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Call of Duty, os gregos e os troianos

O peso do sucesso é tramado. Call of Duty tornou-se numa das maiores franquias de videojogos de sempre e o novo jogo que chega ao mercado a cada ano vende milhões e milhões de cópias. De acordo com a plataforma Statista já são mais de 225 milhões as licenças vendidas aos jogadores nos últimos anos.

Para ter uma ideia mais recente o jogo Call of Duty: Advanced Warfare, lançado em 2014, vendeu mais de 20 milhões de cópias até à data.

Mas quem tem acompanhado a saga tem também reparado que nos sites da especialidade existem várias críticas à forma como o jogo tem evoluído. Esta semana, a 2 de maio, foi anunciado o novo Call of Duty: Infinite Warfare e que vai levar os jogadores até ao espaço. Porquê? Porque os responsáveis do jogo acreditam que será a próxima grande fronteira a ser alvo de militarização.

“O espaço é como um oceano profundo e escuro. Estamos a tirar muitas informações e a desenhar várias metáforas relativas à atual tecnologia naval”, explicou à publicação Polygon o diretor de narrativa do jogo, Taylor Kurosaki, que revelou também que a produtora trabalhou de perto com militares norte-americanos para conseguir um resultado mais realista.

Ou seja, o grande sucesso  e a ambição da franquia colocam-lhe ao mesmo tempo um alvo gigante nas costas.

“Desisti depois do Black Ops”, escreve um leitor no The Verge. “Mesmo saindo do planeta e ainda parece como os antigos. Aquilo pareceu aborrecido, não só a jogabilidade, mas também todo o ambiente de ficção científica”, escreve outro no Polygon. “Estou cansado desses jogos futuristas, sempre a versão do outro melhorada!”, exclamou outro internauta no Eurogamer.pt. “O jogo é fácil de odiar? Claro que é. Porque o jogo parece uma porcaria”, desta vez lê-se no Kotaku. “Espaço? A sério? O Call of Duty começou oficialmente o seu declínio. Este será o jogo que as pessoas lembrarão como o fim”, escreve um outro leitor no GameSpot.

Claro que estes são comentários pontuais e nos mesmos murais de publicações existem muitos mais comentários indiferentes ou com tendência positiva. São apenas opiniões de internautas e nem sequer é possível confirmar se são de facto jogadores da franquia. Mas não deixam de ser sinais de descontentamento.

Como se afasta muito da dinâmica original, os novos CoD perdem um pouco entre os jogadores mais antigos e tradicionais. Mas como estão a apostar em conceitos inovadores, acabam por cativar outros. É um braço de ferro que a editora da franquia tem de fazer consigo mesma e no fim lá está: pode não agradar nem a gregos nem a troianos.

A qualidade dos jogos não está em causa pois as vendas são reflexo do trabalho dos vários estúdios que têm desenvolvido a franquia. Mas quando olhamos para os sinais provenientes de Call of Duty não conseguimos tirar da cabeça outra saga muito bem sucedida nos videojogos.

Assassin’s Creed

Pela primeira vez desde 2009 a Ubisoft não vai fazer chegar uma instalação principal do jogo às consolas. Em 2016 vão sair dois jogos de Assassin’s Creed, mas são títulos menores.

Isto acontece depois de um sobe e desce na qualidade do jogo. Assassin’s Creed III foi criticado [2012], o Blag Flag [2013] trouxe uma lufada de ar fresco que perdeu-se por completo com Assassin’s Creed Unity [2014]. O jogo passado na Revolução Francesa trouxe tantos erros na fase de lançamento que foi notícia pelos piores motivos nos meios da especialidade.

No ano passado ainda saiu uma aventura coesa passada na Era Vitoriana, em Inglaterra, mas o mal já estava feito: desgastou-se demasiado a franquia e nem todos os títulos conseguiram manter o mesmo nível de qualidade.



Se Assassin’s Creed deixou de vender? Claro que não. Mas a Ubisoft – e bem – não fez ouvidos moucos a muitas das críticas que iam sendo publicadas nos sites de videojogos. Exatamente como o que tem acontecido com Call of Duty.

Isto não significa que a solução de Call of Duty tenha de ser a mesma. Pode até nem precisar de ser arranjada, pode apenas ter em conta a direção que alguns jogadores têm pedido.

Se os últimos jogos têm assumido um estilo mais futurista, há quem esteja desejoso que o jogo volte às origens e traga para as consolas de nova geração um first-person shooter diretamente ligado aos eventos da Segunda Guerra Mundial.

Como a Activision e os estúdios parceiros não têm atendido a estes pedidos já há quem esteja preparado para contra-atacar: a Electronic Arts através da franquia Battlefield, em conjunto com o estúdio DICE, promete estremecer a Internet na próxima sexta-feira quando apresentar o trailer para o seu novo jogo.

Uma afirmação arrojada da produtora sabendo que os jogadores estão cada vez mais exigentes com o que estúdios passam cá para fora. E com razão. No mundo comercial o cliente tem – quase – sempre razão.