer considerações sobre o seu valor.

Ainda relativamente às aplicações, apesar do acesso a um grande número de serviços, estas aplicações não estão otimizadas para uma experiência num televisor. Por exemplo, quando experimentámos o Instagram através da Tbee as fotografias ficaram gigantes e muito más – nem sequer era possível ver a fotografia completa, era preciso ir arrastando o cursor pela imagem. Queremos deixar claro que esta não é uma responsabilidade direta da Tbee nem da Quidbox, pois não são quem controlam o que é publicado no ecossistema Android, apenas tiram proveito disso.

Há outros problemas, além do interface, causados pela falta de otimização. As aplicações que existem na loja do Android estão pensadas para dispositivos touchscreen e para interações com os dedos. Quer isto dizer que pode haver aplicações que não serão muito funcionais no grande ecrã.

Vamos usar o exemplo de dois jogos para que possa perceber. Em Cut the Rope 2 o utilizador pode usar o comando da Tbee para controlar o cursor que surge no ecrã. Aqui funciona tudo bem – com o comando pode ir cortando as cordas que fazem cair os doces para o Om Nom. Já noutro jogo, Hill Climb Racing 2, é suposto o jogador carregar em dois locais do ecrã em simultâneo – algo que com a Tbee não é possível fazer. Portanto, Hill Climb Racing 2 é um jogo que já fica riscado ao nível de utilização.

Naquilo que é verdadeiramente mais importante, nas aplicações de vídeo como o Netflix, YouTube, RTP Play ou TVI Player, não vai encontrar estes problemas. Mas sabendo que eles existem em alguns casos, parece-nos justo fazer a devida referência.

Ainda relativamente à implementação do sistema operativo Android, parece-nos bastante imprudente lançar um equipamento em 2016, com perspetivas de venda em 2017, que vem equipado com uma versão do sistema operativo que foi lançada em 2013. Ter o Android 4.4.2 numa box de televisão, que até tem uma câmara apontada constantemente aos utilizadores, é uma má prática e um dos grandes pontos negativos que temos a assinalar na Tbee. Os perigos de segurança informática que podem estar associados a uma versão tão antiga do Android parece-nos motivo suficiente para que o utilizador possa querer optar por outras alternativas.

Caso não fique ‘assustado’ com esta questão, então há razões que de facto podem atraí-lo na Tbee.

Duas delas já referimos ao de leve: o comando e a câmara. No caso do comando, é pequeno, bastante leve e com design simplista. Ter um excesso de botões só tornaria mais complicada a relação com a box, portanto a Tbee fez bem em manter o controlador o mais simples possível.

A box reconhece ainda os movimentos do comando, significando isto que pode usar o controlador da Tbee como se fosse um comando da Nintendo Switch – movimente o comando no ar e o cursor no televisor vai seguir os seus movimentos. Neste aspeto a Tbee pareceu-nos bastante precisa e preferimos de facto movimentar o comando com um braço no ar do que estar a carregar nos botões direcionais.

Como já dissemos, a adição do teclado na parte traseira é uma mais-valia para os processos de login, registo, ou então para fazer pesquisas no navegador de internet. Mas se não quiser escrever, também tem disponível um sistema de pesquisa por voz. O microfone está integrado no comando.

Quando falámos com o CEO da Quidbox, o responsável disse que este sistema é uma mistura da tecnologia de pesquisa por voz da Google e também tecnologia interna. Durante os testes funcionou bastante bem para pesquisas em português, que até incluíram o nome de algumas celebridades.

O sistema de pesquisa do sistema operativo da Tbee também consegue fazer uma busca por todas as aplicações do sistema para saber se há conteúdos na box que correspondem àquilo que o utilizador procura – mais um pormenor diferenciador.

Caso não queira usar o comando ou a sua voz para interagir com a box, pode recorrer a uma terceira opção: movimentos. O sensor integrado na parte frontal da Tbee serve para captar fotografias, para ser usado como câmara em videoconferências e para reconhecer movimentos – do comando ou da mão da pessoa.

Basta levantar a mão com o indicador esticado que a Tbee reconhece de imediato a posição do membro. Num ambiente de baixa luminosidade o sensor até fez um bom reconhecimento da mão, mas este método é muito menos preciso do que usar, por exemplo, o comando em modo ‘varinha mágica’. Mas o reconhecimento de gestos do utilizador pode ser algo útil para quando o comando está perdido algures no ‘triângulo das bermudas’ do sofá.

Outro ponto forte da Tbee é o facto de ter uma porta HDMI In, querendo isto dizer que pode ligar a box do seu operador de televisão à box multimédia da Quidbox. ‘Qual a vantagem disto‘, perguntará. A vantagem é poder ter toda a experiência de televisão concentrada na mesma plataforma.

Se tiver as duas boxes ligadas não precisará de mudar a fonte de sinal do televisor, por exemplo, quando já não quer ver televisão, mas quer aceder ao Facebook na Tbee. Mais uma vez a adaptação que a Quidbox fez do Android tem um aspeto positivo: quando está a ver um conteúdo de vídeo e quer ir procurar outra aplicação, o sistema reduz o tamanho da janela do vídeo, mas não a encerra por completo. Significa isto que pode continuar a espreitar a telenovela ou o telejornal enquanto está à procura do melhor jogo para instalar.

Ao nível do desempenho a box apresentou-se com um bom comportamento, mas há aplicações que ‘puxam’ pelo sistema e que não são tão fluídas quanto outras. Um destes exemplos é o Skype, cuja aplicação apresentou alguns ‘engasgos’ durante a nossa utilização. Por outro lado fizemos uma videochamada a partir da TV com uma performance aceitável, tanto na qualidade de imagem, como na qualidade de som.

Análise Review Tbee

Por fim é preciso pensar na questão do preço. Por 179 euros não podemos dizer que a Tbee é um equipamento muito competitivo – há muitas outras boxes com o sistema operativo Android que garantem acesso ao mesmo número de aplicações e custam metade ou até menos.

Mas essas boxes não têm um comando que rastreia os movimentos, não têm um sistema de pesquisa por voz eficaz, dificilmente têm uma câmara e uma entrada HDMI In para conviverem com outras boxes. Estes são alguns dos elementos que deve ter em conta quando está a avaliar a possibilidade de compra da Tbee ou de outra box.

A título de comparação, pelos mesmos 179 euros pode comprar uma Apple TV de última geração – com a vantagem de saber que neste ecossistema todas as aplicações que estão disponíveis, como Trivia Planet, estão otimizadas para o formato do televisor. E se está a comprar um complemento para o seu televisor, talvez seja bom que as aplicações estejam de facto pensadas para este ambiente.

Considerações finais

A Tbee tem uma proposta de valor forte. Como box multimédia consegue de facto trazer toda uma nova vida aos televisores, sobretudo os que não são smart. Ter acesso a todas as aplicações do sistema operativo Android num ecrã de grandes dimensões é uma ideia bastante sedutora.

Dentro do universo das boxes Android para televisor a Tbee não é barata. Consegue propostas mais competitivas no mercado, três vezes mais baratas, mas não leva o mesmo pacote tecnológico. Por outro lado seria de esperar que por 180 euros a Tbee trouxesse uma versão atual do Android, algo que não acontece e que pode representar um risco de segurança.

A Tbee consegue também simplificar a interação entre o utilizador e o televisor, mas não elimina por completo aqueles que são os entraves clássicos de uma experiência smart num televisor.

Em última análise o preço da Tbee não é um exagero, mas talvez devesse ser mais competitivo. Afinal de contas, já existem smart tv cujo preço começa nos 330 euros.

Tbee
Reader Rating9 Votes
Acesso a um grande nº de apps
Comando muito versátil
Integração do ecossistema Kodi
Imperdoável ter Android 4.4.2
Há aplicações no Android não otimizadas para TV
Preço muito superior a outras boxes Android
3.5
EM 5